03/09/07 11h09

Fundo agressivo dobra presença no país

Folha de S. Paulo - 03/09/2007

Considerados os agentes mais agressivos do capitalismo financeiro, os fundos de "private equities" [participação fechada em empresas] dobraram sua presença nas fusões e aquisições em menos de dois anos no Brasil, segundo estudo da consultoria PriceWaterHouseCoopers obtido pela Folha. Segundo a Price, esses fundos, liderados por estrelas do empresariado nacional como Armínio Fraga (Gávea), estão hoje presentes nas maiores aquisições de empresas em território nacional e nas aberturas de capital mais concorridas na Bovespa. Apenas neste ano, os "private equities" estiveram presentes em 39 grandes negócios -mais do que os 34 de todo o ano passado e o dobro das 18 transações de 2005. Das últimas 83 aberturas de capital, 20 foram estruturadas por esses fundos. O modelo de negócio é sempre o mesmo: comprar pelo menor preço possível parte ou a totalidade de uma empresa com sérias dificuldades, cortar gastos, demitir muita gente considerada ineficiente, consertar rapidamente a gestão, ampliar as receitas, colocar a contabilidade em dia e sair fora -seja vendendo a participação para uma empresa concorrente ou abrindo o capital na Bolsa de Valores. Em geral, esse trabalho leva em média três anos. E o retorno para o cotista é sempre maior do que ele teria ganho com ações na Bolsa. A receita deu certo com várias empresas que hoje são vedetes da Bovespa, como a empresa aérea Gol (e mais tarde a Varig), a construtora Gafisa, a distribuidora de TV Multicanal/Globocabo, o site Submarino/Americanas, as varejistas Brasif e ShopTime, os laboratórios Dasa, entre outros casos. Nos EUA, esses fundos estão no epicentro da crise financeira por alavancarem as aquisições por meio de empréstimos. No Brasil, os "private equities" são bem menos arrojados e parecem estar imunes à crise. Os dois maiores fundos latino-americanos -Advent e GP Investimentos- fecharam em meio à crise captações de mais de US$ 2,3 bilhões e procuram novas empresas para investir. Isso porque, apesar da agressividade na hora de extrair lucro de empresas quase falidas, eles se consideram investidores de prazo mais longo -ou seja, são pouco prejudicados pelas oscilações diárias do mercado. Dizem ainda que podem ganhar caso a crise reduza a possibilidade de investimento de alto retorno nas Bolsas. Mesmo assim, a presença dos "private equities" nas fusões e aquisições brasileiras não passa de 10% do total desses negócios, segundo a Price. Ainda segundo a Price, os negócios de fusões e aquisições totalizaram 411 de janeiro a julho deste ano, sendo que apenas 39 tiveram a participação desses fundos.