Infraestrutura ganha peso em novas rotas
Valor EconômicoA demanda atual e potencial que uma região pode gerar em transporte aéreo segue determinando como as companhias de aviação locais e estrangeiras escolhem os aeroportos para novas rotas ou frequências, mas infraestrutura começa a compor a agenda, dizem executivos do setor.
"A demanda e o potencial econômico de expansão nessa região são os primeiros fatores que levamos em conta", diz o diretor da Air France-KLM no Brasil e Cone Sul, Hugues Heddebault. "Mas a infraestrutura está ganhando relevância", apontou o executivo, que responde por 43 frequências semanais entre França e Brasil. "Vamos trazer nosso maior avião [Airbus A380]. O aeroporto que entregar primeiro receberá o voo", exemplificou Heddebault, citando Confins (BH) e Galeão (RJ) como candidatos a receber frequência do superjumbo ainda este ano.
Investimentos de R$ 11,3 bilhões integram o programa de concessões privadas de aeroportos no país - em Guarulhos e Viracopos (Campinas), ambos e São Paulo, Brasília e Natal (RN) - e os aportes públicos realizados por meio da Infraero - a operadora estatal de aeroportos. Outros R$ 11,4 bilhões serão desembolsados pelas concessionárias que venceram os leilões para Confins (MG) e Galeão (RJ).
Os recursos vão ampliar em 100 milhões de passageiros a oferta aeroportuária no país em uma década. A expansão em termos de pistas e pátios será de 50%. Dados da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) apontam que o número de brasileiros voando vai saltar dos atuais 110 milhões por ano para 200 milhões em 2020.
"A infraestrutura está melhorando", diz o diretor da Delta Air Lines para o Brasil, Luciano Macagno. "Isso torna possível tomar decisões levando em conta outras variáveis além da demanda, de forma simultânea", apontou ele, que responde por 42 frequências semanais entre Estados Unidos e Brasil.
A American Airlines vai estrear uma rota para os Estados Unidos partindo de Viracopos, a partir de dezembro, para captar passageiros do interior paulista. "Precisamos ter certeza que a estrutura de imigração e alfândega, por exemplo, estão à altura da operação da empresa", diz César Marchese, gerente geral da American Airlines, que já voa a partir de Guarulhos.
"Primeiramente temos que olhar o potencial econômico da região", faz coro o gerente de marketing da Copa Airlines para América do Sul, Emerson Sanglard. "Mas se demanda atual e potencial de dois destinos são equivalentes, a infraestrutura, ganha importância".
"Quando as empresas internacionais olham os mercados locais também avaliam as conexões, que geram mercado adicional", diz o sócio da Bain & Co e especialista em aviação, André Castellini. "Isso depende dos acordos operacionais", citando o caso entre Gol e Delta. A aérea americana passou a usar mais o aeroporto de Brasília porque esse é um ponto de conexão (hub) da Gol.
"A capacidade alocada já está maior, com as ampliações e modernizações de Guarulhos, Brasília e Viracopos", diz o diretor de planejamento de malha aérea da Gol, Claudio Neves Borges. Segundo ele, há ganhos de eficiência operacional a serem apropriados com esses investimentos. A negociação de vantagens comerciais como variável de peso ao se abrir uma nova rota ou frequência virá em um segundo momento, diz o diretor da Gol.
Para a Azul, a relação entre as empresas e os aeroportos mudou com a entrada do setor privado em uma atividade que era exclusivamente estatal. "A relação é distinta, Sem julgamento de valor. Às vezes mais rápido; às vezes mais lento, às vezes mais caro, às vezes mais barato. Depende da sua posição no aeroporto", diz o porta-voz da Azul, Gianfranco Beting. O diretor comercial de Viracopos, Aluizio Margarido, conta que venceu uma disputa com Confins (MG) - segundo aeroporto mais utilizado pela Azul - para sediar um hangar de manutenção da Azul.
Para o consultor da Bain, Viracopos precisa criar atrativos para competir com Guarulhos. Ele lembra que nenhum aeroporto nas 25 maiores metrópoles do mundo está a 100 km do centro da capital - Tóquio, o mais afastado, fica a 60 km do centro da cidade.
O diretor de Viracopos diz que faz parte de sua estratégia dar incentivos comerciais às aéreas. "Os primeiros voos não são rentáveis. A gente aproveita este momento para dar um empurrão nas companhias, para que custos fiquem menores, viabilizando os voos". Até o fim do ano, a frequência semanal de voos em Viracopos vai saltar dos atuais três para 38.
Alysson Paolinelli, presidente da Inframérica, que opera os aeroportos de São Gonçalo do Amarante/Natal (RN) e Brasília, diz que "o primeiro desafio é aumentar a infraestrutura, que está sendo entregue pelos investimentos em capacidade. O segundo ponto é reduzir os custos para as companhias". Elele planeja atrair voos internacionais para Natal. E em Brasília, conectar passageiros viajando pelo Nordeste. Neste ano, até agosto, passageiros em conexão cresceram 21% e o tráfego total da Inframérica cresceu 13%, em relação a igual período de 2013.