Invenções contam com parcerias para chegar ao mercado
Valor EconômicoUm ventilador pulmonar portátil que pode ser usado em ambulâncias, um sistema que monitora se profissionais de saúde estão higienizando as mãos em ambientes hospitalares e um hambúrguer feito com fibras de abacaxi. Essas são algumas criações de inventores brasileiros, em diferentes estágios de desenvolvimento comercial, que demoraram até quatro anos para virarem produtos de verdade.
Segundo os pesquisadores, a troca de experiências e o apoio de universidades, aceleradoras de negócios e empresas foram decisivos para deslanchar os projetos.
Ex-lavrador, o engenheiro biomédico Tatsuo Suzuki fundou a Magnamed em 2005 para desenvolver produtos hospitalares de alta tecnologia. O carro-chefe da marca é um ventilador pulmonar portátil, que pode ser usado em ambulâncias, aeronaves e setores de emergência de hospitais. O equipamento que pesa três quilos já foi vendido para 40 países na Ásia, Oriente Médio e América Latina. Vem com uma tela touch screen que ajusta o mecanismo de acordo com o tamanho do paciente e um sistema de diagnóstico via internet para facilitar a assistência técnica.
"Levamos cerca de quatro anos para desenvolver e finalizar o produto", diz Suzuki, que depositou o pedido de patente no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) em 2010. A exportação começou no ano seguinte, antes mesmo de começar a vender o produto no Brasil, devido à demora do registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), lembra ele.
"A ideia é solucionar a falta de opções de ventilação para o transporte de pacientes de unidades de terapia intensiva (UTIs) ou entre diferentes instituições de saúde", diz. "Alguns hospitais levam o paciente com o próprio equipamento da UTI para manter o padrão de respiração".
Com matriz em São Paulo e fábrica em Cotia (SP), a Magnamed tem capacidade para entregar 200 unidades ao mês. A previsão de Suzuki é que a produção aumente 30% em 2017. Em 2015, o faturamento bruto da companhia foi de R$ 20 milhões, um crescimento de 42% ante 2014. Segundo o empresário, a marca tem de 2% a 3% do mercado de ventiladores de UTI. "Vamos lançar outros produtos para tratamento intensivo, mas não podemos falar desses projetos ainda", afirma Suzuki. Recentemente, a empresa passou a investir em parcerias de pesquisa e desenvolvimento de produtos com universidades e o setor de saúde. Fazem parte da lista a Universidade Federal de São Paulo, o Hospital das Clínicas e o Hospital Israelita Albert Einstein.
Antes de inventar o ventilador médico, Suzuki desenvolveu ferramentas para auxiliar o pai dele, que trabalhava com agricultura. Fez um equipamento para proteger frutas e criou ferramentas para limpar galinheiros. Na área da saúde, trabalhou no Instituto do Coração (Incor) e na Takaoka, fabricante nacional de equipamentos médicos.
A área hospitalar também chamou a atenção do engenheiro eletrônico Elyr Teixeira, CEO da carioca Senfio. Ele inventou um sistema de monitoramento que usa crachás inteligentes que identificam os profissionais de saúde que higienizam as mãos. Quando um dispenser de limpeza de mãos é acionado, uma comunicação via bluetooth informa que a higienização foi feita. A intenção é reduzir a incidência de infecções hospitalares.
Segundo Teixeira, a solução demorou dois anos para sair do papel e foi patenteada em 2014. "Patentear não é difícil. Difícil é colocar o produto no mercado", diz. As vendas começaram há cerca de um ano. Dependendo da quantidade de dispositivos adquiridos, custa de R$ 10 mil a R$ 50 mil, ao mês. O público-alvo são departamentos de controle de infecção hospitalar, em unidades de médio e grande porte.
A capacidade de produção da marca é de dez unidades ao mês, mas o empresário não faz projeções de entrega para os próximos anos. "É difícil fazer uma estimativa, ainda mais de um produto inovador". A empresa, acelerada pela Artemísia, organização que apoia negócios de impacto social, faturou R$ 65 mil em 2015 e planeja chegar a R$ 110 mil de faturamento, até dezembro.
O plano para 2017 é expandir as vendas em São Paulo. Enquanto isso, Teixeira acaba de lançar a terceira versão de uma plataforma de software e hardware que monitora a temperatura e a umidade de ambientes, geladeiras e freezers. "Estamos abertos a novas parcerias e conversas com investidores", diz.
Mesmo quem não está interessado em transformar invenções em operações comerciais não deixa de criar novidades. É o caso da professora universitária e cientista de alimentos Miriam Mabel Selani, que desenvolveu um hambúrguer bovino, com fibra de abacaxi, durante mestrado na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), em Piracicaba (SP). "Quis agregar valor à fruta, rica em fibras, utilizando-a como um ingrediente alimentício", explica.
Em relação aos benefícios nutricionais, quando comparado a um similar com teor de gordura convencional, o alimento apresentou redução de calorias e do teor de colesterol, segundo Selani. A especialista gastou quatro anos para concluir o produto e não pretende solicitar patente. "Para torná-lo comercial, é preciso realizar mais estudos".