08/03/18 14h03

Indra traz sua unidade Minsait ao Brasil

Valor Econômico

O setor de tecnologia é pródigo em criar conceitos: alguns são revolucionários; outros, de tão vagos, não significam praticamente nada. A Indra, gigante espanhola de tecnologia com receita anual de € 3 bilhões, está se esforçando para que o termo "transformação digital" seja parte inequívoca do primeiro grupo. A companhia vai abrir no Brasil uma subsidiária da Minsait, sua empresa especializada na área. Terceira no mundo, depois do México e da Espanha, a filial brasileira inicia suas atividades hoje, com 300 funcionários.

"Nos últimos 50 anos, a tecnologia da informação tem ajudado as empresas a tirarem o melhor partido de seus negócios, mas agora chegamos a uma fase de ruptura. [As companhias] saíram da etapa de melhorar as operações existentes para a criar outros negócios", diz Silviano Andreu, diretor global da Minsait. Essa seria a definição de transformação digital. Um exemplo é a indústria automobilística, afirma o executivo espanhol. As montadoras precisam continuar a melhorar os carros que fabricam e vendem, mas se veem desafiadas por modelos completamente diferentes, como o pagamento por uso - o princípio por trás de serviços de compartilhamento como o Uber.

Fundada em fevereiro de 2016, a Minsait tanto presta serviços de consultoria como fornece sistemas de automação para que os clientes deem seu desejado salto digital. Parte do trabalho é interligar as áreas de atividade-fim das empresas com as equipes internas de tecnologia, frequentemente em pé de guerra. A proposta é ajudar a definir a estratégia de transformação digital desde o "rascunho", implementando as mudanças paulatinamente, com tecnologias como a "internet das coisas" - a intercomunicação entre máquinas, sem envolvimento humano - e a inteligência artificial.

O que torna o desafio mais difícil é que o avanço tecnológico colocou em xeque os modelos existentes, acabando com muitas das referências válidas, diz Wander Marques da Cunha, diretor da Minsait no Brasil. Se antes os profissionais tinham clareza sobre o que fazer para atingir os objetivos definidos por suas organizações, a percepção geral, hoje, é de que é preciso mudar para sobreviver, embora muitos não saibam nem por onde começar.

Os bancos, por exemplo, deveriam começar a procurar negócios fora de suas esferas, incluindo seus próprios sistemas de internet banking, afirma Andreu. "Eles precisam ir até aonde o consumidor está fazendo negócios e ingressar nos aplicativos de terceiros." Uma sugestão seria oferecer financiamento a pessoas durante o processo de compra em sites de comércio eletrônico como o da Amazon.

Com a chegada da Minsait, a Indra reforça operações que já representam uma parte significativa de seus negócios globais. A Indra tem 46 filiais no mundo e o país é o segundo maior mercado para a empresa, atrás apenas da matriz espanhola. Não são revelados dados por país, mas no ano passado a América Latina representou 22% de todo o faturamento mundial da Indra - e o Brasil é o cabeça da região, diz o espanhol Jorge Arduh, diretor-presidente da Indra no Brasil. São mais de 5,5 mil profissionais no país, divididos por 11 escritórios. A equipe total no mundo reúne 40 mil profissionais.

Os 300 profissionais da filial brasileira da Minsait vêm da Indra e já trabalhavam em projetos de transformação digital. No Brasil, estão em andamento conversas com empresas do setor financeiro. A Minsait também tem interesse no setor industrial e em empresas de serviços, como call center. Nesse último caso, a companhia quer usar a experiência de seu centro de robotização localizado no Brasil - um dos principais da Indra no mundo nessa área.

No exterior, a Minsait vem atuando em projetos que vão de sistemas para processar informações em tempo real de pacientes até a aplicação da internet das coisas em cidades e edifícios inteligentes. Na Espanha, a empresa testa o uso de drones na adoção do novo sistema europeu de chamadas de emergência, cuja entrada em vigor está previsto para abril. A proposta é facilitar o atendimento médico em acidentes de trânsito. Drones não são novidade para a Indra. A companhia tem tradição no fornecimento de sistemas de defesa às forças armadas espanholas. "Temos drones bem grandes, que funcionam como pequenos helicópteros", diz Arduh.