09/12/08 10h39

Islâmicos têm US$ 80 bilhões para o mercado brasileiro

DCI - 09/12/2008

O mercado soberano islâmico tem potencial para investir cerca de US$ 80 bilhões em empresas brasileiras. Os aportes, segundo declarações da diretora da Área Internacional do Banco do Brasil, Ângela Martins, representam 10% dos aproximadamente US$ 900 bilhões que esses aplicadores têm para injetar em projetos. "Existem possibilidades para o curtíssimo prazo. Qualquer empresa brasileira que hoje já opere no exterior e tenha ativos fora do País pode fazer uma captação", comentou a executiva, em evento realizado ontem em São Paulo pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e pela BM&F Bovespa. Conforme Ângela, esse dinheiro pode chegar por meio dos sukuks - também conhecidos como eurobônus -, já que os papéis são os que mais se encaixam nos moldes da economia brasileira. A cifra de US$ 80 bilhões citada como investimento potencial é o valor que existe atualmente em negociação, desses títulos. Como a religião islâmica não permite que haja pagamento ou cobrança de juros, os papéis - que são emitidos por companhias brasileiras nos moldes de dívida - precisam passar por uma série de adequações, tanto no sistema de captação da empresa, quanto na legislação tributária brasileira. Dessa forma, deve ser criada uma SPV (sigla em inglês para Special Purpose Vehicle), que será responsável por gerir um tipo de ativo da empresa. "No caso da Petrobras, por exemplo, seria vendida à SPV uma plataforma e a própria estatal a alugaria depois para continuar suas operações, gerando uma remuneração. A SPV, portanto, emite os eurobônus e paga uma espécie de dividendo aos investidores", detalhou. Dessa forma, o negócio é feito sem que a religião tenha seus preceitos feridos. "O setor de alimentação, o agronegócio, é muito interessante para eles. Porque, por serem países que produzem petróleo e seus derivados, seria interessante estarem envolvidos com outros produtos, para ter uma atuação maior", explicou. Neste caso, contudo, companhias produtoras de bebida ou tabaco não conseguiriam levantar os recursos por contrariarem as leis religiosas. "Os ramos de hotelaria e o mercado imobiliário também são focos, porque estão em linha com as propostas de investimento deles e com as regras islâmicas", adicionou. O relacionamento com o Brasil, atualmente, é feito por meio de investimento estrangeiro direto (IED) e a necessidade de outras modalidades de parcerias ocorre pela própria demanda. Números apresentados no seminário mostram que o esforço vale a pena. Para se ter uma idéia, segundo dados apresentados pelo banco West LB, as emissões de sukuks em 2006 somaram US$ 597 milhões. No ano seguinte, o volume foi de US$ 19 bilhões, o que representa um avanço superior a 3.000%. No ano de 2008, foram US$ 13,4 bilhões, mostrando uma redução de quase 30%. "Esse mercado também foi afetado pela crise", comentou Therese Rabieh, diretora da instituição.