10/02/11 11h21

Hypermarcas golpeia concorrentes e avança

Valor Econômico

Por que a Hypermarcas incomoda tanto? Entre dezembro de 2009 e dezembro de 2010 a companhia fez importantes aquisições no setor farmacêutico que já respondem por cerca de 50% da receita do grupo, conhecido por ser uma máquina de compras que passa como um trator por cima de seus principais concorrentes para concluir seus negócios. A empresa é a vice-líder em genéricos no país e não esconde seus planos de se tornar líder no segmento farmacêutico.

Sua última tacada, a compra da Mantecorp, por R$ 2,5 bilhões (US$ 1,5 bilhão), surpreendeu o mercado. O laboratório Aché, que já era apontado como o comprador da farmacêutica, foi atropelado pela Hypermarcas, que fechou o negócio aos 47 minutos do segundo tempo. Igual golpe tomou a Pfizer no último trimestre de 2009, quando a múlti americana estava nos últimos detalhes para levar a Neo Química, de Goiás. A Hypermarcas passou como um tufão e fechou a compra do laboratório nacional, considerado estratégico para o avanço do grupo nesse setor.

Como um trator, a entrada da Hypermarcas no setor ajudou a inflacionar os ativos farmacêuticos no país. A referência de aquisição por um ativo no exterior gira em torno de 12 a 14 vezes o Ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização na sigla em inglês) de uma companhia. A última aquisição do grupo, a Mantecorp, empurrou para 20 a 22 vezes o Ebtida. "A incorporação por ágio permite oferecer um valor maior pelo ativo", afirmou uma fonte. O fato é que as indústrias nacionais se tornaram caras, mas mesmo assim atraentes. "Tudo é uma questão de dinheiro. A Hypermarcas levou porque ofereceu mais", disse.

Antes de adquirir a Neo Química por R$ 1,3 bilhão (US$ 764,7 milhões), a empresa controlava a DM e Farmasa, laboratórios de médio porte que permitiram ao grupo avançar no segmento de OTC (medicamento isento de prescrição médica). A Mantecorp projetou o grupo em remédios com prescrição médica. Muitos questionam o modus operandi da companhia para fechar seus negócios. Mas o fato é que o grupo tem recebido forte apoio financeiro do BNDES nessas transações. Em outubro, a companhia emitiu cerca de R$ 1,1 bilhão (US$ 647,1 milhões) em debêntures simples - a operação tem a garantia de compra total pelo BNDESPar, braço de participações do BNDES. O governo considera a Hypermarcas como consolidadora desse setor. E esse apoio do governo visa conter o avanço de múltis nesse segmento, considerado estratégico.

Também conta a favor a Hypermarcas estar listada na bolsa - o que permite maior acesso a capital e usar suas ações como moeda de troca. As ações do grupo registram queda de 18,9% em 12 meses, mas alta de 117,4% desde que foi à bolsa, em abril de 2008. Além disso, há o benefício do ágio das incorporações, o que a torna mais rápida e com maior poder de fogo. Em entrevista ao Valor, Claudio Bergamo, principal executivo da Hypermarcas, afirmou que a companhia é uma "obstinada em entregar tudo o que promete, desde abril de 2008", quando foi à bolsa. "O nosso plano estratégico sempre foi transparente. Somos consolidadores." Ele acrescentou que o setor está se consolidando e que poucos grupos sobreviverão. "Temos uma estrutura de capital flexível, com ações que podemos usar como moeda de troca."

O próximo desafio do grupo - o que também espera o governo - é avançar em pesquisa e desenvolvimento (P&D), investimento pouco comum entre as farmacêuticas nacionais. Hoje, de 1% a 1,5% do faturamento da companhia é voltado para inovação. A meta da companhia é aumentar esse percentual. Mas o caminho não deverá seguir o desenvolvimento de novas moléculas, como fazem as gigantes globais - cujos gastos em P&D ficam entre 10% e 20% da receita anual dessas empresas. O grupo não prevê, por enquanto, expansão no exterior.