01/02/10 10h27

Governo planeja criar 'superlaboratório' com apoio do BNDES

Valor Econômico

O governo quer criar um "superlaboratório" nacional para competir de igual para igual com as grandes multinacionais que atuam no país. O BNDES vai financiar esses projetos. Em entrevista ao Valor o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, afirmou que o BNDES buscará fortalecer as indústrias nacionais para que elas tenham escala como as grandes companhias farmacêuticas internacionais. "O governo vê como positiva a criação de uma grande empresa nacional", afirmou o ministro.

Desde o fim do ano passado, o BNDES tem conversado reservadamente com empresas nacionais. O banco propõe financiar fusão entre laboratórios e também aquisições, por meio do Profarma, programa de fomento voltado para o setor farmacêutico, cujo orçamento é de R$ 3 bilhões (US$ 1,6 bilhão) até 2012. Até dezembro, os financiamentos do BNDES já somavam R$ 1,374 bilhão (US$ 731 milhões).

Os planos do governo de fortalecer as empresas nacionais começaram a ser discutidos em 2008, mas ganharam força no fim do ano passado, impulsionados pelo intenso movimento de concentração do setor. "O governo quer evitar que multinacionais adquiram empresas nacionais de peso, a exemplo do que ocorreu com a Medley, que foi comprada pela companhia francesa Sanofi-Aventis", afirmou uma fonte do setor. Temporão disse que o governo também quer estimular investimentos em pesquisas e desenvolvimento (P&D) de empresas nacionais e troca de tecnologia. O BNDES financiou cerca de R$ 302 milhões (US$ 160,6 milhões) em P&D até dezembro e pretende elevar esses investimentos nos próximos meses.

O governo tem acompanhado atento ao movimento de concentração no Brasil e acredita que companhias nacionais fortalecidas, com pesquisas em inovação, podem trazer uma nova visão estratégia da saúde no país. Segundo o ministro, o papel da saúde, além de ter um forte componente de política social, tem de ter uma visão industrial, mas com foco em desenvolvimento. Temporão tem uma preocupação em reduzir o déficit comercial do governo, que ficou em torno de US$ 7 bilhões no ano passado. O governo pretende baixar esse valor para até US$ 4,4 bilhões e desenvolver tecnologias para a produção, no país de 20, de produtos estratégicos do SUS (Sistema Único de Saúde) até 2013.

Temporão defende o programa do governo, o chamado Complexo Industrial da Saúde, como forma de estimular programas mobilizadores em áreas estratégicas para levar o Brasil a ter domínio sobre o conhecimento científico-tecnológico. Segundo o ministro, o governo concluiu nove projetos envolvendo parcerias, nos quais participam sete laboratórios públicos, sete privados, um deles estrangeiro, para o desenvolvimento de 14 produtos. Esses projetos somam compras anuais da ordem de R$ 650 milhões (US$ 345,7 milhões), com economia estimada entre R$ 130 milhões/ano (US$ 69 milhões/ano) e R$ 150 milhões/ano (US$ 79,8 milhões/ano), nos próximos cinco anos.

Em 2009, o Brasil movimentou R$ 30,2 bilhões (US$ 15,3 bilhões) em vendas de medicamentos. O potencial é de crescimento acima de dois dígitos nos próximos anos. "Há dez anos o perfil dos laboratórios nacionais era de poucos investimentos e escala baixa. Hoje a situação é bem diferente. Já temos multinacionais brasileiras", afirmou uma fonte.