Infraero vai atrás de nova parceria para ampliar Congonhas
Valor EconômicoA estatal Infraero está em busca de parceiros na iniciativa privada para desengavetar um projeto de ampliação do terminal de passageiros de Congonhas (SP).
Orçado em R$ 250 milhões, o projeto contempla a instalação de mais dez pontes de embarque e desembarque, em um prolongamento do terminal que avançaria sobre áreas operacionais usadas como estacionamento para aeronaves. A intenção é aumentar o nível de conforto dos passageiros, sem mexer na capacidade total do aeroporto, cujos limites de pousos e decolagens são estabelecidos pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Hoje, apenas 41% dos 19,2 milhões de passageiros anuais em Congonhas embarcam ou desembarcam por "fingers" - os demais precisam de ônibus para chegar às posições remotas. A Infraero pretende elevar esse volume para cerca de 80% depois da ampliação, que deve ficar pronta até o fim de 2018 ou início de 2019, se os planos forem adiante.
Em crise financeira depois da concessão de seis grandes aeroportos, a estatal aposta em um novo modelo de negócios para tirar esse projeto do papel. O diretor comercial, André Luis Marques de Barros, explica que uma licitação deve ser aberta até meados do ano para a seleção de um parceiro privado. A empresa vencedora ficará encarregada de bancar integralmente o investimento e entregar a obra em um prazo de 24 a 30 meses. Também arca com gastos de manutenção.
Em troca, poderá explorar comercialmente não apenas a nova área, mas todo o terminal - pagando um percentual das receitas como "prêmio" à Infraero. O contrato teria 25 anos de duração e a estatal continuaria sozinha à frente de toda a parte operacional. "Estamos com esperança de realizar o certame ainda neste semestre", diz o executivo.
Marques aponta uma série de vantagens nesse formato de parceria. Além de acelerar o cronograma das obras, que ficam sob responsabilidade privada e sem restrições orçamentárias, a empresa precisará cumprir indicadores de qualidade do serviço no terminal, como a limpeza dos banheiros. Por outro lado, livra-se de amarras burocráticas para fazer um "mix" de lojas e restaurantes que atenda de forma mais adequada à demanda. Hoje, por lei, a Infraero faz suas concorrências pelo maior valor de aluguel pago - não importa exatamente se o hambúrguer é gostoso ou se a pizza vem borrachuda demais.
Paralelamente, em outra iniciativa, a Infraero abrirá uma licitação para o aproveitamento da área externa de Congonhas. O aeroporto terá um segundo edifício-garagem, com hotel categoria quatro estrelas e um shopping center de médio porte. "Esse espaço é um dos melhores ativos que temos em toda a nossa rede", afirma Marques, esclarecendo que não será preciso mexer em qualquer área operacional. O número total de vagas para estacionamento aumentará das atuais 2,6 mil para 4,8 mil. Também se prevê um contrato de 25 anos. O valor do investimento ainda depende da conclusão dos estudos técnicos.
Duas licitações recentes da Infraero são tidas como exemplos de que o mercado tem apetite por esse tipo de parceria inovadora. A Socicam, empresa que administra os terminais rodoviários do Tietê (SP) e do Rio de Janeiro, venceu uma concorrência para gerir toda a parte comercial do novo aeroporto de Goiânia.
"Estamos na fase final de assinatura do contrato", diz Marques. O terminal, que levou quase dez anos para ser construído e sofreu com sucessivas paralisações nas obras, tem inauguração finalmente prevista para abril.
Além do pagamento à vista de R$ 1 milhão, a Socicam deverá desembolsar R$ 745 mil por mês para a Infraero e bancar as despesas de manutenção do terminal, estimadas em R$ 300 mil. A parte operacional - do funcionamento dos guichês de check-in à movimentação de aviões - se manterá com a estatal. A Socicam já administra aeroportos regionais como o de Caldas Novas (GO), o da Zona da Mata (MG) e o de Una-Ilha de Comandatuba (BA).
Outro exemplo foi a licitação para o edifício-garagem do aeroporto internacional Afonso Pena, em Curitiba, que foi concluída na semana passada e representa o maior contrato comercial da história da Infraero. A edificação será construída e operada pela administradora de estacionamentos Pare Bem, que deu o maior lance na concorrência, com o valor global de R$ 345,8 milhões.
O projeto prevê um edifício-garagem numa área de 80,3 mil m², com três pavimentos e a oferta de 2,4 mil vagas. Também estão previstas a instalação de cobertura em 1,6 mil vagas externas e melhorias na sinalização do estacionamento. Após a assinatura do contrato de concessão de área, a vencedora da licitação terá 24 meses para elaborar e aprovar os projetos das novas instalações, bem como para executar a obra.