03/10/09 10h10

Indústria recupera 50% das perdas na crise

Folha de S. Paulo

Embalada pelo mercado interno e por medidas de estímulo, a produção da indústria nacional sobe há oito meses seguidos e já "devolveu" metade das perdas registradas desde o início da crise, segundo o IBGE. De julho para agosto, o setor cresceu 1,2% na taxa livre de efeitos sazonais, mas acumula ainda uma queda de 10,2% desde setembro de 2008. Tal retração, porém, chegou a 20,9% entre setembro e dezembro do ano passado, no auge da crise. Desde janeiro, a indústria cresce sustentada pelo consumo de bens duráveis (veículos, em especial, estimulados pela redução do IPI) e não duráveis - cujo consumo é mais resistente a crises.

Desde 2004 a produção não avançava por oito meses seguidos -algo que só havia ocorrido antes em 1994, na esteira do Real. A atual fase de recuperação, dizem especialistas, esbarra, porém, em dois pontos: a fraca demanda global, que restringe as exportações brasileiras de manufaturados, e a elevada capacidade ociosa das linhas de produção das fábricas, o que retarda novos investimentos. Diante desse cenário, a indústria registrou uma queda de 7,2% em agosto na comparação com agosto de 2008 -ritmo menor, porém, que o tombo no trimestre anterior, quando as perdas até superaram os 10%. De janeiro a agosto, amarga uma retração acumulada de 12,1% -o pior desempenho desde 1990 (8,2%) no período.

Para Isabela Nunes, gerente da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, o mercado interno sustenta a retomada da indústria desde janeiro, puxado tanto pela renda em alta como pelo corte de impostos promovido pelo governo para estimular alguns setores. Entretanto, a falta de dinamismo do mercado externo e o retardo de novos investimentos restringem a reação e explicam o patamar mais baixo de produção em 2009. De todas as categorias de produtos, a de bens de capital (máquinas e equipamentos) é que registra o pior desempenho: queda de 23% de janeiro a agosto.

Esses dois fatores levarão a indústria a crescer menos no pós-crise, apesar da previsão de uma retomada forte em 2010, lastreada na fraca base de comparação, avalia Sérgio Vale, economista da MB Associados. Na avaliação do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), o atual ritmo de crescimento da produção industrial já não é "suficiente para uma rápida convergência para o nível equivalente ao período anterior à crise internacional". Na visão da LCA, embora a indústria tenha desacelerado em relação a julho, a produção "seguiu em bom ritmo de expansão." Segundo a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), a atividade industrial paulista já caiu em agosto -0,8%-, pela primeira vez em seis meses. Por outro lado, o emprego na indústria subiu 3,9% nas principais metrópoles e impediu uma alta da taxa de desemprego, de acordo com o IBGE.