Gás natural é fronteira de expansão
Secretaria de Energia e MineraçãoA proximidade da região produtora de gás e petróleo da Bacia de Santos é a grande aposta de São Paulo para ampliar, diversificar e dotar de maior confiabilidade o sistema energético da maior região industrial do país. Com uma população de cerca de 43 milhões de habitantes, o Estado tem como maiores consumidores de energia os setores industrial e de transportes, que demandam quase 80% do total de energia.
A produção atual de São Paulo é formada principalmente por energia hidráulica, derivados de cana-de-açúcar e gás natural. Dado o esgotamento das possibilidades de ampliação da energia gerada por hidrelétricas, é o gás natural que assume a principal aposta para tornar o sistema mais diversificado e menos sujeito a oscilações ambientais, como a falta de chuva.
O secretário de Energia, João Carlos Meirelles, lembra que São Paulo sempre foi peça importante na geração de energia hidrelétrica no país, mas agora o caminho é desenvolver o mercado de gás natural. “Gás agora é o foco. Sempre fomos protagonistas em energia elétrica, o que permitiu o desenvolvimento econômico. Acontece que se esgotou a capacidade hidrelétrica do Estado, que está interligado ao sistema nacional. Como a fonte de energia está muito distante, no Norte do país, torna-se cada vez mais problemática a transmissão. Para termos mais segurança, precisamos gerar energia no centro de carga, que são as regiões metropolitanas, polos industriais. Precisamos gerar energia adicional.”
Com essa estratégia, o Estado aposta na criação do Gasoduto Rota 4 para transportar o gás natural proveniente dos campos de Santos para o centro consumidor, a região metropolitana. Hoje em dia o gás da Bacia de Santos é escoado por meio de três rotas: uma no litoral paulista (Rota 1, que entra por Caraguatatuba) e duas no Rio de Janeiro (Rota 2, por Cabiúnas, e Rota 3, por Itaboraí).
O Gasoduto Rota 4 vai permitir quase dobrar a oferta de gás natural no Estado, ampliando em cerca de 15milhões de metros cúbicos por dia. Esse excedente poderá ser utilizado em usinas termelétricas para produção de energia, menos poluentes que as movidas a diesel. O projeto conta com investimentos bancados integralmente pelo consórcio de concessionários de distribuição de gás no Estado. Segundo Meirelles, o projeto deve ser concluído em 2022, com um custo de até R$ 7,5 bilhões.
São Paulo consome cerca de 17milhões de metros cúbicos de gás por dia, sendo cerca de 8,5 milhões originários do gasoduto Brasil-Bolívia e outros 8,5 milhões compostos por contribuições dos campos de Mexilhão e Merluza, no litoral paulista.
O estabelecimento de uma nova rota permitirá ampliar a oferta de gás em cerca de 15 milhões de metros cúbicos por dia.
Otávio Mielnik, coordenador de projetos da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e autor de um estudo sobre energia em São Paulo, concorda com a estratégia e diz que ela é fruto de alta complexidade do Sistema energético em São Paulo. “O Estado tem um sistema bem complexo fruto da necessidade das empresas instaladas na região, que ao longo do tempo demandaram mais energia, de variadas matrizes. Agora, a opção pelo gás faz todo o sentido, porque o petróleo que é extraído do pré-sal possui até 20% de gás associado que é retirado junto com o óleo e por lei não pode ser queimado. Tem que ser utilizado.”
Segundo a FGV, outra fronteira energética que São Paulo desbrava são os biocombustíveis. O estudo revela que a demanda prevista de etanol será de 22,6 bilhões de litros anual em 2020, tornando necessária a produção adicional por ano de 540 milhões de toneladas de cana-de-açúcar.
A implantação e a ampliação de usinas em andamento devem aumentar em 40 milhões de toneladas por safra o processamento de cana no Estado. Ainda assim faltam cerca de 500 milhões de toneladas a serem obtidas para atender à demanda estadual em 2020. Isso corresponde à implantação de 77 novas usinas, com uma capacidade de 1 milhão a 2 milhões de toneladas do produto processado por safra.
Meirelles lembra que o setor atravessa hoje uma de suas maiores crises, por conta da ausência de uma política federal para o álcool e biocombustíveis. Para amenizar esse problema, o governo estadual promove uma série de ações que visam aumentar a receita das usinas.
“Temos um programa na região nordeste do Estado, em Franca, Ribeirão Preto, Barretos, Catanduva, onde estão 35 das 122 usinas. Elas produzem na rede 750 megawatts de potência oriundos do processamento do bagaço da cana e da palha. Na região, teremos firmes cerca de mil megawatts de cana e palha. Há uma atuação forte de coordenação com as distribuidoras para fazer a conexão delas com as subestações de energia.”
Segundo estudo da FGV, São Paulo pode aumentar sua produção de biocombustíveis a partir de oleaginosas e da recuperação de óleo de fritura (integrando a indústria de alimentos à produção de biodiesel) de modo a atender à demanda prevista para 2020 (1,8 bilhão de litros/ano), que duplicará o consume atual de biodiesel.
Para fazer frente a esses investimentos, São Paulo volta suas atenções para o financiamento privado. Enquanto no passado quase sua totalidade era bancada por recursos públicos, agora o Estado investe em concessões ou Parcerias Público-Privadas (PPPs) para viabilizar os recursos.
Recentemente, o Estado regulamentou a criação dessas PPPs e concessões a fim de estimular a participação de parceiros privados nessas empreitadas. Fruto da regulamentação, foi concluída a chamada pública para o recebimento de projetos de implantação de até seis usinas termelétricas no entorno de Piratininga. Por meio de concessões, espera-se gerar até 1.500 megawatts com essas usinas, que têm investimentos orçados ao redor de R$6 bilhões.
O esforço de incluir o financiamento privado nos projetos de energia envolve diversas secretarias. Entrou no ar em agosto um projeto da Secretaria de Governo do Estado uma plataforma digital em que empresas e instituições governamentais podem sugerir PPPs, bem como acompanhar o desenvolvimento de cada uma delas.