Indústria de equipamentos almeja exportação de peças
Valor EconômicoA perspectiva de fraca demanda nos leilões de energia, a exemplo do ocorrido no ano passado, fruto principalmente da retração econômica do país, e uma visão estratégica de longo prazo têm levado a indústria eólica brasileira a estudar a possibilidade de exportar componentes para Américas do Sul e Central. O objetivo é aproveitar a capacidade instalada e o grau de maturidade tecnológica dos fornecedores já baseados no país.
"Estamos trabalhando uma plataforma exportadora. Temos condições de exportar para América Latina e Caribe. Este é um dever de casa que nós da indústria temos que fazer", afirmou a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Gannoum, que participou nesta semanada inauguração da primeira fábrica de equipamentos eólicos da gigantes dinamarquesa Vestas, no Brasil, localizada no Ceará.
"Temos que pensar em um modelo exportador, porque temos escala e competência de produção. Esse é o bom desafio. Estamos em um momento já maduro [de conhecimento tecnológico]. Agora vamos avançar em tecnologia e exportação. Esse é o nosso objetivo para manter essa indústria", completou a executiva.
A fonte eólica, que vinha negociando volumes superiores a 2 mil MW por ano nos leilões de energia do governo, comercializou cerca de 1,1 mil MW nas licitações realizadas em 2015. Para este ano, a expectativa de demanda do próximo leilão "A-5" (que negocia contratos para início de entrega cinco anos a frente), marcado para 31 de março, é de 1,5 mil MW médios, que será disputada por todas as fontes de energia. Parte desse volume deverá ser abocanhado pela hidrelétrica de Belo Monte, que poderá negociar 20% de sua energia descontratada no certame.
As eólicas ainda terão, pelo menos, outras duas tentativas em 2016: o leilão "A-3" (que negocia contratos com início de entrega três anos a frente) e, no mínimo, um leilão de energia de reserva.
O presidente da Vestas no Brasil, Rogério Zampronha, espera que o volume de contratação de energia eólica nos leilões deste ano seja "um pouco melhor" do que o registrado em 2015. Segundo ele, o nível de contratações superior a 2 mil MW deve ser retomado a partir de 2017.
O executivo explicou que a nova fábrica, que demandou investimento de R$ 100 milhões, será voltada prioritariamente para o atendimento do mercado doméstico, mas que avalia a possibilidade de exportar equipamentos dentro de três anos.
"Se conseguirmos ser competitivos aqui no Brasil, podemos, com a ajuda do câmbio obviamente, nos transformar em uma plataforma de exportação. Mas é prematuro dizer que isso vai acontecer, quando e como. Nos próximos três anos, teremos uma firme convicção de que podemos, ou não, fazer isso. O meu palpite é que sim", disse Zampronha, acrescentando que a empresa tem condições de aumentar a capacidade da fábrica "rapidamente", se for necessário.
O foco são América do Sul e Central, com destaque para Uruguai, onde 70% da geração eólica local é produzida a partir de turbinas fornecidas pela Vestas, e Argentina.
"A região da Patagônia é de excelentes ventos. Acredito que a Argentina pode ser um potencial parceiro nosso", disse o executivo.
A Vestas também tem estimulado a vinda de subfornecedores internacionais da cadeira eólica para o Brasil. "Também estamos tentando atrair outras empresas para se instalar no Brasil e acredito que teremos sucesso em breve", disse o executivo, acrescentando que três companhias já demonstraram interesse em se instalarem no país.
Além da exportação, outro negócio que pode aquecer as vendas das fabricantes de equipamentos eólicos do país são as encomendas de leilões anteriores, ainda não atendidas ou cujo o fornecedor anterior não conseguiu atender o contrato. Estima-se que haja um potencial de negócios da ordem de 2 MW de projetos que já negociaram energia em leilões, mas ainda precisam contratar as máquinas.