Gerdau e grupos japoneses fazem parceria para atender setor eólico
Valor EconômicoEm meio a um cenário de sobreoferta de aço no mundo e de competição feroz com as exportações chinesas e turcas, que espremem as margens de ganho dos negócios, o grupo Gerdau começa a implementar uma nova estratégia, centrada no modelo do que chama de compartilhamento de expertises. O objetivo é garantir mais valor ao aço, com menor foco na tonelagem, um modelo que prevaleceu até 2008.
Até aquele momento, o grupo cresceu com aquisições e novos investimentos em aumento de capacidade de produção, figurando entre os 15 maiores do mundo e líder nas Américas em aços longos. "Hoje, o caminho é outro. Estamos adotando uma estratégia que inclui três pilares: mudança no modelo de gestão, revisão da cultura empresarial e revisão do portfólio de negócios", afirmou ao Valor o presidente do grupo, André Gerdau Johannpeter.
O anúncio ontem da joint venture com duas companhias japonesas para criação de uma operação dedicada a atender o mercado de equipamentos do setor de geração de energia eólica é um dos primeiros passos nessa direção. Não vai parar por aí, disse o executivo, que evitou apontar outros exemplos de parcerias. "Com o compartilhamento, nesse caso, que iniciamos estudos um ano e meio atrás, entramos com instalações e ativos, e as duas companhias japonesas com know-how de mercado e tecnológico".
Ele adiantou ao Valor que antes do Carnaval a empresa deverá formalizar uma parceria tecnológica, que não envolve associação societária, para o seu negócio de produção de chapa grossa em Ouro Branco (MG). O know-how tecnológico do parceiro visa enriquecer a linha de produtos do novo laminador - desde aplicações menos nobres até as de alto grau de exigência, tanto no mercado interno quanto externo. A linha de chapa grossa, com operação prevista para o fim do ano, será antecipada para o mês de julho.
A associação com os dois grupos japoneses - Sumitomo Corporation. e The Japan Steel Works (JSW) -, com investimentos de R$ 280 milhões, prevê começar a produção em algum momento de 2017, a depender da aprovação dos órgãos anti-truste do país. A Gerdau, que ficará com mais de 50% do capital da nova empresa - provavelmente Gerdau Aços Forjados -, aportará uma linha de cilindros de aço e instalações junto à sua usina de aços especiais em Pindamonhangaba (SP). E será a fornecedora da matéria-prima ao novo negócio.
No empreendimento, a Gerdau não terá desembolso de caixa, que ficará a cargo dos sócios, para compra dos equipamentos de produção das peças e componentes para a estrutura de geração de energia eólica: eixo principal, rolamentos da pá e rolamento da torre. "Vamos estar presentes desde a base ao topo da torre, com vergalhões, chapa grossa e aço especial", disse o executivo, ressaltando o potencial de negócio desse segmento elétrico, que prevê passar de 8 GW para 24 GW até meados da próxima década.
Ao todo, com cilindros e as peças, a produção prevista é da ordem de 50 mil toneladas por ano. A Gerdau, que já produz cilindros no local, para siderúrgicas e fundidoras de alumínio, vai reforçar essa divisão com tecnologia japonesa. Quer, com o câmbio, incrementar as exportações, hoje destinadas a mais de 30 países. Isso, mais a entrada no mercado eólico, será uma forma de compensar parte da perda de venda de aços especiais, cujo o grande cliente no país é o mercado automotivo.
"O nosso negócio no mundo, do jeito que mudou, não tem lugar para cada um ter sua própria operação em determinados casos", afirma o executivo. Por isso, a revisão detalhada do portfólio da companhia para avaliar as oportunidades de cada negócio e como mantê-la, ou não. Ele destaca que a empresa vai buscar nas suas mais diversas operações - Brasil, América Latina e do Norte, Europa e Índia - valor para a empresa e retorno aos acionistas.
"Só trabalhar para baixar custo, o que continuará a ser feito, e ações de defesa comercial tem limites na competição com a China. Outras alternativas é que vão trazer valor, mas isso não ocorre de um dia para o outro", diz André. Ele acrescenta que é uma estratégia adotada em um momento difícil para mostrar ao mercado e ao corpo funcional interno o rumo tomado pela companhia diante de um cenário de crise.
A empresa, como outras siderúrgicas, enfrenta no Brasil uma recessão econômica que levou a uma retração no consumo de aço de quase 20% no ano passado. E que vai cair mais em 2016, entre 5% e 6%, a depender de como ficará a queda do PIB do pais no ano. A Gerdau e outras fabricantes estão ajustando suas operações ao tamanho do mercado brasileiro, bem como em outros países, que são atacados por aço chinês.
Após inaugurar em novembro investimento de US$ 700 milhões no México, que vai substituir importações e atender o mercado da América do Norte em perfis estruturais, a Gerdau aposta no laminador de chapa grossa no Brasil para substituir a exportação de placas (semiacabado de baixo valor agregado). Com produção de 1,1 milhão de toneladas/ano, faz parte de investimento de R$ 3,4 bilhões que marcou a entrada no negócio de aço plano no Brasil, diversificando atuação no setor.
A primeira fase, um laminador de bobinas a quente, já está em operação desde 2014. O grupo de 115 anos completados neste mês começou fabricando pregos e tem longa tradição no segmento de aços longos, como vergalhão. A indústria eólica é uma das únicas que ainda demonstra aquecimento na demanda por chapas de aço no país para a fabricação de estruturas das torres de geração.
Na Argentina, no meio do ano, vai inaugurar nova unidade (aciaria), substituindo importação de tarugos do Brasil. "Com isso, vamos ter ganhos na redução de custos na hora em que o mercado lá, com novo governo, aponta uma expectativa positiva", diz. O investimento é de US% 190 milhões.
Segundo o executivo, com isso, o grupo está encerrando uma fase de grandes investimentos, devendo baixar bastante seus aportes neste ano.