12/12/08 10h02

Há mais pessimismo que fatos na crise brasileira, diz presidente da Deloitte

Valor Econômico - 12/12/2008

A versão brasileira da crise financeira mundial consiste de "mais pessimismo que fatos", na opinião de Juarez Lopes de Araújo, presidente da firma de auditoria e consultoria Deloitte, uma das chamadas quatro grandes do setor no mundo. Para o executivo, o Brasil vai sair da crise comparativamente melhor do que entrou e deve se tornar pela primeira vez um ator de peso no cenário mundial. "O interesse pelo país nunca foi tão grande", disse ontem em um encontro com jornalistas. Em agosto, quando assumiu o comando da Deloitte no país, Araújo tinha um "discurso de posse" bastante otimista, que poderia ser interpretado como o habitual para a ocasião. Desde então, a situação mundial só fez deteriorar, mas Araújo continua animado com as perspectivas de crescimento do país. "É a pior crise já vista, não há dúvida, mas no Brasil ela será mais branda do que em outros países." No entanto, o executivo admite que, em meio as manchetes dos últimos meses, o ambiente não está muito propício para sua pregação. Em toda conversa com clientes, o primeiro assunto é sempre a crise. "Até minha filha de 12 anos já disse que não agüenta mais esse assunto." No contato freqüente com executivos de companhias de diversos setores, Araújo percebe muita incerteza sobre os efeitos da crise no Brasil, qual o grau de contaminação. Isso acaba, obviamente, levando a uma relutância na tomada de decisões, mesmo em empresas que não tiveram quaisquer problemas na vida real. "Os executivos estão sob pressão", afirma. "É difícil justificar um investimento num momento como este, principalmente se for uma multinacional." Ainda assim, Araújo diz que a Deloitte não teve nenhum de seus projetos cancelado, apenas dois que foram adiados. Segundo ele, as decisões, de forma geral, estão sendo jogadas para março, quando as empresas esperam ter uma visão mais clara da situação.