Fapesp vai à China em busca de parcerias
Simpósio de três dias buscará estreitar relações entre os dois países na área da ciência; interesse dos chineses no Brasil é crescente
O Estado de S. PauloO baixo grau de internacionalização da ciência brasileira é um dos seus pontos mais fracos em termos qualitativos. Ciente dessa limitação, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) lança nesta semana, na China, mais uma iniciativa de incentivo à globalização da produção científica nacional.
Um grupo de cientistas brasileiros está neste momento em Pequim para apresentar um panorama da pesquisa “made in Brazil” (e, mais especificamente, “made in São Paulo”), ouvir o mesmo relato do lado chinês e estreitar relações entre os dois países – que já se relacionam relativamente bem nas esferas da economia e da política, mas nem tanto nos campos da ciência e da tecnologia.
O evento de três dias, Fapesp Week Beijing, será realizado em parceria com a Universidade de Peking (PKU), instituição que está entre as 50 melhores do mundo no ranking do Times Higher Education. Pesquisadores brasileiros e chineses farão apresentações sobre suas respectivas pesquisas em áreas estratégicas para os dois países, como nanotecnologia, biomedicina e energias renováveis.
A China, assim como o Brasil, aumentou significativamente sua produção científica nos últimos dez anos e hoje é o terceiro país que mais publica trabalhos científicos em revistas indexadas internacionais, atrás apenas dos Estados Unidos e do bloco da União Europeia. O que faz dela uma potência científica em ascensão, de calibre semelhante ao de seu status como potência econômica emergente.
O objetivo da Fapesp com o simpósio é plantar as sementes de futuras parcerias, de modo que as ciências dos dois países possam continuar a crescer juntas. A iniciativa foi inaugurada na noite desta terça-feira (dia 15), com a abertura de uma exposição de desenhos e fotografias sobre a biodiversidade brasileira (Brazilian Nature) na biblioteca da PKU, seguida de um encontro de autoridades na Embaixada Brasileira em Pequim.
“A cooperação científica hoje em dia se baseia essencialmente em relações paritárias e igualitárias. Não há cooperação em que os dois lados não ganhem; tem de ser uma cooperação em pé de igualdade”, disse ao Estado o embaixador do Brasil na China, Valdemar Carneiro Leão. Segundo ele, o simpósio da Fapesp será importante para “identificar nichos de pesquisa onde seja possível, desejável e proveitoso desenvolver colaborações” entre os dois países.
Desde 2012, a fundação já organizou eventos semelhantes nos Estados Unidos (seis cidades), Canadá (Toronto), Espanha (Salamanca e Madri), Japão (Tóquio) e Reino Unido (Londres), dentro de um esforço estratégico de internacionalização da ciência paulista e brasileira.
Interesse nacional. No evento da embaixada, chamou a atenção a presença de vários jovens chineses que aprenderam ou estão aprendendo a falar português – num esforço para superar uma das principais barreiras a uma interação mais disseminada entre os dois países, que é a barreira linguística e cultural. Mais de 20 universidades da China já oferecem cursos de língua portuguesa, segundo uma professora. Dez anos atrás, eram apenas 3.
“O interesse pela língua portuguesa aumentou muito nos últimos anos”, disse a chefe do Setor Cultural e Educacional da embaixada brasileira, Simone Meira Dias. Um aumento que, segunda ela, está relacionado tanto a objetivos de trabalho quanto turísticos. Os jovens chineses veem o domínio do português como uma vantagem competitiva na hora de procurar empregos em áreas nas quais a China se relaciona com o Brasil ou com outros países de língua portuguesa. “Eles já detectaram que falar português é um diferencial”, observa Simone. “E quanto mais os países estreitarem suas relações, mais oportunidades de trabalho eles terão.”
“O Brasil é visto aqui como um país muito promissor”, confirmou, em bom português, o vice-diretor do Núcleo de Cultura Brasileira da PKU, Hu Xudong. “Todo mundo aqui conhece a frase que ‘o Brasil é o país do futuro’.” Além das oportunidades profissionais, segundo ele, há muito interesse acadêmico pela cultura brasileira, que o centro ajuda a cultivar por meio de palestras, cursos, oficinas temáticas e apresentação de filmes nacionais. “Os alunos sempre têm interesse de estudar no Brasil”, afirma Xudong. “As relações políticas entre os países são muito boas, mas na educação ainda há um grande espaço para ser preenchido.”
O núcleo foi criado em 2004 (inaugurado pelo então presidente Lula) e já ensinou o básico do português a mais de 500 alunos, segundo Xudong. Além disso, a PKU criou um curso de graduação em Português, em 2007, que formou 30 alunos até agora.