01/03/16 11h48

Ford prepara exportação a três novos mercados

Valor Econômico

A Ford vai levar caminhões montados no Brasil a três novos mercados na América Latina - México, Colômbia e Peru - para utilizar melhor a capacidade da fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, onde a montadora, assim como seus concorrentes, tem sido forçada a realizar constantes paradas de produção.

As negociações com revendedores locais já começaram em direção a um plano que prevê a abertura de três a cinco concessionárias em cada um desses países. A ideia é aproveitar o câmbio favorável e, no prazo de um ano, expandir a atuação no exterior, hoje concentrada apenas no Chile e na Argentina, principal destino dos veículos embarcados por montadoras brasileiras.

É o caminho que as maiores fabricantes de veículos comerciais estão tomando após as vendas domésticas caírem praticamente pela metade em 2015, reflexo da crise econômica e da falta de confiança na economia - ambas minando a propensão das transportadoras a investir na renovação da frota -, combinadas ao aumento no custo, a condições mais restritivas, dos financiamentos a bens de capital.

Enquanto a demanda interna chegou, em 2015, ao patamar mais baixo em doze anos, as exportações reagiram, fazendo com que as montadoras de caminhões dedicassem a clientes no exterior 28% da produção. Em 2014, a parcela era de apenas 13%.

Na Scania, as exportações já respondem por 60% dos caminhões fabricados em seu parque industrial, também instalado em São Bernardo. Na Ford, a proporção é de praticamente um em cada três caminhões produzidos no ABC. Durante 2015, 4,1 mil caminhões deixaram as linhas de produção da americana no Brasil com destino aos mercados argentino e chileno - 759 a mais do que em 2014, mas ainda bem distante das quase 8 mil unidades exportadas em 2005.

"Antes, quando produzíamos a plena capacidade, nossa briga era por ter maior produção destinada ao mercado local. A situação mudou e temos que ir atrás dos clientes. Não adianta reclamar, precisamos fazer a lição de casa", afirma João Pimentel, diretor da divisão de caminhões da Ford. "O dólar [mais caro] nos deu viabilidade. Temos agora de nomear os revendedores", acrescenta o executivo ao comentar o estágio do plano de chegar a novos mercados.

No Brasil, a direção da Ford prevê mais um ano de redução, na faixa de 5% a 8%, das vendas da indústria de caminhões. A reação, ainda que gradual, só deve vir em 2017, aposta Pimentel.

Para ganhar território em meio à tempestade, a marca tem a oferecer a seus clientes mais oito lançamentos, o dobro do número de 2015. Eles começam por seis modelos da família Cargo a serem apresentados hoje à imprensa especializada, nos quais a Ford estendeu aos caminhões semipesados, capazes de transportar até 45 toneladas, a tecnologia de câmbio automático presente na linha pesada, cuja capacidade de carga passa das 45 toneladas.

A nova linha começa a ser comercializada em abril, mês em que também está agendado o lançamento dos outros dois modelos programados para 2016. Tudo está dentro de um programa de investimentos de R$ 455 milhões iniciado em 2011 e encerrado no ano passado.

O objetivo é repetir a experiência de 2015, quando, no embalo do relançamento das caminhonetes da Série F, a Ford triplicou as vendas no segmento de semileves, permitindo à marca aumentar de 14,3% para 18% sua participação de mercado num ano considerado dramático pela indústria de veículos comerciais.

Não que a Ford tenha aumentado seus volumes, mas, ainda que expressiva, a queda de 34,1% dos licenciamentos de caminhões da marca foi melhor do que a redução próxima a 48% de todo o mercado. Os 20% de participação nas vendas totais no país são agora a nova meta a ser perseguida pela montadora.

Pimentel diz que, embora negativo e ainda afetado pela alta seletividade dos bancos na liberação de crédito, 2016 parece ser um ano mais previsível, o que facilita o trabalho na hora de programar a produção. "Em 2015, achávamos que o mercado faria 99 mil veículos. Mês a mês, tínhamos que revisar esse número", lembra. No fim, o ano terminou com menos de 72 mil caminhões vendidos no Brasil.