02/03/18 11h35

Indústria deve ter ano positivo, com melhora mais generalizada

Valor Econômico

O Produto Interno Bruto (PIB) da indústria ficou estável em 2017, interrompendo uma sequência de quedas anuais que vinha desde 2014. Os dois principais segmentos - transformação e construção - caminharam em direções opostas no ano passado. Enquanto a transformação cresceu pela primeira vez desde 2013, a construção teve a sua quarta queda seguida, combinação que levou ao resultado final nulo. Passada a fase de estabilização, economistas esperam que o PIB industrial volte neste ano para o terreno positivo, puxado pela baixa base de comparação do ano passado e pelo aquecimento da demanda por bens de consumo e de capital.

"A indústria foi um dos carros-chefe do crescimento do quarto trimestre e continuará sendo neste ano", diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, citando o crescimento de 0,5% do PIB do setor na comparação com o terceiro trimestre. No acumulado do ano, três dos quatro segmentos industriais tiveram alta: transformação (1,7%), extrativa (4,3%) e eletricidade e gás, água, esgoto e atividades de gestão de resíduos (0,9%).

No início, a recuperação industrial do ano passado foi puxada principalmente pela transformação, mais especificamente pela indústria automobilística. Nos cálculos de Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o setor automobilístico foi responsável por 1,22 ponto percentual (p.p.) do crescimento de 2,5% da Produção Industrial Mensal (PIM-PF) ao longo de 2017.

Vale lembrar que a produção medida pela PIM-PF é diferente do PIB do setor calculado pelas Contas Nacionais do IBGE.

Ao longo do ano, entretanto, essa retomada foi se disseminando. Nos cálculos do Santander, 30% dos setores da indústria apresentavam crescimento nos três primeiros meses de 2017. No último trimestre, esse número já estava em 70%, com destaque também para a metalúrgica, alimentícia e têxtil.

"Há um número cada vez maior de setores industriais em recuperação", diz Rodolfo Margato, economista da instituição financeira, que calcula crescimento de 3,8% do PIB industrial neste ano.

Vale, da MB Associados, também espera um crescimento mais disseminado. "Menos pela exportação, que vimos acontecer intensamente no setor automotivo, mas mais pela demanda doméstica", afirma ele, que calcula alta de 5,8% do PIB industrial e de 6% para a transformação. O economista espera sinais positivos já neste começo de ano. A estimativa dele é de crescimento de 7,6% da Produção Industrial Mensal (PIM) entre janeiro de 2017 e o mesmo período do ano anterior.

Cagnin, do Iedi, destaca que a base de comparação ainda baixa exige taxas vigorosas de expansão para recuperar o terreno perdido. A alta de 1,7% da transformação no ano passado, lembra, representa um décimo do tombo de 17% do segmento entre 2014 e 2016.

O crescimento de 6% na comparação com o último trimestre de 2016, segundo o economista, dá a sua parcela de ajuda. A taxa dos últimos três meses do ano passado, porém, é "muito forte" para ser mantida no decorrer de 2018. "Existem muitos obstáculos a serem vencidos", diz, citando condições de financiamento e incertezas a respeito da eleição presidencial. "Há os solavancos do processo eleitoral deste ano, que pode ser muito diferente dos processos dos outros anos e acabar afetando as variáveis econômicas", entre as quais índices de confiança, afirma.

Artur Manoel Passos, economista do Itaú Unibanco, espera que, do lado da demanda, o consumo das famílias e a reposição e a modernização de máquinas puxem a produção de bens de consumo e bens de capital, respectivamente.

"A alta do investimento ressalta que a demanda [por bens industriais] está vindo", diz. Ele cita o crescimento de 2% da formação bruta de capital fixo, medida de quanto o país investe em máquinas, equipamentos, construção e inovação, em relação ao terceiro trimestre.

A construção civil, por sua vez, destoou dos outros três segmentos e recuou pelo quarto ano seguido, caindo 5%. Na comparação com o terceiro trimestre, houve estabilidade.

Na visão Iedi, o segmento deve sair do terreno negativo em 2018, mas com recuperação ainda pequena. De acordo com Cagnin, uma retomada mais forte demanda uma reorganização do setor, principalmente na área de construção pesada. Projetos de infraestrutura, por exemplo, dependem não só do mercado, mas também decisões de governo.

Para Passos, do Itaú Unibanco, indicadores de alta frequência do segmento passaram a mostrar alguns sinais de recuperação no fim do ano passado. Entre eles, estão a alta da produção de insumos usados no segmento e a venda no varejo de materiais de construção.