22/06/15 16h09

Franquia em favela excede a expectativa dos empresários

Comunidades da Rocinha, no Rio, e Paraisópolis, em São Paulo, servem como laboratório para as marcas

Folha de S.Paulo

Gerentes de marcas de franquias que já operam em favelas do Rio e de São Paulo afirmam que os resultados dos investimentos são uma surpresa positiva.

É o caso de Santiago Ricardo, 41, que é dono, como franqueado, de oito lojas da rede de tratamento de dentes Odontoclinic.

Há quatro meses, ele abriu uma unidade em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo e, segundo diz, o faturamento tem sido mais do que o dobro do esperado (ele prefere não divulgar números).

Um dos sócios da franqueadora, Lucas Romi, 26, diz que a taxa de inadimplência da unidade é de 5%, o que está em linha com as demais.

A escola de inglês Yes! é outra que abriu em Paraisópolis neste ano. O ponto pertence à própria franqueadora, que quer testar o negócio primeiro em uma favela de São Paulo para crescer com franqueados em outras.

Clodoaldo Nascimento, presidente da rede, conta que em 2009 fizeram o mesmo com a Rocinha, no Rio. Depois, abriram franquias no Vidigal, no Complexo do Alemão, em Cidade de Deus e em Jardim Bangu.

Uma outra franquia que faz testes na Rocinha é a Elefante Verde, agência de marketing digital para pequenos negócios. A empresa presta serviços como o envio de e-mails para clientes cadastrados, construção de páginas de empresas na web etc.

Alexandre Itaboraí, 43, é franqueado e diz que muitos dos moradores preferem usar seu dinheiro na própria comunidade. "Quem vive lá sente um desprestígio do resto da cidade e se orgulha quando uma marca abre na Rocinha", conta.

O negócio nas favelas tem peculiaridades em relação às lojas em outros pontos, afirmam os franqueadores.

Por exemplo, grande parte dos pacientes da Odontoclinic em Paraisópolis só consegue fazer tratamentos à noite. Isso implica pagamento de horas extra a funcionários, diz Ricardo. Ele conta que, aos sábados, tem um baile funk na rua. "Durante a festa, muita gente vê minha marca. Eles não vão lá na hora, mas, se o dente dói, ficam com o nome na cabeça."

Na Yes!, as mensalidades de unidades em favelas são mais baratas do que as "do asfalto", mas os franqueados pagam as mesmas taxas e royalties à rede.

Já na Elefante Verde enfrentou uma rotatividade de funcionários mais alta do que o normal, conta o sócio Fabio Melo Duran, 32, sem apontar razões pela diferença.

Para Tadeu Masano, da FGV-SP, franquias não devem olhar as favelas como a salvação da lavoura.

Ele diz que, entre as pessoas que ganham até dois salários mínimos, uma fatia alta, de 70% da renda, é comprometida com habitação, alimentação e transporte. A segurança do ponto também precisa ser levada em conta.

Renato Meirelles, do Data Popular, também lembra que os espaços, além de reduzidos, podem ter problemas de regularização fundiária.