15/04/10 10h26

Ipea prevê expansão entre 5,5% e 6,5% em 2010 e inflação sob controle

Valor Econômico

A capacidade de recuperação da economia brasileira no ano passado foi superestimada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mas as projeções feitas pela instituição foram capazes de apontar a trajetória da retomada depois da fase mais aguda da crise financeira internacional. A análise faz parte da novidade trazida este ano pelo Ipea, que além de divulgar estimativas para crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), inflação e saldo de transações correntes para 2010, apontará explicações e justificativas para erros e acertos das previsões feitas no ano passado.

De acordo com o instituto, a expectativa era de um crescimento frente ao período imediatamente anterior já no primeiro trimestre do ano passado, o que não ocorreu principalmente pelos efeitos da crise sobre o setor industrial, com redução brutal na produção e venda dos estoques acumulados. Apesar de ter apontado uma expectativa de crescimento entre 0,2% e 1,2% para o PIB, que acabou recuando 0,2%, o Ipea ressalta o acerto na trajetória de recuperação e prevê para 2010 um avanço entre 5,5% e 6,5%. "A análise era correta ao dizer que as políticas aplicadas fariam a economia se recuperar rapidamente. Em 2010, deveremos ter um ano de 2008 completo, sem o último trimestre de queda", diz o diretor de estudos e políticas macroeconômicas do Ipea, João Sicsú.

A expectativa é que os mesmos fatores que impulsionavam o crescimento do país no período anterior à crise internacional continuem servindo de motor para o avanço em 2010. A tendência, segundo o Ipea, é de alta do consumo das famílias, sustentado pelo aumento do emprego, da renda e da expansão do crédito. Sicsú alerta ainda para a recuperação do investimento ao longo do ano, puxado pela redução da capacidade ociosa na indústria. O economista acredita em uma taxa de investimento entre 18% e 19% do PIB este ano, bem acima dos 16,7% do fim do ano passado, e vê espaço para que atinja até 23% do PIB em 2015.

O Ipea não enxerga grandes pressões inflacionárias para 2010 e prevê que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) feche o ano entre 4% e 5%, influenciado em parte pela menor pressão dos IGPs sobre os preços administrados. Sicsú considera sazonal a alta de 2,06% do IPCA no primeiro trimestre e lembra a forte pressão de itens como educação e transportes, que não se repetirão ao longo do ano, e alimentação, que tem sofrido com os efeitos do clima.

Uma nota pessimista está na balança de transações correntes, que, segundo o Ipea, deverá fechar 2010 com déficit entre US$ 55 bilhões e US$ 65 bilhões, acima da projeção de déficit feita pelo Banco Central, de US$ 49 bilhões. No ano passado, o instituto foi surpreendido com uma alta expressiva da remessa de lucros de multinacionais para o exterior, o que levou o déficit para US$ 24,3 bilhões, enquanto o intervalo esperado pelo Ipea era entre US$ 10,5 bilhões e US$ 17,5 bilhões. "O que nos surpreendeu no ano passado continua como tendência para 2010. O câmbio está favorável para as remessas, enquanto a crise financeira ainda não está resolvida no exterior, explica Sicsú.