ICC já tem câmara em São Paulo
Valor EconômicoA Câmara de Comércio Internacional (CCI ou ICC, na sigla em inglês) instalou, em São Paulo, sua primeira câmara de arbitragem no Brasil e a terceira fora de sua sede, em Paris. As outras duas unidades estão em Nova York e Hong Kong.
Assim, as disputas entre empresas e sócios feitas dentro do modelo ICC poderão ser resolvidas com custos em reais e sem a diferença de fuso horário. Casos de outros países da América Latina também poderão, no futuro, ser julgados no Brasil.
A ICC foi a câmara escolhida pela varejista francesa Casino para arbitrar um conflito com Abílio Diniz, em 2013, a respeito do controle do Grupo Pão de Açúcar - processo que foi posteriormente encerrado por acordo entre os sócios. É nela também que tramita a recém-iniciada disputa entre a Usiminas e a Sumitomo.
"Estar mais perto era uma reivindicação dos usuários porque apesar de hoje tudo ser feito de forma eletrônica, a diferença de cinco horas para Paris tinha impacto no dia a dia dos casos", disse Ana Serra Moura, secretária-geral adjunta da corte internacional de arbitragem.
Segundo ela, a estrutura local também permitirá mais ações de formação de árbitros e de divulgação do processo de arbitragem. "Tem muito potencial de crescimento de árbitros brasileiros para atuar no mundo inteiro", disse José Emilio Nunes Pinto, vice-presidente da Corte Internacional de Arbitragem.
A câmara brasileira terá, a princípio, uma estrutura formada por sete pessoas. Casos que já estejam em processo de análise não serão automaticamente transferidos para o Brasil.
A arbitragem entre empresas e sócios privados é a parte mais visível das atividades, mas processos com a administração pública também estão na pauta.
"Há uma preocupação crescente do governo em melhorar a adequação dos regimes de contratos, usando a arbitragem. Isso permite reduzir o custo do projeto à medida que aumenta a segurança jurídica dos investidores", disse Gabriel Petrus, diretor-executivo da ICC no Brasil.
A arbitragem ICC tem como principal diferencial de outras câmaras a dupla validação das sentenças. Depois que um processo é julgado, a sentença é avaliada pelo Tribunal de Paris, para garantir que ela está de acordo com as previsões da ICC.
O Brasil é o terceiro país com mais partes envolvidas em casos na ICC em 2016: 123. No mundo todo, a ICC registrou 966 casos, com quase 3,1 mil partes envolvidas de 137 países.
Para 2017, a lista de casos pendentes de julgamento é de quase 1,6 mil. Com a câmara no Brasil, é esperado um crescimento nos números locais.
A média dos valores em disputa nas arbitragens feitas pela ICC fica em torno de US$ 86 milhões. Um terço das disputas tem valores inferiores a US$ 2 milhões.
Desde o dia 1º, entrou em funcionamento uma categoria expressa de arbitragem, focada em causas menores de US$ 2 milhões e prazo de até seis meses para sentença. No processo tradicional, o prazo é de dois anos.