05/04/18 11h41

Fundos de investimento veem oportunidade no Brasil

Valor Econômico

Dos US$ 5,5 trilhões somados pelos dez maiores fundos soberanos no mundo, 43% são árabes. E a maioria dos investimentos via fundos feitos pela comunidade muçulmana em países estrangeiros nos últimos anos foi no Brasil, segundo Michel Alaby, secretário-geral e CEO da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira.

A última grande operação aconteceu por meio da Qatar Petroleum, na semana passada, na 15ª Rodada de Licitação de exploração de petróleo e gás no país, quando comprou quatro áreas por R$ 1,02 bilhão. "Estamos em constantes conversas com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também para formação de fundos que viabilizem investimentos em possíveis projetos no Brasil", afirma Alaby.

O que potencializaria operações como a que ocorreu com o frigorífico Minerva um ano após firmar sociedade com o fundo da Arábia Saudita, o Saudi Agricultural and Livestock Investment (Salic), com aporte de R$ 746 milhões por 20% do capital do grupo. A transação lhe conferiu capital para expansão de negócios para a América do Sul. O BNDES, para Alaby, poderia ser um agente ativo nesse ambiente de investimentos.

Os árabes também buscam desde o fim de 2017 firmar um acordo entre o BNDES e o Qatar Development Bank (QDB) para financiamento do comércio exterior entre o Brasil e o bloco de 22 países.

O secretário alerta, no entanto, que para que acordos e novos investimentos sejam feitos é preciso primeiro resolver questões tributárias e burocráticas que emperram o avanço das negociações, como a bitributação sobre o lucro das empresas tanto no país em que está operando quanto no que recebe as remessas. "O acordo do Brasil com a Turquia é exemplo a ser replicável, pois elimina a bitributação." Falta ainda, na visão de Alaby, desburocratizar a abertura de empresas no Brasil para estimular os investimentos em setores específicos.

Visto como parceiro importante pelas delegações árabes para a viabilização de projetos com recursos tanto de operações de renda variável quanto de crédito, falta ainda ao BNDES conhecimento prévio dos projetos para avaliação de risco e viabilidade.

"Vejo que o Brasil tem necessidade de avançar na indústria 4.0, na qual os árabes têm expertise, por exemplo, e há recursos para isso. Mas precisamos de projetos viáveis", disse o ex-presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, durante o Fórum Econômico Brasil - Países Árabes. Segundo Rabello, o banco vinha estudando liberação de R$ 50 bilhões por ano para viabilizar essas operações via fundos de investimentos, nos próximos cinco anos, já a partir de 2018. "Essas operações podem servir para custear esses e outros projetos."

O nível de investimento feito pelo governo brasileiro em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) nacional é considerado baixo por delegações internacionais e nacionais e precisa melhorar para tornar o país mais atraente. "É de 16%, muito abaixo dos 20% indicados pela OCDE como mínimo necessário para ajudar a girar o ciclo econômico de um país. O Brasil falha ao deixar de usar o potencial árabe", disse Rabello.

Contudo, após dois anos de retração econômica, os indicadores de recuperação do Brasil devem se refletir também na retomada de investimentos árabes no país, na opinião de Abdul Aziz Al-Makhlafi, secretário-geral de comércio e indústria da Câmara Árabe Alemã. "Assim como os árabes, os investidores alemães têm interesse na economia brasileira. Hoje 1,6 mil empresas alemãs atuam no Estado de São Paulo", considera Aziz.

Tanto que algumas visitas estratégicas já foram efetuadas esta semana, como ao Porto de Santos, feita pela delegação do Egito, no dia 3, em busca de oportunidades de investimentos. "Temos que pensar diferente para incrementar o comércio multilateral. Desenvolver estudos para facilitar o transporte considerando a localização geográfica entre Brasil e Egito. O intercâmbio hoje ainda é pequeno por causa dos altos custos da logística", disse Abd El Kader Darwish, vice-presidente e ministro da Zona Econômica do Canal de Suez.

"No comércio com o Brasil, 75% dos produtos são matérias-primas. Queremos olhar além para outros mercados e produtos, pois o Egito tem potencial para isso e a passagem marítima mais importante do mundo", reforça Darwish.