29/03/18 15h31

IoT é destaque entre temas de interesse das startups

Valor Econômico

Startups que desenvolvem soluções baseadas em internet das coisas (IoT) estão no radar de corporações e investidores. Segundo levantamento realizado pela plataforma de empreendedorismo 100 Open Startups com 3,6 mil aceleradoras, grandes empresas e investidores no Brasil, a IoT aparece em segundo lugar entre as cinco principais tendências de inovação mais desejadas pelo mercado de tecnologia, em uma lista de 43 categorias. Perde apenas para o setor de big data e surge antes de segmentos como modelos de negócios inovadores e serviços baseados em localização geográfica.

"Como o big data e a IoT integram o desenvolvimento de outras tendências, elas acabam se destacando como as mais desejadas e exploradas", analisa Bruno Rondani, CEO e fundador do 100 Open Startups. Em algumas empresas do setor, a expectativa é triplicar o volume de negócios em 2018.

É o caso da Nexer, de Belo Horizonte (MG), que desenvolveu um dispositivo baseado em IoT para o monitoramento de veículos. "O motorista pode rastrear o carro, detectar até 30 mil tipos de falhas mecânicas e controlar o gasto de combustível", explica o CEO Danilo Mattos. O recurso funciona via aplicativo de celular. Para aderir à facilidade, basta assinar o serviço no site da empresa. Depois, o motorista recebe um dispositivo eletrônico, que é conectado ao carro.

Criada há três anos, a Nexer tem mais de três mil clientes, em mais de 90 cidades de 16 Estados. "Alguns consumidores já conseguiram reduzir o gasto de combustível em até 20%."

A empresa faturou cerca de R$ 1 milhão em 2017 e a expectativa para 2018 é triplicar o faturamento. "Nos últimos dois anos, mapeamos os melhores canais de vendas para a distribuição do serviço e isso vai nos ajudar a dar esse salto."

Além da venda pelo site e em endereços eletrônicos de parceiros, Mattos também usa concessionárias para entregar a novidade, de fabricação 100% nacional. Custa R$ 599, com um ano de mensalidade grátis. No segundo ano, a mensalidade é de R$ 14,90.

A Nexer foi uma das vencedoras da final brasileira do SmartCamp 2015, evento da IBM focado em startups, e passou por aceleradoras como a brasileira Startup Farm e a espanhola MundiLab.

Na pernambucana Senfio, a oferta em IoT é monitorar temperatura e umidade por meio de termômetros que usam redes wi-fi. "Evitamos perda de medicamentos, vacinas e bolsas de sangue, com o controle de freezers e ambientes", diz o CEO Elyr Teixeira.

Os dispositivos instalados nos clientes enviam as medições para a plataforma da empresa. Ao sinal de qualquer alteração, o sistema envia alertas por e-mail e SMS.

Teixeira decidiu investir na área quando fazia mestrado na Coppe/UFRJ. "Durante o trabalho como engenheiro clínico em hospitais no Rio, vi que vários aparelhos de controle de temperatura eram importados." Hoje, a Senfio tem 26 clientes, nos setores de saúde, varejo, alimentos e telecomunicações.

Um dos contratos é com a fabricante chinesa de equipamentos de telecomunicações Huawei. "Eles precisam saber a temperatura de aparelhos localizados em postes", diz. "Como o nosso produto não tem fios, fomos homologados para instalar termômetros nas estruturas e prover dados diretamente para a matriz, na China."

Outro cliente da empresa, o Instituto Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti (Hemorio), no Rio de Janeiro, usa mais de 50 termômetros da marca para controlar a temperatura de bolsas de sangue armazenadas em nove unidades no Estado.

Segundo Teixeira, a SenFio faturou R$ 143 mil em 2017 e espera atingir R$ 250 mil, este ano. "Estamos com pedidos em espera. Em poucos meses, vamos dobrar a capacidade de produção."

No ano passado, a companhia foi uma das dez vencedoras do prêmio Tecnologia de Impacto-Novas Soluções Wireless IoT 2017, patrocinado pela Qualcomm, com mais de 200 inscritos. A premiação destacou inventores de tecnologias nacionais que possam impulsionar o desenvolvimento do ecossistema de IoT.

Para Valter Pieracciani, sócio da consultoria Pieracciani Desenvolvimento de Empresas, as startups de IoT, que precisam driblar a dificuldade de vender produtos em uma área pouco conhecida, devem apresentar projetos fáceis de entender e endereçados a problemas concretos. "É muito mais fácil explicar a solução de um problema do que a tecnologia que está por trás dela", diz. "A dica é fugir dos tecnicismos, e apresentar as ideias de forma simples."