08/06/11 11h30

Investimentos: o motor do Brasil

Valor Econômico

Há boas razões para acreditar que o investimento, item que liderou a alta do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre do ano, será o motor da economia brasileira nos próximos anos. Os números são impressionantes. O BNDES estima que, entre este ano e 2014, os setores industrial, de infraestrutura e de construção civil investirão R$ 1,6 trilhão (US$ 1 trilhão), 62,2% a mais do que no período 2006-2009. Pouquíssimas economias têm, neste momento, perspectiva de inversão comparável à do Brasil.

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, atribui a cinco fatores autônomos essa forte demanda por investimentos. O primeiro está no setor de petróleo e gás, movido pelas descobertas na camada do pré-sal. O setor tem investimento programado de R$ 378 bilhões (US$ 236,3 bilhões) entre 2011 e 2014. Deve responder, já este ano, por 14,1% da Formação Bruta de Capital Fixo. O segundo fator está no setor de energia elétrica, que deve aplicar R$ 139 bilhões (US$ 86,9 bilhões) nos próximos quatro anos. Até 2013, o país deve aumentar a capacidade de geração em 24.066 Megawatts, com destaque para a inauguração das usinas de Santo Antônio e Jirau, em Rondônia. Entre 2014 e 2019, a capacidade terá novo incremento, de 32.406 MW, com a entrada em funcionamento de Belo Monte e Tapajós.

O terceiro fator está no agronegócio, "sustentáculo da balança comercial", observa o presidente do BNDES, e de "inigualável" capacidade de competir internacionalmente. De fato, com o acelerado processo de urbanização de potências emergentes como China e Índia, que juntas têm mais de dois bilhões de habitantes, o mercado de produtos agropecuários vive momento histórico de forte expansão, uma excelente notícia para os produtores brasileiros. Um outro componente relevante dos investimentos está no setor habitacional. E aqui, assinala Luciano Coutinho, "há uma avenida de crescimento". Os ativos de crédito imobiliário representam ainda uma proporção muito pequena do PIB brasileiro - 3,8%, no caso das pessoas físicas.

Por fim, está o setor de logística, onde a demanda por investimento é gigantesca, mas os gargalos são igualmente enormes. "Há uma compreensão clara do governo de que o Brasil tem deficiências logísticas sérias. Temos bela infraestrutura de telecomunicação e financeira, mas não temos ainda uma de logística", reconhece o presidente do BNDES.

Às necessidades de investimento, o presidente do BNDES acrescenta um outro desafio, que é o de criar condições para aumentar a competitividade da indústria de transformação. "O Brasil é uma grande economia urbana e não pode abrir mão de ter um setor de serviços sofisticado, que gere muitos empregos, e de ter uma indústria manufatureira competitiva. Temos aqui um desafio muito grande que é o de aumentar consistentemente a produtividade do país", diz Coutinho.

O volume de investimento previsto, além do apoio à indústria, impõe ao país o desafio de aumentar as taxas de investimento e de poupança doméstica, ainda muito acanhadas para as ambições da economia brasileira. Hoje, o investimento está em 18,4% do PIB. Já a taxa de poupança, em apenas 15,8% do PIB. O presidente do BNDES acredita que as inversões programadas devem elevar o investimento para 23% do PIB em 2014, fato que, acompanhado de ganhos de produtividade firmes, sustentaria um crescimento da economia em torno de 5% ao ano.