02/04/08 10h19

Fiesp contesta FGV sobre oferta da indústria

Folha de S. Paulo - 02/04/2008

Uma das grandes discussões hoje é se a produção da indústria terá condições ou não de atender o forte crescimento da demanda no país. A grande preocupação é se será ou não necessário o Banco Central aumentar o juro para frear a expansão da demanda com o objetivo de evitar a alta da inflação. O número divulgado na segunda-feira pela Fundação Getulio Vargas para o nível de utilização da capacidade instalada para março acendeu o sinal amarelo. O Nuci registrou uma alta de 84,7% para 85,2% de fevereiro para março, depois de um período de queda. Em linha com o que o Banco Central tem assinalado, a própria FGV chamou a atenção para esse descompasso entre a capacidade da indústria e a alta da demanda. No lado oposto do front, a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) contesta a tese da FGV. Para a Fiesp, os investimentos estão se maturando dentro de um tempo hábil e isso, por si só, seria suficiente para conter os ânimos da alta da Selic por parte da autoridade monetária. "A indústria tem mostrado claros sinais de que está em condições de atender o crescimento da demanda", diz Paulo Francini, diretor do departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp. Para provar sua tese, a Fiesp realizou um estudo comparando os níveis de utilização da capacidade instalada da FGV, da Fiesp e da CNI (Confederação Nacional da Indústria). Enquanto o Nuci da FGV subiu de 84,7% para 85,2% de fevereiro para março, o da CNI ficou em 81,6% em janeiro, contra 84,3% da FGV no mesmo mês. Já o mesmo indicador calculado pela Fiesp para a indústria paulista ficou estável em 81,9% em janeiro e fevereiro. A Fiesp chama a atenção, em primeiro lugar, para as diferenças no cálculo do Nuci pela FGV e pela CNI. A pesquisa da FGV é feita com cerca de mil empresas, geralmente de maior porte, enquanto a da CNI é feita com 2.300 companhias. Em segundo lugar, o valor divulgado pela FGV tem forte aderência ao resultado do mês anterior da CNI. O indicador é divulgado no mesmo mês da coleta. Para a Fiesp, isso quer dizer que o valor divulgado em março deve estar mais relacionado ao Nuci de fevereiro. Outro ponto importante no estudo da Fiesp diz respeito à trajetória do próprio Nuci. O ano passado começou com uma trajetória decrescente da taxa de juros, mas com índices semelhantes ao atual Nuci. De julho a novembro de 2007, o Nuci estava em patamar superior ao atual, de acordo com os números da FGV e da CNI, e o BC, segundo a Fiesp, não viu motivos para se preocupar com os juros. "Ou seja, o Nuci, naquele período, não era preocupação nem para o BC nem para a FGV, e agora passou a ser para ambos", diz o estudo da Fiesp. Além disso, a Fiesp diz, ainda, que a expansão da capacidade ocorre de forma continuada e crescente. O consumo aparente de máquinas e equipamentos cresceu 18% em 2007 e 20% no segundo semestre. Já em dezembro e janeiro, o crescimento subiu para 22,4%. "Não sabemos onde está o bicho mau que o BC e a FGV estão vendo", diz Francini.