Honda produz com hora extra para entregar novo utilitário esportivo
Valor EconômicoPagar horas extras de trabalho, investir em equipamentos mais eficientes para aumentar o ritmo da produção e, em meio a isso, ainda ter consumidores dispostos a esperar mais de três meses para comprar seu último lançamento são, para a maioria das montadoras, situações que podem parecer absurdas diante da crise atravessada pela indústria automobilística nacional. Mas, neste ano, essa tem sido a rotina na fábrica de automóveis da Honda instalada há 18 anos em Sumaré, no interior paulista.
A montadora japonesa está tendo que correr para atender à demanda pelo HR-V, o modelo que, há dois meses, marcou sua chegada ao crescente mercado de utilitários esportivos compactos. Em abril, em seu primeiro mês completo de vendas, o HR-V liderou esse segmento com emplacamentos de quase 5 mil unidades - mais de 2 mil acima dos volumes registrados pelos dois modelos que até agora dominavam com folga esse filão: o EcoSport, da Ford, e a Duster, da Renault. Acrescentando os volumes das duas últimas semanas de março, quando chegou às concessionárias, as vendas do HR-V somam 7,3 mil unidades, ou 15% dos 50 mil colocados como meta para todo o ano.
Conforme a própria companhia, a lista de espera pela versão mais equipada do carro chega a 100 dias, apesar dos quase R$ 89 mil cobrados pelo produto. Já quem quiser comprar a versão mais básica, que parte R$ 70 mil, pode ficar um mês na fila.
Em Sumaré, onde monta o HR-V junto com os modelos Fit, City e Civic, a Honda tem capacidade instalada de 540 veículos por dia, mas está produzindo a um ritmo diário de 652 unidades porque tem adotado jornadas extras de trabalho de 1h40 em cada um de seus dois turnos. Só o HR-V está respondendo por 37% ou, em alguns dias, 46% dessa produção.
Para abrigar o modelo, a fábrica de Sumaré está recebendo equipamentos que lhe permitem aumentar a produtividade. Só nos setores de soldagem, onde é feita a armação das carrocerias, são 29 novos robôs. Em setembro, a Honda já tinha inaugurado uma segunda linha de prensas e, no setor de pintura de peças plásticas, comprou cinco novos robôs para reduzir de 67 para 43 segundos a aplicação de tinta nos para-choques dos veículos. Com isso, será capaz de produzir mais 800 para-choques por dia, chegando a um total que passa de 2 mil peças diárias.
O grupo investiu R$ 250 milhões para produzir o HR-V em Sumaré. As melhorias no parque industrial, porém, não se devem apenas à chegada do novo carro. A montadora também precisou aumentar a produção de materiais porque a unidade será responsável por suprir a demanda por motores e peças plásticas da fábrica que está em construção na cidade de Itirapina, onde R$ 1 bilhão são investidos.
Itirapina vai dobrar a capacidade de montagem de carros que a Honda tem hoje no Brasil e, com isso, aliviar a sobrecarga carregada hoje pelo complexo industrial de Sumaré. A expectativa é que a nova fábrica fique pronta até o fim do ano. Sua inauguração, porém, só deve acontecer em 2016. O prazo para a ativação das linhas vai depender de como o mercado vai se comportar até lá. "O início da operação vai depender do mercado e da economia. Provavelmente não começa neste ano", disse Carlos Eigi, vice-presidente responsável pela área industrial da montadora.
A marca tem como meta manter até o fim do ano o crescimento de 15% das vendas registrado entre janeiro e abril. No primeiro quadrimestre, o lançamento do HR-V, somado ao avanço de 52,6% e 22,3% das vendas do Fit e do City, respectivamente, conseguiu compensar a queda de 43,7% nos licenciamentos do modelo Civic.