Iperó terá o maior centro de tecnologia nuclear em saúde
Reator Multipropósito que vai produzir radioisótopos para uso na medicina começa a ser construído em Aramar
Cruzeiro do SulO maior centro de tecnologia nuclear do Brasil será em Iperó, município da Região Metropolitana de Sorocaba. O primeiro passo com este fim foi dado, na manhã de ontem (24), com uma solenidade que marcou o início das obras de infraestrutura do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB) que contou, inclusive, com a presença da ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luciana Santos.
Acompanhada pelo presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Francisco Rondinelli Junior, bem como dos coordenadores técnicos do projeto, José Augusto Perrotta e Patricia Pagetti, ela soube que o RMB, assim que definitivamente implantado, tende a se consolidar como um marco de sustentabilidade, inovação científica e tecnológica e desenvolvimento de aplicações nucleares para a sociedade.
Com a implantação do Reator Multipropósito Brasileiro, o país avança na construção de uma infraestrutura nuclear de ponta, fortalecendo a autonomia, a segurança e o progresso tecnológico essencial para o seu desenvolvimento.
O RMB terá diversas finalidades, entre elas, a produção de radioisótopos para uso na medicina e na indústria; teste de materiais e combustíveis nucleares para reatores de potência; utilização de feixe de nêutrons para pesquisa científica e tecnológica em diferentes campos da ciência; análise por ativação neutrônica; produção de traçadores para aplicação em pesquisas na agricultura e meio ambiente; formação na área nuclear e treinamento de pessoal para operação e manutenção de reatores de potência.
O projeto do MCTI conta com a colaboração de diversas instituições, incluindo a Fundação Patria (Parque de Alta Tecnologia da Região de Iperó e Adjacências), Amazul, Intertechne, Walm, Tractebel e Schunck, além da Invap da Argentina.
Benefícios
Anualmente, no Brasil, são realizados cerca de 2 milhões de procedimentos médicos usando radiofármacos. Isso representa um terço das necessidades e ocasiona um gasto de milhões de dólares com a importação dos radioisótopos necessários para a produção dos radiofármacos.
Com o RMB, o país atingirá a autossuficiência no setor gerando uma significativa economia de divisas. Além disso, o excedente da produção poderá ser exportado, já que existem poucos reatores deste porte no mundo, enquanto a demanda por radioisótopos cresce continuamente. Assim, o Brasil poderá se tornar um centro de referência em medicina nuclear, atraindo investimentos das áreas de saúde, ensino e pesquisa.
Pesquisadores, estudantes e profissionais de diferentes áreas deverão buscar oportunidades de participar das atividades do RMB o que, naturalmente, promoverá a formação de uma geração de mão de obra especializada para a área nuclear.
O reator deve facilitar o desenvolvimento de radiofármacos, ampliando as possibilidades de tratamento de um maior número de doenças para uma quantidade maior de pessoas e a um custo cada vez menor.
Polo de desenvolvimento
O RMB será construído em Iperó, junto ao Centro Experimental de Aramar, onde já é desenvolvido o protótipo do submarino nuclear brasileiro. Somado a Aramar, o reator fará com que o município da região de Sorocaba se torne o maior polo de desenvolvimento de tecnologia nuclear do país.
Além do reator e toda a infraestrutura, futuramente, serão construídos em Aramar laboratórios para estudo de fusão nuclear, aceleradores de partículas, lasers de alta potência e ainda laboratórios para o desenvolvimento e produção de radiofármacos.
Função dos radiofármacos na medicina
Os radiofármacos possibilitam aos médicos verem o funcionamento de órgãos e tecidos vivos por meio de imagens como as tomografias, radiografias e cintilografias. Por isso, com a instalação do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB) em Aramar, Iperó, a saúde só tem a ganhar, em especial os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) que correspondem a apenas 30% da utilização nacional desses tipos de procedimentos.
A tecnologia está presente em diversas áreas médicas como a cardiologia, oncologia, hematologia e neurologia. Com ela, é possível realizar diagnósticos precisos de doenças e complicações como embolia pulmonar, infecções agudas, infarto do miocárdio, obstruções renais, demências.
É uma das melhores e mais eficientes maneiras de detectar o câncer, pois define o tipo e a extensão de um tumor no organismo, o que ajuda na decisão sobre qual o tratamento mais adequado para cada caso.
Entretanto, desde 2009, o Brasil vive com dificuldades de abastecimento do radioisótopo utilizado em cerca de 80% dos procedimentos adotados pela medicina nuclear, que é o 99mTc (isótopo tecnécio 99).
Esta dificuldade de abastecimento teve início quando o reator canadense responsável por 40% da produção mundial e por toda a demanda brasileira parou de funcionar. O Brasil diversificou os fornecedores, mas ficou evidente a dependência brasileira para suprir hospitais e clínicas com esse insumo básico para a realização de exames essenciais para os modernos tratamentos de saúde. (G.C.P.)