17/08/18 12h01

Inova Sindipeças quer aproximar indústria do ecossistema de inovação

Programa poderá acessar R$ 500 milhões em fundos de pesquisa pelas regras do Rota 2030

Automotive Business

GIOVANNA RIATO
“Não podemos andar devagar quando o assunto é urgente.” A frase de Dan Ioschpe, presidente do Sindipeças, entidade que reúne a cadeia produtiva de autopeças, resume as intenções do Inova Sindipeças. A organização acaba de dar a largada no programa que pretende acelerar a capacidade desta indústria de se reinventar e, assim, elevar sua competitividade e a inserção destas empresas nas cadeias produtivas globais. “Se não caminharmos, muitas companhias só vão perceber que ficaram para trás quando estiverem fora do mercado”, diz o executivo.
A iniciativa foi lançada na quarta-feira, 16, com direito a um evento para discutir meios para obter financiamento público à inovação e a pitch de startups – apresentações rápidas de negócios que podem ter convergência com as empresas de autopeças. Pioneiro para uma entidade do setor, o programa pretende levar a inovação para além da engenharia, pesquisa e desenvolvimento, oferecendo abordagem mais ampla, como algo essencial para a sobrevivência dos negócios.
“Queremos criar um ecossistema para a indústria, apoiando empresas tradicionais para que elas se aproximem das megatendências globais”, diz Ioschpe.
Para cumprir objetivos tão ambiciosos, o programa vai atuar em cinco frentes:
- Parceria com startups: ao lado da aceleradora Liga Ventures, o Inova Sindipeças vai construir a ponte entre as fabricantes de autopeças e o universo dos jovens negócios de rápido crescimento;
- Inovação em produtos e serviços: apoio para que empresas por meio de acesso a linhas de financiamento da Finep e da Embrapii;
- Gestão da inovação: objetivo é estimular o espírito de reinvenção como parte do DNA das empresas, por meio do Instituto Sindipeças;
- Aproximação da academia: a entidade já organiza uma série de visitas a universidades com o objetivo de estreitar as relações;
- Indústria 4.0 e digitalização: nesta frente, o programa pretende impulsionar a evolução da manufatura e das fábricas.

QUEM VAI PAGAR A CONTA DA INOVAÇÃO?
Para de fato criar um ecossistema de inovação em torno da indústria de autopeças será preciso colocar a mão no bolso e investir. O programa do Sindipeças se propõe a ajudar as empresas nessa área também. “Há boas linhas de financiamento, mas nem sempre as indústrias sabem, na prática, como obter estes recursos. Nós vamos encurtar este caminho”, conta Maurício Muramoto, conselheiro da entidade e líder do programa, citando linhas da Embrapii e da Finep que nem sempre são fáceis de acessar. Segundo ele, a ideia é receber as empresas, entender os objetivos de inovação e, a partir disso, oferecer direcionamento sobre qual é o melhor caminho para obter os recursos.
Há, no entanto, outra possibilidade que o Sindipeças ainda não destaca: obter recursos a partir das regras do Rota 2030. Pelo novo conjunto de regras para o setor automotivo, as montadoras deixarão de pagar imposto de 2% para importar autopeças que não têm produção nacional, no regime atualmente chamado de ex-tarifário. Como contrapartida, as fabricantes de veículos precisarão aplicar montante equivalente em fundos de pesquisa voltados ao setor automotivo. Neste formato o projeto tem potencial efetivo de dar novo fôlego à cadeia automotiva, principalmente se os investimentos forem usufruídos dentro do Inova Sindipeças.
Segundo apurou o jornal Valor Econômico, os aportes podem somar R$ 500 milhões em fundos de pesquisa já em 2018, saltando para R$ 565 milhões em 2019, com potencial para chegar a R$ 576 milhões em 2020. Fora isso, montadoras e fabricantes de autopeças poderão abater R$ 500 milhões em Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido este ano por investirem em pesquisa e desenvolvimento, montante que salta para R$ 1,048 bilhão em 2019 e para R$ 1,070 bilhão em 2020.

BENEFÍCIO ÀS PEQUENAS E MÉDIAS
Segundo Ioschpe, inovação é preocupação até dos mais distantes elos da cadeia de autopeças. “Vimos isso no evento de lançamento do Inova Sindipeças. Houve muito interesse das empresas. Não há quem não tenha isso como assunto com seus clientes e parceiros. É algo essencial”, diz. Segundo ele, parte das grandes indústrias de autopeças, as multinacionais, já têm iniciativas próprias relevantes de inovação. Por isso, o programa deverá impactar as pequenas e médias empresas.
“Há potencial para inovar nos mais diversos processos: manufatora, área administrativa, logística ou comercialização. É um tema extremamente abrangente, com inúmeras possibilidades geradas por tecnologias como inteligência artificial e análise de dados”, diz Ioschpe.
Ele acredita que o papel do Inova Sindipeças é iluminar estas possibilidades para que as organizações do setor percebam e invistam no grande potencial que mora ali. Muramoto concorda. “Inovação é um estado de espírito, algo que precisa estar intrínseco a todos os funcionários da empresa, do chão de fábrica à presidência”, defende. Segundo ele, é possível reinventar e melhorar os mais simples processos. O executivo recomenda ainda adotar a mentalidade de errar rápido, com teste, aprendizado e, se for o caso, correção. “Essa dinâmica de só planejar não funciona mais. A progressão precisa ganhar velocidade.” É justamente com este ritmo que a entidade espera ampliar o programa de agora em diante, escalando seu impacto, bem no espírito das startups.