13/09/12 09h00

Indústria volta a contratar em julho

Valor Econômico

Após quatro meses seguidos reduzindo a conta-gotas as horas trabalhadas e o nível de emprego, a indústria aumentou em 0,2% seu quadro de funcionários na passagem de junho para julho, feitos os ajustes sazonais, enquanto o número de horas pagas avançou 0,3% em igual comparação. Os dois dados são da Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes), divulgada ontem pelo IBGE. Para economistas, a interrupção das duas séries negativas, aliada ao aumento da produção também ocorrido em julho, são sinais de que o setor ensaia uma recuperação mais pronunciada.
 
Reflexo do primeiro semestre perdido para o setor, no entanto, as demais comparações de emprego industrial seguem no negativo. No acumulado de janeiro a julho, o emprego recuou 1,3% sobre 2011, enquanto o número de horas pagas encolheu 2%. Nos 12 meses encerrados em julho, o emprego caiu 0,7% e as horas pagas, 1,6%.

Para Fernando Abritta, economista da Coordenação da Indústria do IBGE, os resultados do emprego de julho vêm na esteira da redução dos juros e das isenções fiscais para automóveis, móveis e linha branca, bem como das demais ações tomadas pelo governo para reativar o consumo, já que a ocupação nas fábricas foi, em sua avaliação, uma reação ao aumento da produção. " A produção de veículos automotores subiu 4,9% em julho ante junho", lembrou.
 
Consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o economista Júlio Gomes de Almeida também viu indícios de recuperação na alta do emprego industrial, embora tímidos, mas acredita que o dado é mais reflexo de uma melhora generalizada na conjuntura econômica do que de incentivos específicos. Com base em números sem ajuste sazonal do IBGE, Almeida calculou que as maiores variações setoriais do emprego vieram de alimentos e bebidas e produtos químicos, setores que não receberam benefícios fiscais.
 
Segundo o analista, os cálculos usando números sem ajuste não prejudicam a análise do que ocorreu em julho, mês em que, mesmo sem descontar as influências sazonais, o emprego nas fábricas também cresceu 0,2%. "Esses dados corroboram uma melhora espraiada, e não focada nos setores com incentivo, porque outros ramos também mostram resultados menos ruins", tais como têxtil, papel e gráfica, borracha e plástico, metalurgia e máquinas e equipamentos, acrescenta Almeida.
 
Por outro lado, vestuário e calçados, que tiveram a folha de pagamento desonerada em troca de uma contribuição sobre o faturamento, continuaram demitindo em julho de acordo com os cálculos do consultor do Iedi, assim como meios de transporte, onde está a indústria automobilística.
 
Como a melhora nos postos de trabalho não é generalizada entre os setores pesquisados pelo IBGE, diz Edgard Pereira, professor da Unicamp e sócio de uma consultoria que leva seu nome, ainda é cedo para concluir que os estímulos já estão surtindo efeito sobre o emprego industrial, o que ele projeta para meados de 2013. No momento atual, sustenta Pereira, as empresas ainda estão usando as horas extras para aumentara produção, sem contratar mais pessoal.
 
Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria, avalia que a ocupação nas fábricas está começando a responder ao cenário mais prospectivo para a produção, mas pondera que o reflexo defasado da desaceleração do primeiro semestre sobre a folha de pagamento real do setor está aumentando. Na passagem de junho para julho, descontados os fatores sazonais, a folha real de salários do setor caiu 1%.
 
Bacciotti considera que os dados mensais são muito voláteis, mas calcula que, na comparação entre o trimestre encerrado em julho e igual período terminado no mês anterior, feitos os ajustes sazonais, a folha de pagamento real da indústria recuou 0,3%, após variação zero em junho e queda de 1,1% em maio. "No começo do ano, esse indicador crescia a uma média de 1,2%. Há uma clara mudança de trajetória relacionada ao menor dinamismo da atividade, que afetou as negociações salariais", diz.
 
Como a produtividade na indústria está em queda (recuou 1,7% no acumulado de janeiro a julho sobre igual período de 2011) e os salários estão passando por um processo de acomodação, o custo unitário do trabalho, que mede o peso da mão de obra sobre cada unidade produzida, caiu 1,1% entre junho e julho, cálculo também dessazonalizado por Bacciotti. "Isso pode propiciar alívio de custos para a indústria e contribuir com a melhora de competitividade do setor, o que reforça nosso cenário de retomada", diz o economista.