Franceses promovem SP a hub tecnológico
Valor EconômicoStartups francesas estão de olho no Brasil. A cidade de São Paulo foi reconhecida como o primeiro French Tech Hub da América Latina pela Business France, agência de internacionalização de empresas francesas. O selo funciona como um indicador de centros urbanos em que os empreendimentos devem priorizar oportunidades de crescimento.
O objetivo do governo da França, considerado o terceiro país em número de companhias inovadoras no mundo, é atrair mais negócios para o mercado brasileiro e fechar contratos em reais. Um programa batizado de French Tech Ticket também abre portas para que empresários brasileiros recebam, por um ano, sessões de mentoria na Europa.
Segundo Benoit Trivulce, diretor da Business France América Latina, os primeiros French Tech Hubs foram criados em 2014. A iniciativa do governo francês é construída em cada país por empreendedores franceses expatriados, com o apoio financeiro do banco público Caixa de Depósitos, da Bpifrance (o equivalente ao BNDES e Finep), além da Business France. "Dentro do plano de negócios de uma startup, a internacionalização é prioridade porque seu mercado pode ser global", diz.
Existem 22 French Tech Hubs no mundo e as primeiras comunidades foram instaladas em cidades como Nova York e Tóquio. Em outubro, foram anunciadas mais dez unidades. Além de São Paulo, entraram na lista locais como Berlim, Dubai e Milão.
Nicolas Queyroux, coordenador do French Tech Hub paulista, explica que a iniciativa não precisa de uma estrutura física para funcionar. Foi criada uma página no Facebook e serão organizados eventos para reunir a comunidade, promover investimentos e negócios entre startups francesas e brasileiras, diz. Um evento de lançamento está marcado para o primeiro trimestre de 2017. "Entre as vantagens de participar da rede de empreendedores está a troca de experiências e um acesso mais ágil a investidores na França."
O French Tech Hub São Paulo já possui mais de 350 pessoas conectadas, atuando em segmentos como fintechs, bancos, marketing digital e e-commerce. "O objetivo é reunir, até o final de 2017, 250 projetos de startups, além de empresas ligadas ao meio digital e grandes grupos com estratégias no ramo." Segundo Queyroux, existem 150 startups de origem francesa em São Paulo.
Entre os principais "embaixadores" da ação no Brasil estão empresários com investimentos consolidados no país, como Thibaud Lecuyer, CEO do comércio eletrônico de moda Dafiti; Cyrille Reboul, CEO do Webedia Brasil, grupo francês dono dos sites TudoGostoso e AdoroCinema, além de Mathieu Le Roux, co-fundador de negócios como a Le Wagon Brasil, Deezer e IDInvest.
"Os objetivos são mostrar ao Brasil que a marca 'França' é sinônimo de inovação em tecnologia e conscientizar os empreendedores franceses sobre o tamanho do mercado brasileiro", diz Le Roux. O empresário parisiense inaugurou em julho, em São Paulo, a escola de programação para internet Le Wagon, que oferece cursos presenciais de nove semanas. "Qualquer pessoa sem conhecimento prévio será capaz de criar um site completo, do design à gestão do banco de dados."
A empresa começou em Paris em 2013 e já formou cerca de mil alunos. Atua em outros 20 pontos no mundo, como Londres, Barcelona e Lisboa. São Paulo foi a primeira cidade da América Latina a receber a escola, que montou operações também no Rio de Janeiro e Belo Horizonte (MG). Emplacou três turmas no Brasil, com cerca de 40 alunos. O curso de 360 horas custa R$ 15 mil e pode ser pago em 12 vezes.
Le Roux diz que a recessão brasileira não atrapalhou seu plano de negócios. "Alguns alunos decidiram fazer o curso depois de perderem seus empregos."
Em 2017, pretende levar a escola para outras cidades. Operações em países na América Latina também estão em estudo.
Para quem deseja estudar e trabalhar um ano na França, o governo francês criou o French Tech Ticket, programa seletivo que acompanha 70 startups estrangeiras no país, com ações de internacionalização e desenvolvimento. Alexandre Barral, gerente de projetos de investimentos da Business France no Brasil diz que a iniciativa oferece 45 mil euros de subvenção por negócio.
Este ano, na segunda edição do projeto, 50 startups brasileiras entraram na seleção, o que torna o Brasil o quarto país em volume de candidaturas, depois dos Estados Unidos, China e Índia. As vencedoras serão anunciadas em janeiro. Além do apoio financeiro, ganham um espaço de trabalho em uma incubadora, acompanhamento de mentores e contatos com investidores. A abertura das inscrições para a próxima edição está prevista para o primeiro semestre de 2017.