12/11/15 14h48

Inovação aberta aproxima grande empresa e startup

Em uma ponta, pequenas buscam apoio para desenvolver projetos; na outra, conglomerados procuram agilidade difícil de garantir com estrutura pesada

DCI

Obter recursos e apoio para a gestão é o maior desafio de empresas nascentes de tecnologia, quase oposto ao encarado pelas grandes, de como inovar com tanta agilidade quanto as pequenas. Essa necessidade dupla explica a crescente aproximação entre gigantes e startups.

Companhias já consolidadas desenvolvem parcerias e até programas próprios para captar empresas iniciantes. Acompanhar as ideias inovadoras que pipocam em aceleradoras e incubadoras é uma atividade recente no Brasil. "De uns dois anos para cá, as empresas vêm nos procurando mais", diz Sérgio Risola, presidente do Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), entidade gestora da incubadora de empresas da Universidade de São Paulo (USP). "Neste ano, o crescimento está bastante acentuado", completa.

Risola cita dezenas de companhias que buscaram o Cietec, desde multinacionais como Mercedes¬ Benz e Samsung até empresas nacionais de setores variados, como a fabricante de cosméticos Natura, o Hospital Israelita Albert Einstein e o grupo CCR, de infraestrutura. Para ele, o momento ruim da economia contribui para o interesse. O fato de as médias e, principalmente, as grandes precisarem seguir inovando, mesmo com corte de gastos que também atinge a área de inovação, torna essa aproximação mais necessária.

Risola diz que as grandes têm departamentos próprios de pesquisa e desenvolvimento que, em geral, trabalham no conceito de inovação fechada: atuam em projetos pensados e conduzidos internamente, para aplicação no próprio negócio. A inovação aberta supõe a colaboração de agentes internos e externos para buscar o melhor resultado possível.

Em busca de conexões

Um exemplo desse movimento é o programa InovaBRA, do Bradesco. Na segunda edição, lançada em outubro, serão selecionadas até dez empresas que proponham soluções para problemas ou processos do banco que possam ser melhorados e não só nas atividades bancárias. Na primeira edição, 553 startups inscreveram¬se e oito chegaram à fase final. 

O gerente do departamento de Inovação do Bradesco, Fernando Freitas, afirma que é um programa fundamental para o banco seguir atualizado. "As grandes empresas têm uma estruturação muito forte para inovação fechada, mas isso não é suficiente para se manter competitivo", diz.

As finalistas recebem aportes para colocar as soluções em prática. E também podem oferecer serviços para outras empresas. "Eles podem ter outros parceiros, não é exclusivo", diz Freitas. A média de investimento nas finalistas da primeira edição foi de R$ 115 mil.

No InovaBRA que teve início no ano passado, foram selecionadas oito startups, que hoje prestam algum serviço para a instituição. Nem todas oferecem soluções ligadas à atividade bancária.

O Qranio, por exemplo, usa a gamificação para aprimorar o treinamento dos funcionários do banco. O aplicativo oferece um jogo de perguntas e respostas, disponível somente para smartphones e tablets.

O fundador, Samir Iásbeck, conta que desenvolveu versões próprias para o Bradesco. "Criamos categorias exclusivas, como mundo bancário e segurança de trabalho", diz. O Qranio está em fase de testes com cerca de cem mil colaboradores do Bradesco. A startup presta para a rede de fast food Bob's um serviço semelhante.
A paulista Quero Quitar propõe resolver a inadimplência tornando a renegociação de dívidas um processo mais fácil e amigável. "Ao invés de o atendente ligar para cobrar o cliente, convidamos o cliente a vir à plataforma, que é neutra, e não falamos na negativação do nome", conta o fundador da startup, Marc Lahoud.

A plataforma está em testes com uma carteira de clientes fornecida pelo banco. E Lahoud diz estar negociando com mais cinco empresas.