23/07/18 11h41

Ipea estima aumento recorde de 15,1% para a produção industrial de junho

Valor Econômico

Passado o pior momento do efeito da greve dos caminhoneiros sobre a economia, a indústria conseguiu normalizar sua produção em junho, superando inclusive os níveis do período que antecedeu a paralisação. Estimativa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que a produção do setor cresceu 15,1% no mês em comparação a maio, após queda de 10,9% no mês anterior.

Segundo o indicador Ipea de Produção Industrial, que busca antecipar as estatísticas oficiais do setor medidas pela Pesquisa Mensal da Indústria (PIM), do IBGE, o avanço seria o mais intenso desde o índice da série histórica, iniciada em 2002. E sugere uma recuperação em "V" da produção industrial, liderada pelo setor de automóveis.

A greve dos caminhoneiros, iniciada em 21 de maio, durou 11 dias e provocou desabastecimento de matérias-primas nas fábricas do país, afetando a produção. Além disso, a indisponibilidade de transporte público para funcionários provocou a paralisação de algumas unidades fabris. Foi assim em praticamente todo o território brasileiro.

Leonardo Mello de Carvalho, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea, afirma que uma série de indicadores coincidentes e antecedentes sugerem que a indústria conseguiu se recuperar das perdas de maio, dissipando parte das preocupações sobre o impacto da greve sobre a atividade econômica. "O bom desempenho exibido em junho, frente a maio, foi bastante disseminado", diz o economista.

Dos indicadores disponíveis, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) divulgou que a produção de automóveis avançou 37,1% de maio para junho. Outro exemplo positivo foi o crescimento de 47% no fluxo de veículos pesados nas estradas, medido pela Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR).

Já a Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO) informou que o volume expedido de papelão ondulado cresceu 36,8% na comparação a maio, para 324,3 mil toneladas. Esse volume pela série com ajuste sazonal, realizada pela FGV, aponta para um crescimento de 34%.

"Claro que essas magnitudes de crescimento não se traduzem em igual intensidade na produção da indústria. Mas foi uma recuperação bem característica em V, com uma forte queda seguida forte alta. Foi, portanto, um choque bastante pontual", acrescentou Carvalho.

Na comparação a junho de 2017, a indústria também deve mostrar alta de 6,9%. O desempenho positivo também seria generalizado. Nos cálculos do Ipea, o destaque positivo por essa base de comparação foi, novamente, a produção de veículos, com expansão de 21,1%. Pela indicador acumulado em 12 meses, a produção de automóveis exibirá um forte avanço de 19,4% frente ao mesmo período anterior.

Mesmo confirmado o forte avanço pesquisa oficial do IBGE, a produção da indústria ainda vai exibir queda de 2% no segundo trimestre, na comparação ao primeiro, pela série com ajuste sazonal. Isso ocorre porque o desempenho trimestral é calculado comparando a média de cada trimestre, diz Carvalho.

Por outro lado, o desempenho de junho deverá produzir um carregamento estatístico favorável para o terceiro trimestre deste ano. Mesmo que a indústria permanece nos níveis de junho nos próximos três meses, o terceiro trimestre vai exibir um expressivo crescimento de 5,5%, de acordo com os cálculos do Ipea. Essa lógica se aplica para o ano. Mantido o atual nível, a produção crescerá 3,2% em 2018.

Dos impactos da greve, o que não se recupera tão facilmente é a confiança. De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a confiança dos empresários do setor até subiu 0,6 ponto em julho, mas longe de reverter a queda recorde 5,9 pontos de junho.