Ferramenta ajuda PME a ter mais competitividade
Valor EconômicoDe olho em um nicho que representa mais de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e concentra acima de 50% dos empregos, sindicatos e bancos desenvolvem plataformas e metodologias para tornarem as micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) mais competitivas e sustentáveis. No mundo corporativo, são elas que pendem para o lado mais frágil da balança.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), seis em cada dez empresas fecham as portas antes de completar cinco anos de vida. E as razões estão além da crise econômica atual. Má gestão dos negócios, falta de processos de governança, baixa eficiência e fluxo de caixa modesto são os principais fatores.
De olho nisso, o Serviço Social da Indústria (Sesi) em parceria com Sebrae, Senai e com o apoio do Banco Mundial, desenvolveu uma tecnologia com modelo para tornar as empresas de menor porte mais sustentáveis e, consequentemente, mais competitivas. A ferramenta está sendo aplicada em sete Estados e adotada por 360 empresas e 12 mil trabalhadores. "Para começar, estabelecemos sete temas para trabalhar com as empresas e doze setores representativos da indústria nacional", explica Marcos Tadeu de Siqueira, diretor de operações do Sesi nacional.
O ponto de partida foi o mapeamento do grau de competitividade de cada setor. A média geral ficou em 26,5%, com destaque para o eletroeletrônico, que atingiu o maior nível, de 49,7%. A menos competitiva foi a área de reparação de veículos, com 13%.
Feito o diagnóstico, um questionários foi aplicado para definição do desenho do plano de ação que deveria transcorrer por 12 meses. Ao final do processo, inicia-se a mensuração dos resultados. "Percebemos que os fatores que mais impactam as micro e pequenas empresas estão ligados a pesquisa, desenvolvimento e inovação", aponta Siqueira.
Na análise de valor, os públicos interno e externo são ouvidos e itens como cultura organizacional, ambiente de trabalho e forma como se relacionar com fornecedores, clientes, comunidade e meio ambiente são trabalhados. "Depois entram fatores tangíveis como eficiência e performance, e intangíveis, como credibilidade e imagem da empresa". Para 2017, a meta é atingir mil empresas com esse programa, envolver 71 sindicatos e atuar em todos os Estados.
A construtora familiar paranaense, Arbotec, diz que o que a motivou a participar do projeto foi a garantia de que ao adotar um programa sustentável a empresa ia se tornar também mais competitiva e eficiente. Com 15 anos de existência, a Arbotec trabalha em um dos setores mais atingidos pela crise e viu aí a sua chance de melhorar sua performance.
As ferramentas de gestão foram aplicadas nos ambientes interno e externo, com clientes e fornecedores. "Desde o início, vimos os resultados. Ouvimos respostas dos colaboradores e o feedback foi ótimo", afirma Gerusa Helena Abreu Radzlminski, membro do conselho de administração e do conselho fiscal da Arbotec. Nesse período, eram montadas mesas redondas com trabalhadores e líderes, com a participação do Sesi e consultores, para discutir desde cultura organizacional, missão e valores a ambiente de trabalho e produtividade.
Na avaliação do antes e depois, os itens ligados à cultura motivacional e comprometimento, progrediram de 50% para 66% e de 40% para 55%, respectivamente, com elevada melhora do comprometimento e proatividade também junto às causas comunitárias. "O relacionamento com o cliente e consumidores atingiu satisfação de 100%. Algo inédito na história da empresa", garante Radzlminski.
No ambiente de trabalho, a eficiência dobrou. Já o conceito de sustentabilidade foi o que exigiu maior esforço para compreensão. O que mais agregou na participação do projeto, na opinião da Arbotec, foi reavaliar todos os processos de produção da empresa. "Quem trabalha com obra sabe que isso é muito importante para reflexão e mudança de ações no dia a dia. Houve ganho de eficiência", diz Radzlminski.
Do lado dos bancos, com o intuito de melhorar a performance de sua carteira de PMEs, que vem sofrendo sucessivas quedas, o Santander resolveu adotar no Brasil uma plataforma que já utiliza em seis dos 13 países nos quais atua. A ferramenta auxilia clientes e não clientes a melhorar seus processos internos e se tornar mais sustentáveis por meio de cursos de gestão, vídeo de capacitação de empresários e funcionários, chat com advogados, contadores, acesso rápido a legislação, planilhas de governança e fluxo de caixa. "Para as empresas que se tornam ou já são clientes, estamos também disponibilizando até o final deste ano mil estagiários de diferentes áreas para passarem quatro meses atuando com eles", afirma Linda Murasawa, superintendente executiva de desenvolvimento sustentável do Santander. O programa já atingiu 130 mil acessos no portal e 5,4 mil clientes em eventos presenciais.