23/04/18 12h09

Indústria já importa em ritmo superior ao da alta da produção

Valor Econômico

A recuperação da economia, mesmo lenta, já abriu espaço para a entrada de importados em ritmo acelerado em alguns ramos da indústria de transformação. Segmentos que representam principalmente intermediários, como borracha e plásticos e produtos metálicos, ou de bens de consumo semiduráveis, como têxteis e calçados, fecharam o terceiro trimestre consecutivo com ritmo de importações bem acima da média. As compras externas de veículos automotores também cresceram de forma acelerada, segundo mostra levantamento do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Indústria (Iedi).

A produção da indústria de transformação no primeiro bimestre, último dado disponível, cresceu 5,3% contra igual período do ano anterior. De janeiro a março as importações de bens do mesmo setor avançaram mais, em 11,8%, após altas de 14,4% e de 9% nos dois trimestres anteriores, sempre em comparação com igual período do ano anterior.

As compras externas no setor de produtos metálicos subiram num ritmo maior ainda, com alta de 26,6% de janeiro a março, depois de avançar 19,2% e 24,9% nos dois trimestres anteriores. No ramo de borracha e plásticos, as altas foram de 14,5%, 17,7% e 18,3%, respectivamente. Os desembarques de produtos têxteis, couros e calçados cresceram 22,16%, 25% e 17,7% nos três últimos trimestres. O de veículos automotores avançaram em iguais períodos 31,1%, 16,9% e 11,5%, sempre na comparação anualizada.

Rafael Cagnin, economista do Iedi, destaca que, no caso dos intermediários, como produtos metálicos e borracha e plásticos, a importação se recupera com vitalidade muito maior que a produção física industrial, indicando que a rede de fornecedores externos anterior à crise está sendo rapidamente retomada. "A água volta a circular de forma acelerada dentro de canais já abertos."

Para o economista, o movimento mostra que o processo ensaiado por alguns segmentos de substituição de importações por fornecimento nacional foi pontual, temporário e ficou para trás. Agora tudo indica que as importações devem manter tendência de crescimento forte e ajudar a elevar os déficits comerciais da indústria de transformação.

José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), diz que os fornecedores externos também negociam volume mínimo de vendas, o que também contribui para elevar as importações em ritmo mais acelerado. Para ele os desembarques devem se acelerar no decorrer dos próximos meses.

Segundo projeções da AEB as compras externas totais do Brasil devem subir 11,9% em relação a 2017 contra 1% de alta nas exportações. Castro pondera que a base de comparação ainda é baixa. Na indústria de transformação, a alta de importações completa cinco trimestres consecutivos. Antes, porém, houve redução na importação por 11 trimestres seguidos.

A indústria de transformação fechou o primeiro trimestre com déficit de US$ 2,5 bilhões. No mesmo período as exportações do setor avançaram 12,6%.

A recuperação ainda que lenta da economia interna também resulta em crescimento forte da importação de bens mais sujeitos à concorrência dos fornecedores externos, caso dos produtos têxteis, couro e calçados. Já nos automóveis, diz Cagnin, a retomada da economia permite mudança no mix de bens importados, o que pode ter contribuído para a elevação do valor agregado do bem importado.

Castro, da AEB, diz que o segmentos de têxteis e calçados costuma responder rapidamente ao crescimento da economia. "São produtos com ciclo curto de produção, menos dependente de crédito para comercialização."

O economista do Iedi também destaca a importação também acelerada em setores que utilizam componentes nos quais o país é estruturalmente dependente do fornecimento externo, como o de material de escritório e informática, com alta de 27,1% no de janeiro a março, depois de altas de 41,9% e 41,4% nos dois trimestres anteriores, na comparação anualizada.

O que influencia também nesse ramo e no de eletrônicos, diz Castro, é o avanço tecnológico, que torna o produto obsoleto rapidamente. Isso, explica ele, ajuda a manter o nível de importação mesmo em período de recessão ao mesmo tempo em que o desembarque de produtos nessa área responde rapidamente às reações do consumo.