Fapesp lança programa para atrair instituições científicas de renome mundial para São Paulo
Fundação lança novo programa com o objetivo de estimular a criação de centros internacionais de pesquisa em universidades e institutos paulistas
Agência SPA Fapesp lançou o programa Centro Internacional de Pesquisa (CIP) com o objetivo de estimular a criação de centros internacionais constituídos por entidades científicas de renome mundial em parceria com universidades e instituições de pesquisa paulistas.
“O propósito do CIP é possibilitar a consolidação de São Paulo como um ambiente de pesquisa colaborativa de excelência internacional, onde cientistas estrangeiros possam efetivamente trabalhar em conjunto com jovens pesquisadores em início de carreira e estudantes de pós-graduação paulistas”, diz à Agência Fapesp Marcio de Castro, diretor científico da Fapesp.
De acordo com o dirigente, está prevista a criação de nove CIPs nos próximos anos, em universidade ou instituição de pesquisa pública ou privada.
Cada CIP poderá receber recursos de até R$ 30 milhões da Fapesp por um período de cinco anos. Os recursos poderão ser mobilizados pelas instituições parceiras de acordo com os instrumentos de apoio disponibilizados pela FAPESP: bolsas de doutorado, pós-doutorado e estágio no exterior, auxílio a jovens pesquisadores e aquisição de equipamentos multiusuários.
“Os CIPs terão um orçamento definido para projetos de pesquisa previamente aprovados pelas duas instituições parceiras e avaliados pela FAPESP, em áreas estratégicas para o Estado de São Paulo e na fronteira do conhecimento. A ideia é que esses projetos colaborativos permitam não só a ida de pesquisadores paulistas para o exterior, mas também a vinda e a fixação em São Paulo de grupos internacionais de cientistas, em vários níveis de carreira”, explica Leandro Colli, assessor para colaborações internacionais da Fapesp.
Segundo Colli, uma das exigências para a constituição dos CIPs é a presença cativa de pesquisadores vinculados a instituição internacional parceira nos centros de pesquisa.
“A finalidade dos CIPs é estabelecer parcerias institucionais de longa data que permitam o livre intercâmbio de estudantes de graduação e pós-graduação e de pesquisadores”, afirma.
As universidades e instituições de pesquisa paulistas serão responsáveis pela prospecção e estabelecimento de parcerias com instituições internacionais para a constituição dos CIPs. A contrapartida econômica será na forma de salários de pesquisadores e de pessoal de apoio, infraestrutura e instalações dos centros. Já as instituições internacionais serão encarregadas do pagamento de salários e auxílio para a permanência de seus pesquisadores em São Paulo.
“Acreditamos que os CIPs terão impacto importante na comunidade de ciência, tecnologia e inovação do Estado, já que manterão forte colaboração internacional”, avalia o diretor científico da Fapesp.
Primeiro CIP
O primeiro CIP a integrar o novo programa é o Centro Internacional de Pesquisa (IRC) “Transições”, lançado pelo Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), da França, e a Universidade de São Paulo (USP).
Inaugurado no campus da USP, em São Paulo, em março de 2024, o IRC é o sexto criado pelo CNRS em parceria com uma universidade no mundo. A instituição já estabeleceu parcerias semelhantes com as universidades do Arizona e de Chicago (Estados Unidos), com o Imperial College London (Reino Unido), com a Universidade de Tóquio (Japão) e com a Universidade de Sherbrooke (Canadá).
A principal missão do IRC Transições é estimular a pesquisa interdisciplinar, abordando desafios globais complexos, nas áreas de ciências humanas e sociais, ecologia e meio ambiente, oceanografia, biologia, tecnologias quânticas, metodologias e aplicações de computação e agricultura e descarbonização.
“O IRC Transições alcançou um marco significativo e passou por uma evolução estratégica de grande importância ao se tornar, desde o final de fevereiro, o primeiro Centro Internacional de Pesquisa financiado pela FAPESP. Esse avanço representa uma mudança de paradigma na cooperação científica internacional”, avalia Liviu Nicu, diretor do escritório do CNRS na América do Sul e diretor científico do centro.
“Para o CNRS, cujo compromisso com o Brasil, e em particular com o Estado de São Paulo, é de longa data e de grande envergadura, esse reconhecimento tem um valor estratégico fundamental, pois reflete a importância que nosso parceiro brasileiro atribui à colaboração científica de longo prazo e ao seu fortalecimento contínuo”, disse.
Alguns dos avanços alcançados no primeiro ano de operação do IRC foi a constituição de dois laboratórios internacionais de pesquisa (IRLs, na sigla em inglês). O primeiro IRL, com foco em biologia, está localizado no campus da USP em Ribeirão Preto e tem o objetivo de avançar na compreensão das respostas imunes e inflamatórias, particularmente as associadas à inflamação pulmonar e neurológica crônica.
O segundo, batizado “Mundos em Transição”, é dedicado às ciências humanas e sociais e está situado no campus da USP em São Paulo. As pesquisas são voltadas a explorar transformações globais complexas, incluindo mudanças climáticas, transição energética e o impacto da inteligência artificial.
“A França tem um longo histórico de cooperação com a USP, especialmente no campo das humanidades. Pesquisadores franceses participaram da fundação da universidade, em 1934. Mas essa colaboração científica tem sido muito baseada em redes pessoais, mantidas por pesquisadores que foram realizar doutorado ou pós-doutorado na França e estabeleceram uma rede de cooperação que muitas vezes é rompida quando se aposentam, por exemplo”, diz François-Michel Le Tourneau, diretor de pesquisa do IRL Mundos em Transição.
“O objetivo de constituir esse laboratório na USP, em São Paulo, é estruturar melhor e aumentar a cooperação, possibilitando o diálogo permanente e a existência dessas redes de colaboração científica por um longo prazo”, explica o geógrafo.
Uma das primeiras iniciativas dos pesquisadores do laboratório será mapear a rede de cooperação científica entre franceses e brasileiros no campo das humanidades, que, ao contrário das existentes nas áreas de exatas e de saúde, por exemplo, é mais difícil de ser aferida porque a produção científica não está lastreada em artigos científicos, ponderou Le Tourneau.
Na avaliação de Marco Antonio Zago, presidente da Fapesp, o laboratório pode se concretizar em uma iniciativa estruturante para consolidar a colaboração científica na área de ciências humanas no Estado de São Paulo.
“Temos muita expectativa de que essa será uma iniciativa estruturante e de longo prazo na cooperação científica em ciências humanas entre o Estado de São Paulo e a França”, avaliou.