23/05/11 09h52

Investimento cresce mais e dá qualidade ao PIB do 1º tri

Valor Econômico

O investimento voltou a puxar a atividade econômica no primeiro trimestre, revertendo a composição menos saudável registrada no trimestre anterior, quando o consumo das famílias tinha avançado a um ritmo bem superior ao da formação bruta de capital fixo (FBCF). De nove analistas consultados pelo Valor, seis apostam numa expansão mais forte do investimento, amparado no crescimento expressivo do consumo doméstico de máquinas e equipamentos e em uma alta um pouco mais moderada da construção civil.

As projeções mais positivas apontam para um crescimento de 3,5% a 4% no primeiro trimestre para o investimento em relação ao trimestre anterior, feito o ajuste sazonal, ritmo bem mais forte que o 0,7% do quarto trimestre de 2010 em relação ao terceiro, na mesma série. Há, porém, estimativas mais cautelosas, indicando um aumento da formação bruta inferior a 1%. Redução do crédito para empresas e retração no investimento público são os argumentos dos economistas que não esperam alta expressiva no primeiro trimestre.

Para o consumo das famílias, as projeções oscilam entre 0,4% e 2%. Nas contas do resultado do conjunto do PIB no primeiro trimestre, contudo, há menos divergência, e a expectativa generalizada é de uma aceleração em relação ao 0,7% do quarto trimestre sobre o terceiro (com ajuste), com as previsões variando entre 1% e 1,5%. Os números oficiais serão divulgados pelo IBGE em 3 de junho.

O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, é um dos que estimam uma alta muito expressiva do investimento no primeiro trimestre, apostando em expansão de 3,5% em relação ao trimestre anterior, feito o ajuste sazonal. O número forte se deve principalmente ao crescimento de 7,2% do consumo aparente de máquinas e equipamentos (a soma da produção e importação, excluindo a exportação desses produtos), diz ele, que projeta alta de 2,1% para a construção. A oportunidade de comprar uma máquina mais barata no exterior, dada pela valorização do real, também é ressaltada na análise do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas, que espera um investimento 2,7% mais forte no primeiro trimestre em relação ao fim de 2010, na série com ajuste.

Embora espere uma alta forte do investimento, o coordenador do Boletim Macro do Ibre, Regis Bonelli, destaca o caráter volátil da formação bruta de capital fixo, que oscila bastante. Nas contas do Ibre, no primeiro trimestre, o consumo das famílias vai crescer 1,4% (quase 50% abaixo do investimento), uma perda de fôlego influenciada pela base de comparação mais forte do quarto trimestre e pela redução do ritmo de vendas de veículos, diz Bonelli. Um investimento que avança mais que o consumo confere mais qualidade ao crescimento, uma vez que aponta para o aumento da capacidade de produção da economia. A questão, diz Bonelli, é que, antes de ampliar a oferta, o investimento alimenta a demanda, que já se encontra aquecida, num cenário de inflação pressionada.

O Bradesco também espera expansão de 3,5% para o investimento no primeiro trimestre, atribuindo a força da formação bruta de capital fixo a uma possível antecipação de projetos. O economista-chefe do HSBC, André Loes, calcula que o avanço dos investimentos no primeiro trimestre, na comparação com igual período de 2010, foi de vigorosos 15,7%. O resultado é ainda mais expressivo, avalia Loes, "se levarmos em conta que o primeiro trimestre do ano passado foi muito forte em investimentos, devido à redução de impostos para a indústria e o clima de entusiasmo no país". Na mesma comparação, o HSBC estima em 5,8% o avanço do consumo das famílias. É de Loes uma das estimativas mais otimistas sobre o avanço do PIB no primeiro trimestre deste ano, de 1,5% em relação ao quarto, com o ajuste sazonal. No ano, o HSBC projeta a alta do PIB em 4,7%, com consumo das famílias crescendo um ponto percentual além do PIB, e os investimentos 11%.

No grupo dos pessimistas com o investimento, Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, projeta alta de 0,8% no primeiro trimestre, abaixo do 1% esperado para o consumo das famílias. Nas contas da consultoria, a construção civil cresceu 1,4%, o consumo de bens de capital, 4,5%, mas o estoque de crédito para empresas, que ela inclui no modelo, recuou 0,3%, sempre na série com ajuste sazonal. Além dos citados, o Valor consultou o Santander - que estima em 0,4% a alta dos investimentos e em 1,2% a do consumo das famílias - e a LCA Consultores.