Hotelaria ‘seis estrelas’ ignora crise e chega ao país
Brasil entra no circuito de marcas globais de luxo com projetos que custam até R$ 1 bilhão
O GloboCarrocinha de sorvete que vai até o quarto; jantar exclusivo sobre a Ponte Vecchio, em Florença, na Itália; aulas de esqui com atletas olímpicos em Courchevel, nos Alpes franceses. Não é sonho, mas uma provinha do que o seleto circuito de hotéis de alto luxo oferece pelo mundo. E, sim, em meio à crise econômica, o Brasil está entrando no roteiro desses sofisticados viajantes, com a chegada de selos de hotelaria “seis estrelas” como Four Seasons, Rosewood e Oetker Collection.
— A janela de oportunidade veio com a estabilização da economia e o fim da inflação. Com alguma previsibilidade, o investimento começou a fazer sentido no país. A maior parte dos projetos foi anunciada três anos atrás. A crise oferece a vantagem cambial e ativos com preços mais atraentes. É a hora certa para investir, mas não para inaugurar — avalia Michael Schnürle, diretor da consultoria Horwath HTL no Brasil.
Lista: Os mimos para os hóspedes ‘seis estrelas’
Luxo, discrição, personalização. E muito dinheiro envolvido. Os projetos dessa faixa de mercado dificilmente anunciam o aporte total. É que por trás das operadoras hoteleiras estão grandes investidores, fundos soberanos ou de private equity.
— Nessa categoria de alto luxo, hotéis feitos do zero custam de R$ 700 mil a R$ 900 mil por apartamento, sem contar o valor do terreno que, tipicamente, representa perto de 15% do total do investimento — diz Schnürle.
Projetos de longo prazo
A americana Rosewood Hotels & Resort abre em São Paulo, em 2019, seu primeiro hotel na América do Sul. Vai revitalizar a Cidade Matarazzo, conjunto de prédios históricos do início do século XX. É iniciativa do Grupe Allard, que adquiriu o imóvel da Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) em 2011 por R$ 117 milhões. A previsão é investir R$ 1 bilhão na implementação do projeto. E envolve nomes como os do arquiteto francês Jean Nouvel; do designer francês Philippe Starck, além de artistas brasileiros como Beatriz Milhazes e Saint Clair Cemin. Serão 151 quartos, 122 suítes com proprietários, dois restaurantes, estúdio de música e mordomias.
A europeia Oetker Collection, que descreve seu portfólio como “hotéis obra de arte”, prepara o Palácio Tangará para abertura no segundo semestre de 2017, no Parque Burle Marx. Ao todo, terá 141 quartos, sendo 59 suítes.
— O desejo dessa sofisticada clientela está focado em personalização, na busca de lugares com alma, onde o toque de sofisticação e a atenção a cada detalhe contam mais que a alta tecnologia — conta Frank Marrenbach, CEO da Oetker Collection.
A promessa é oferecer experiências exclusivas. No Eden Rock, em St. Barths, no Caribe, se traduz em compor uma música no estúdio onde John Lennon gravou “Imagine”, na Villa Rockstar.
A Four Seasons, que opera o luxuoso George V, em Paris, está entrando no mercado brasileiro por São Paulo, ano que vem. Tem um contrato com a Iron House, subsidiária do grupo pernambucano Cornélio Brennand, para abrir duas unidades no país. A segunda ficará na Reserva do Paiva (PE), mas não deve abrir antes de 2019. Nos dois negócios, o investimento é dividido entre a Iron House e a Autoridade de Investimento de Abu Dhabi.
— Hotéis de luxo são projetos de longo prazo. As grandes marcas, como a Four Seasons, jogam o destino no radar do viajante de luxo. Além disso, elevam o padrão da hotelaria local — explica Alinio Azevedo, vice-presidente de Desenvolvimento do grupo para as Américas.
Na América do Sul, a Four Seasons já conta com unidades em Buenos Aires e Bogotá. E planeja chegar a Rio, Lima e Santiago. Na capital fluminense, seria a operadora do Hotel Glória, segundo fontes de mercado. Com a transferência do empreendimento de Eike Batista ao Mubadala, fundo soberano de Abu Dhabi, anunciada no mês passado, não há informação sobre o futuro do hotel.
O Four Seasons São Paulo ficará no Parque da Cidade, e terá 254 quartos e 84 unidades residenciais. Cada uma custará a partir de US$ 750 mil. As vendas começaram em novembro. Terá serviços como o menu que chega ao quarto do hóspede em 15 minutos e experiências exclusivas.
Silvio de Araujo, diretor de Marketing e Vendas do Grand Hyatt Rio de Janeiro, que abre em março na Barra da Tijuca, cita o upgrande na hotelaria:
— A chegada de marcas fortes da hotelaria de luxo faz com que o Brasil se aproxime de destinos com os quais concorre, mas que estavam um passo à frente, como Cancún e o Caribe.
Suíte na cobertura com piscina de borda infinita, terraço e vista para o mar, cozinha gourmet; elevador exclusivo para garantir privacidade são algumas das delícias do Grand Hyatt Rio, com diária que custará em torno de R$ 1.100, estima Araujo.