GE crescerá no Brasil neste ano, apesar da crise, diz CEO
Valor EconômicoA americana GE, um dos maiores produtores mundiais de equipamentos industriais, continua a considerar o Brasil como um mercado prioritário, apesar do difícil ciclo pelo qual passa o país, marcado pela polarização política e pela volatilidade financeira. "Esperamos crescer no Brasil este ano mesmo em um ambiente desafiador", disse Jeff Immelt, presidente global da GE. A manutenção da aposta no mercado brasileiro se dá em um momento de mudança para a GE. A empresa vendeu a maior parte dos serviços financeiros e focou-se no crescimento do negócio industrial. Em 2015, fechou a maior compra de sua história, a divisão de energia da Alstom. Nessa transição, surge uma "nova" GE, que vai disputar a liderança da chamada "quarta revolução industrial".
Esse conceito de "quarta revolução ou indústria digital" vem sendo usado para definir fábricas "inteligentes" que usam informações e tecnologias de comunicação em seus processos de produção. O objetivo da GE é entregar maior produtividade aos clientes. De acordo com Immelt, a produtividade industrial, em termos globais, cresceu em média 4% por ano entre 1990 e 2010. A partir de então, a taxa caiu para apenas 1%. Por meio do avanço industrial digital, a GE espera retomar e impulsionar o crescimento da produtividade. "Estamos preparados para aumentar a produtividade do Brasil. E será desta maneira que a GE manterá a agenda de crescimento no país."
A internet ligada à indústria deve representar US$ 20 bilhoes em receitas, com a venda de aplicativos e softwares, para a GE, em 2020 (este ano esse número deve ser de cerca de US$ 7 bilhões). Essa receita com o negócio digital, se confirmada, fará da GE uma das dez maiores empresas de software do mundo, disse Immelt. Em 2015, a GE faturou US$ 117 bilhões no seu negócio industrial e registrou lucro de US$ 15,9 bilhões. Immelt completa este ano 15 anos como presidente da GE. "Vivemos em um tempo de grande volatilidade e onde a polarização política tornou-se uma verdade em todos os países do mundo, é parte do jogo."
Quando se tornou presidente da GE, a companhia tinha 70% das vendas nos Estados Unidos. Este ano 70% da receita virá de fora do mercado americano. No processo de transição, a GE vendeu os serviços financeiros da GE Capital, com exceção daqueles prestados ao negócio industrial do grupo, em uma transação que permitirá à empresa receber US$ 36 bilhões. Isso dá à GE capacidade de recomprar ações no mercado e de fazer aquisições de empresas, embora o foco seja o crescimento "orgânico".
Parte da transformação pela qual passa a GE ocorreu em 2015, quando a companhia concluiu a compra da divisão de energia da Alstom por US$ 10,6 bilhões. São esperados ganhos a partir da combinação das linhas de produtos das duas companhias. "Há muita complementariedade [com a Alstom], em termos de tecnologia, com o que a GE tem", disse Immelt.
No Brasil, onde está há 96 anos (desde 1919), a GE tem 21 fábricas. Nessas unidades, todas as linhas de negócios da GE estão representadas (energia, gerenciamento de energia, energia renovável, óleo e gás, transporte, iluminação, saúde e aviação). Mas a diferença hoje é que fábricas que antes funcionavam com uma única linha de produto agora são multidisciplinares (produzem três, quatro tipos de produto). "Reconhecemos que o momento é mais difícil do que há um ano, há mais riscos, então é preciso trabalhar mais forte para trazer soluções financeiras que viabilizem projetos. Nossa agenda é de crescimento para 2016", disse Rafael Santana, presidente da GE para a América Latina.
Immelt, que tenta visitar o Brasil pelo menos uma vez por ano, reconhece que existe mau-humor com o Brasil no mercado internacional. Ele não citou números sobre o crescimento no mercado brasileiro este ano, mas indicou que deve ser na casa de um dígito, na mesma linha da meta fixada para as operações globais, que prevê expansão entre 2% e 4% este ano. "Nós ainda vemos oportunidades para a companhia [no mercado brasileiro]." E acrescentou: "Eu olho mais o micro do que o macro. Se olhar de um ponto de vista macro, [a situação] é bastante deprimente. Mas se olhar do ponto de vista micro, verá muitas oportunidades", disse Immelt.
As perspectivas de negócios da GE no país incluem os segmentos de energia e de transportes (locomotivas). A empresa também tem atuação forte na aviação e em equipamentos para a saúde. O setor de óleo e gás, apesar das dificuldades, também está no radar: "A Petrobras é um grande cliente e precisamos estar preparados para atender suas necessidades." A desvalorização do real, afirmou, torna mais competitiva a exportação de produtos manufaturados a partir do mercado brasileiro. Apontou como fatores positivos o fato de o Brasil ter "massivos" recursos naturais, crescimento populacional e um setor agrícola forte, além de grandes necessidades em áreas como eletricidade e saúde, segmentos atendidos pela GE. "Minha crença no setor privado continua. Existe no Brasil uma grande classe empresarial", disse.