Francesa Altrad tem plano de entrar no Brasil
valor econômicoO grupo francês Altrad, um dos líderes mundiais de produtos de construção, busca oportunidade no Brasil e definiu o montante para aquisição no país: por volta de US$ 100 milhões (R$ 347 milhões). Em entrevista ao Valor, o presidente do grupo, Mohed Altrad, observou que está presente em quatro dos cinco continentes e quer entrar no Brasil como base para operações no resto da América do Sul.
"Há alguns anos tivemos oportunidade no mercado brasileiro, mas veio a crise econômica e ficamos muito reticentes", afirmou. "Mas agora estamos abertos a aquisição, é bom acelerar quando os outros estão freando".
Altrad busca uma companhia "suficientemente grande" nos nichos aonde opera para justificar a operação e "evitar um fiasco que seria ruim para todos". Observa que o Brasil está mais barato, com a desvalorização do real. E acha que US$ 100 milhões pode ser suficiente para esse tipo de negócio.
O grupo Altrad é líder mundial na fabricação de betoneiras, o número 1 europeu para fabricação de carrinho de mão e venda e locação de andaimes, número 2 da França de produtos tubulares para municípios, alem de máquinas de compactação e misturador de cimento.
Mohed Altrad cresceu como beduíno na Síria, veio para a França há 46 anos com uma bolsa de estudos e sobreviveu com uma refeição por dia. Hoje, ele faz parte da lista Forbes de bilionários franceses com fortuna avaliada em US$ 1 bilhão.
Em trinta anos, Altrad comprou quase uma centena de empresas sem recorrer à Bolsa. Desde o ano passado, dobrou o tamanho do grupo. Primeiro, pagou € 230 milhões pelo controle da concorrente holandesa Hertel, especializada em instalação e desmontagem de andaimes em plataformas petrolíferas, terminais portuários e complexos de gás. Este ano, desembolsou € 450 milhões por um concorrente francês, Prezioso, reforçando sua posição nos serviços de manutenção industrial, soluções de acesso e proteção anti-corrosão.
Com isso, seu faturamento deve passar de € 1,6 bilhão no ano passado para € 2,5 bilhões este ano, com Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) previsto de 300 milhões de euros. O número de funcionários aumentou 10 mil em um ano, para 22 mil. "Minha ambição é dobrar para 40 mil empregados, e isso pode ser rápido", disse.
O empresário conta que está presente em quase 100 países, onde faz 80% do faturamento, sendo os 20% restantes na França. Tem 22 fábricas e considera que ter uma produção local no Brasil ajudará a expandir na América do Sul. "Nunca estive no Brasil, mas sei o potencial do país e da região", afirmou. Pelas informações que recebeu, acha que a crise economica pode ter chegado ao fundo do poço e agora tende a recuperação.
Mohed Altrad considera essencial uma presença internacional forte, para dar equilibrio aos resultados do grupo. "Veja bem, na Grã-Bretanha, para nós o mercado está bem, na França, está estável, cresce na Alemanha e na China antes crescia 15% e agora sobe 6%, mas expande de toda maneira", exemplificou.
Depois de ter conquistado o título mundial de "empreendedor do ano" em evento da consultoria EY, em 2015, Altrad foi convidado pelo presidente francês François Hollande para dirigir um programa de combate ao desemprego. "A França tem dívida de € 2 trilhões e precisa de reformas, mas o presidente Hollande demorou e agora parece não dar mais (para fazê-las no seu mandato)", avalia.
Mohed Altrad está engajado na area esportiva como controlador do time de rubgy de Montpellier, cujo estádio tem seu nome desde setembro do ano passado. Mas descarta os rumores de aquisição do Marseille, um dos times de futebol mais popular da França. "É um time muito difícil", afirmou.