11/04/10 11h09

Grau de investimento ampliou mercado

O Estado de S. Paulo

A pontuação máxima do Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) foi alcançada em maio de 2008, três semanas depois de a agência de classificação de risco Standard & Poor"s (S&P) conceder ao Brasil o selo de qualidade chamado grau de investimento. Hoje, quase dois anos mais tarde, o Ibovespa volta a namorar um número histórico. Sexta-feira, o principal termômetro da bolsa brasileira fechou nos 71.417 pontos, 2,86% abaixo do recorde (73.516).

Em condições normais, esse desempenho seria considerado frustrante, pois um país que recebe tal promoção costuma assistir a uma forte valorização de seus ativos - as ações entre eles. Nos últimos dois anos, porém, o mundo não viveu condições normais. Ao contrário: a crise originada com o estouro da bolha imobiliária americana é a pior desde a Grande Depressão. Por isso, o desempenho "fraco" da Bovespa é relativizado por profissionais do mercado financeiro. Para eles, o grau de investimento foi vital, entre outras coisas, para que a bolsa brasileira se recuperasse tão rapidamente após o forte declínio que se seguiu à piora da crise global.

"O grau de investimento trouxe mudanças substanciais para o Brasil", afirma o copresidente do banco Credit Suisse no País, Marcelo Kayath. "Em várias operações recentes que fizemos, tanto de renda fixa quanto de ações, percebemos a participação de investidores que antes não compravam ativos do País." O chefe de análise da SLW Corretora, Pedro Galdi, emenda: "O principal ponto do investment grade (nome em inglês) foi mesmo abrir a possibilidade de grandes fundos virem para cá."

Os entusiastas do grau de investimento batiam principalmente nessa tecla quando projetavam o aumento do fluxo de dinheiro para o Brasil. É o que Kayath comprova hoje na prática. "Vimos grandes fundos de pensão, principalmente dos EUA, e endowments (fundações ligadas às universidades americanas) passarem a aplicar aqui."

Isso já começa a se refletir no Brasil pós-grau de investimento. A pedido do Estado, o analista Felipe Salto, da Tendências Consultoria, fez um levantamento que aponta expressiva alta dos investimentos em ações e papéis de longo prazo do Brasil. Os números revelam forte recuo nas posições de estrangeiros em títulos brasileiros de curto prazo após o grau de investimento. "O perfil de longo prazo permite que o Brasil cresça de forma mais sustentada", diz Salto. Mas ele pondera que há mais por fazer. "O fluxo não durará para sempre e não estamos fazendo mudanças necessárias para crescer com poupança doméstica."