02/03/18 11h34

Investimento melhora perspectiva para 2018

Valor Econômico

A consolidação da retomada do investimento foi a melhor notícia do resultado do PIB nos três últimos meses de 2017. Medida do que se investe em máquinas e equipamentos, construção civil e inovação, a formação bruta de capital fixo (FBCF) cresceu 2% sobre o trimestre anterior, feito o ajuste sazonal. Foi a terceira alta consecutiva nessa base de comparação, um avanço mais forte que o 0,4% e o 1,8% registrados no segundo e terceiro trimestres do ano passado.

Na média de 2017, contudo, a FBCF fechou em queda de 1,8%, encolhendo pelo quarto ano seguido. A taxa de investimento caiu para de 16,1% do PIB em 2016 para 15,7% do PIB no ano passado, o nível mais baixo da série histórica iniciada em 2000. Em 2013, a taxa era de 20,9% do PIB.

A recuperação ocorrida nos últimos trimestres deve continuar neste ano, com as perspectivas mais favoráveis para a demanda e com as empresas menos endividadas, num ambiente de juros mais baixos. A elevada ociosidade na economia e as incertezas em relação ao quadro eleitoral, no entanto, jogam contra planos mais ambiciosos de ampliação da capacidade produtiva. Os mais otimistas, como a MB Associados, veem uma alta de 7,7% do investimento em 2018, o que ajuda a explicar a aposta numa expansão do PIB de 3,5%. A LCA Consultores, um pouco mais cautelosa, projeta crescimento de 3,8% da formação bruta de capital fixo, estimando um avanço do PIB de 2,8%.

A terceira alta trimestral seguida do investimento é sem dúvida algo positivo, mas ocorre sobre "uma base extremamente deprimida", como lembrou Alberto Ramos, diretor de pesquisa para a América Latina do Goldman Sachs. Entre o quarto trimestre de 2013 e o primeiro trimestre de 2017, a FBCF acumulou uma queda de quase 30%. Segundo ele, o encolhimento do estoque de capital da economia afeta o crescimento da produtividade, reduz o PIB potencial e pode prejudicar a recuperação da atividade.

Embora tenha ressaltado que a retomada da formação bruta se dá em cima dessa "base paupérrima", o economista-chefe da corretora Tullett Prebon, Fernando Montero, considera essa trajetória um fato "bastante alentador". Ele observou que a trajetória da FBCF deixou uma herança estatística de 2,5% para 2018. Isso significa que, mesmo se o investimento se mantiver no nível registrado no fim de 2017, haverá uma expansão de 2,5% neste ano.

Em 2017, a construção continuou a puxar a formação bruta de capital fixo para baixo. Com peso de mais de 52% no investimento, ela recuou 5,6% no ano passado, segundo o IBGE. tendo recuado 5,6%. Já o consumo de máquinas e equipamentos subiu 3%. No quarto trimestre, a construção civil ficou estável, depois de ter subido 0,2% no terceiro. O setor parece de fato ter deixado o pior momento para trás.

"Obviamente, nessa saída de recessão, ninguém vai ampliar fábrica, mas uma empresa que ficou quatro anos sem trocar máquinas, numa volta ao crescimento precisa começar a pensar na troca de maquinário", afirmou Sergio Vale, economista-chefe da MB. Segundo ele, esse movimento já é evidente desde o fim de 2016 nas máquinas e equipamentos e agora a construção começa a apresentar quedas cada vez menores em relação ao mesmo trimestre do ano anterior.

"Começamos a ver um início de recuperação na construção residencial principalmente. É um setor que depende de confiança e da utilização da capacidade ociosa ficar mais intensa, o que estamos começando a ver acontecer mais intensamente em 2018", disse Vale.

Coordenadora de contas nacionais do IBGE, Rebeca Palis notou que a taxa de investimento ficou em 15,7% do PIB no quarto trimestre de 2017, maior do que a de 15,3% observada no quarto trimestre de 2016. "Até o terceiro trimestre do ano passado, tínhamos quedas nos investimentos, ante igual trimestre do ano anterior. Agora, estamos mostrando crescimento", afirmou a especialista. Na média do ano, contudo, a taxa ficou inferior à média de 2016.

A taxa de poupança, por sua vz, subiu de 13,9% do PIB em 2017 para 14,8% do PIB em 2018, revertendo uma série de três anos seguidos de queda expressiva. Em 2013, estava em 18,3% do PIB. Para Armando Castelar, coordenador de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), a melhor parece se dever a um aumento da poupança das famílias, das empresas e também do governo. O tombo da poupança de 2014 a 2016 se deveu basicamente à forte piora da situação fiscal, que derrubou a poupança do setor público.

Castelar disse que, em 2017, a massa salarial real (descontada a inflação) aumentou 2,3%, enquanto o consumo subiu apenas 1%. Além disso, ele destaca que outros itens importantes do rendimento das famílias, como as transferências da Previdência e o Bolsa Família, devem ter crescido bem no ano passado. "Assim, a renda subiu mais que o consumo, levando a alta da poupança" das famílias, disse Castelar. Para ele, também houve aumento da poupança das empresas. "O setor empresarial foi bem, o que deve ter elevado o lucro e a sua poupança."

Por fim, também parece ter havido uma melhora da poupança do setor público. "O consumo do governo caiu 0,6% [em 2017] e a receita, pelo menos do governo central, subiu, saindo de 21% para 21,1% do PIB." Além disso, houve uma diminuição de 0,8% do PIB do déficit primário, de 2,49% para 1,69% do PIB, nota Castelar, referindo-se, nesse caso, ao setor público consolidado, que reúne a diferença entre receitas e despesas não financeiras da União, Estados, municípios e estatais, com exceção da Petrobras e da Eletrobras.

"Esse 0,8% do PIB parece uma queda muito grande para ser só redução do investimento, de forma que também a poupança pública deve ter subido."