Inovação em saúde ganha reforço em polo na USP
Valor EconômicoO interior paulista abriga um dos principais polos de tecnologia da saúde do Brasil. Formado por um arranjo produtivo que engloba 150 empresas - nos segmentos de equipamentos médicos, hospitalares e odontológicos, biotecnologia, fármacos, cosméticos e saúde animal -, o polo recebeu importante reforço com a inauguração, em março, do Supera Parque de Inovação e Tecnologia, instalado no campus da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto. "A iniciativa privilegia o desenvolvimento tecnológico e a transferência de conhecimento para o setor produtivo", afirma Marco Antonio Zago, reitor da universidade.
O empreendimento é resultado de parceria entre a Fundação Instituto Polo Avançado de Saúde (Fipase), a USP, a Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto e a Secretaria de Desenvolvimento do Estado de São Paulo. O objetivo do projeto é criar um ambiente mais propício para a inovação na região e impulsionar o desenvolvimento científico e tecnológico. Entre as metas está a de atrair empresas que realizam pesquisa e desenvolvimento e investem constantemente em produtos inovadores nas áreas do complexo industrial da saúde, biotecnologia, tecnologia da informação e bioenergia.
O polo de inovação exerce importância para o segmento de pequenas e médias empresas de base tecnológica, por oferecer serviços e apoio para o desenvolvimento de projetos. Influi ainda no desenvolvimento regional, canalizando oportunidades em setores que servirão de apoio às empresas instaladas no parque.
Negócios nas áreas de construção, prestação de serviços corporativos e alimentação têm chances de crescimento no entorno do projeto, que tem área de aproximadamente 300 mil metros quadrados, consumirá investimentos de mais de R$ 30 milhões e vai abrigar um parque industrial. "A fase que vamos iniciar agora, de urbanização dos lotes para instalação de indústrias, receberá aportes de R$ 12,1 milhões do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI)", afirma Eduardo Cicconi, gerente do Supera Parque.
Para os negócios de base tecnológica de pequeno porte, o reforço na infraestrutura da incubadora Supera é a boa notícia. A instituição já conta com 32 empresas, sendo nove empreendimentos em pré-residência, 20 em residência e três associados. Além de infraestrutura, a incubadora oferece consultorias gerenciais, capacitação, rede de contatos e facilita a participação das empresas em eventos nacionais e internacionais. Os dois novos prédios do parque permitirão a ampliação dos serviços, como os providos pelo centro tecnológico. "Realizaremos testes e certificações de equipamentos", exemplifica Cicconi.
O parque tecnológico de Ribeirão Preto representa um apoio importante na produção nacional de equipamentos para a saúde e biotecnologia, setores estratégicos e com mercado ainda pequeno no país. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (Abimo), 61% dos insumos utilizados do segmento são importados. "Ainda somos um mercado pequeno, de US$ 5 bilhões. Por isso, é importante ampliar a competitividade e a capacidade de inovação para as empresas brasileiras", afirma Paulo Henrique Fraccaro, presidente-executivo da instituição. O setor também é marcado pelo desempenho das empresas de menor porte, que dominam a fabricação brasileira de equipamentos e insumos.
Entre os negócios que buscam maior mercado pela via da inovação está a FigLabs Pesquisa e Desenvolvimento, empresa graduada pela incubadora de Ribeirão Preto. A empresa estuda técnicas avançadas para utilização no segmento de diagnóstico por imagem. Entre elas, a vibromagnetoacustografia - método que permite o uso da ultrassonografia em exames como os do trato digestivo. "Com o uso da técnica, conseguimos evitar exames invasivos, a exemplo da endoscopia. O paciente toma medicamento com nano partículas magnéticas - que serão eliminadas pelo organismo - e o aparelho de ultrassom torna-se capaz de identificar doenças", explica Thiago Almeida, diretor-comercial da empresa.
Segundo Almeida, o portfólio de pesquisas atraiu a Gnatus - uma das maiores empresas brasileiras no ramo de equipamentos odontológicos -, que adquiriu 51% da FigLabs. "Somos o braço da área médica da companhia. Ganhamos escala e a nossa sócia um novo ramo para explorar."
Além da área médica, a incubadora Supera abriga negócios como o de Florivaldo Galina, sócio da BR Process, especializada em tecnologia de processos industriais para o segmento de óleos vegetais e derivados. Com larga experiência de mercado, conquistada pela vivência em plantas industriais de multinacionais, Galina uniu-se a dois empreendedores para fundar uma empresa capaz de estudar e buscar processos inovadores para indústrias como as de biodiesel, óleo e vegetais e oleoquímica. "Nosso trabalho consiste em encontrar meios de fabricação mais eficientes e sustentáveis, indicando as tecnologias mais adequadas para cada cliente", explica Galina.
A maior inovação da BR Process está no modelo de negócios: a empresa assume o risco junto com o cliente. "Nossa remuneração é parte do resultado alcançado. Se nosso trabalho não der resultado, não recebemos", explica. Segundo ele, essa abordagem tem facilitado o contato com as indústrias e deixa claro que eles não trabalham com consultoria tradicional. "Temos de nos envolver com os processos, buscar soluções que funcionem de fato e caibam no orçamento, participando da inovação em todos os momentos."