11/06/15 14h41

Indústria 4.0

Uso de sensores em grandes equipamentos, como motores e turbinas, anuncia a chegada da internet industrial, que deve reduzir custos e elevar produtividade

Folha de S.Paulo

Nos treinos para os Jogos Olímpicos do Rio, cada ângulo do remo, inclinação da canoa e frequência cardíaca da equipe de canoagem brasileira são monitorados em tempo real pelo técnico Jesús Morlán, que carrega um tablet enquanto acompanha os atletas a bordo de uma lancha.

Com informações mais precisas do que o acompanhamento a olho nu, o sistema de sensores da equipe brasileira é uma inédita aplicação, para o esporte, de uma tecnologia que nasceu para fazer o monitoramento de grandes geradores e turbinas de avião.

"Toda essa nova tecnologia pode ser aplicada em diferentes áreas. No caso, para tentar ajudar o Brasil a ganhar uma medalha nos Jogos de 2016", diz Marcelo Blois, líder da área de Software e Produtividade do Centro de Pesquisa Global da GE no Brasil.

O uso de sensores para medir temperatura, pressão, luz, presença de objetos, entre tantos outros indicadores, tem sido cada vez mais comum em grandes equipamentos industriais, como geradores e turbinas. Seu uso garante uma maior previsibilidade e eficiência no uso do ativo, gerando grandes economias com manutenção.

A aplicabilidade dos sensores inteligentes é variada. Há empresas desenvolvendo sensores para a agricultura, como a OnFarm. Acoplados em folhas de alface, os sensores transmitem dados sobre a qualidade do solo, do clima e do uso de fertilizantes.

A Coca-Cola criou uma máquina de autosserviço para uso em lanchonetes e restaurantes, a Free Style Machine. Sem previsão de chegar ao Brasil, ela transmite em tempo real a quantidade e o tipo de bebida consumida, permitindo reposição e calibragem da máquina mais eficientes.

Mas, quando a máquina foi adquirida pela rede brasileira Giraffas para sua operação na Flórida (EUA), adquiriu outra finalidade --e que pode suscitar debates sobre privacidade e uso de dados.

A Coca-Cola detectou que 7% do consumo do restaurante acontecia fora do horário oficial de abertura das lojas e avisou a rede: funcionários estavam se abastecendo antes de a clientela chegar.

"Isso aconteceu no primeiro restaurante em que instalamos a máquina, ainda como teste", afirmou a empresa. "Fizemos alguns ajustes nos procedimentos internos antes de instalar as máquinas nas demais lojas." Dos 10 restaurantes do Giraffas nos EUA, 4 têm a máquina.

Economia

O uso de sensores para monitoramento, também conhecido como telemetria, não é novo. A Fórmula 1 faz isso mesmo antes da internet.

Mas a diferença agora está na quantidade de dados, na possibilidade de cruzá-los com informações sobre o desempenho de uma infinidade de outros equipamentos, e de solucionar problemas remotamente em tempo real.

Na TAM, o sensoriamento remoto é padrão nos 164 aviões da frota. O serviço, que é feito a partir do Centro de Controle de Manutenção, uma sala com computadores na sede da empresa em São Paulo, permite identificar falhas em pleno voo.

Ao identificar o problema, o centro pode ordenar o envio de uma peça de reposição para o destino do voo, economizando tempo de manutenção em solo. Em alguns casos, é possível solucionar o problema remotamente.

Em abril, quando uma aeronave que partiria de São Paulo (Congonhas) para Goiânia já estava na cabeceira da pista, a central identificou que o ventilador que resfria o computador de bordo estava falhando. Remotamente, o equipamento foi desligado e ligado [reset] e a máquina voltou a funcionar.

"Nos últimos 18 meses, deixamos de gastar R$ 1,8 milhão só com ocorrências evitadas", diz Sergio Novato, diretor de manutenção da TAM. O valor inclui gastos com hospedagem para passageiros e pernoite de tripulação no caso de voos que teriam sido cancelados se não houvesse o monitoramento remoto.

Na indústria do petróleo, o monitoramento remoto de turbinas de geração de energia em plataformas flutuantes pode gerar economias ainda maiores. "As operadoras são remuneradas pela produção. Se falta energia, nada mais funciona. Um dia de produção parada pode custar US$ 5 milhões, em média", diz Marcelo Blois, da GE.