29/01/10 11h16

Índia leva 31% do açúcar do Brasil em janeiro

Valor Econômico

Em 2007, a Índia não comprou um quilo sequer de açúcar brasileiro. O país asiático teve naquele ano uma safra recorde e até desbancou o Brasil da posição de maior produtor mundial. Dois anos depois, o mercado inverteu-se totalmente, a Índia foi o maior importador do açúcar brasileiro e em 2010 continua "enxugando" de forma agressiva a oferta brasileira da commodity. Os números não deixam dúvidas: até 22 de janeiro, a Índia já tinha importado 31,19% do 1,058 milhão de toneladas (entre açúcar branco e bruto) que o Brasil embarcou no período. A forte demanda internacional pelo produto, liderada pelos indianos, aperta ainda mais os estoques de açúcar do Brasil.

O apetite da Índia pelo produto brasileiro neste início de ano é maior ainda do que foi em 2009. No ano passado, o país asiático comprou 18% do que o Brasil exportou. Do total de 13,6 milhões de toneladas embarcadas em 2009, a Índia importou 3,99 milhões, segundo a Secretaria de Comércio Exterior. "Esse cenário nos indica que o mercado seguirá altista", diz Luiz Carlos dos Santos Júnior, da Kingsman do Brasil, consultoria especializada em açúcar. A sede indiana também reflete a quebra da safra no país. No segundo semestre do ano passado, início da safra na Índia, a estimativa era de uma produção 26 milhões de toneladas de açúcar. Hoje, o número é bem menor. "Apostamos em 16 milhões de toneladas", diz Mário Silveira, da FCStone.

Mas o fato é que com esse "enxugamento" do açúcar brasileiro liderado pela Índia, os estoques nos portos brasileiros já dão sinais de arrefecimento. De acordo com dados da Kingsman referentes à terceira semana de janeiro, o estoque de açúcar estava em 679 mil toneladas. Em igual semana de 2009, esse volume era de 851 mil toneladas, e em 2008, de 893 mil toneladas. E ainda há previsão de mais exportações até o fim deste mês. Até ontem, os portos brasileiros previam o embarque de 792,7 mil toneladas do produto - 73% de açúcar bruto e 27% de branco. Isso significa que, somados os volumes já embarcados com o que está previsto, devem ser exportados 1,85 milhão de toneladas.

De qualquer forma, tudo indica que o Brasil embarcará em janeiro metade do que teria disponível para embarcar até o início da safra, pelo menos, segundo o que a consultoria Datagro calculou como sendo um estoque excedente. Entre janeiro e 30 de abril, o país deve ter apenas 2,7 milhões de toneladas de açúcar disponíveis para exportação, mantido o abastecimento interno, segundo a Datagro. Esse quadro pode provocar um forte aperto no abastecimento interno.

Mas a condição real de oferta no Centro-Sul até abril ainda é incógnita porque há usinas moendo e a previsão é de que muitas outras antecipem o início da próxima temporada. No entanto, com o excesso de chuva, as que continuam processando, o fazem com baixíssimo rendimento. Na quinzena encerrada em 16 de janeiro, foram moídas 3,8 milhões de toneladas de cana e produzidos 68 mil toneladas de açúcar e 175 milhões de litros de etanol, volumes que poderiam ter sido 15% e 27% maiores, respectivamente, não fosse a baixa qualidade da cana, divulgou a União da Indústria de Cana-de-Açúcar.