FAPESP direciona 52% dos recursos a pesquisas com claro impacto econômico e social
Agência FAPESPCom uma receita de R$ 1,22 bilhão em 2014, a FAPESP destinou R$ 1,15 bilhão a pesquisas científicas e tecnológicas desenvolvidas no Estado de São Paulo. É um desembolso 4,5% superior ao ano anterior, segundo dados do Relatório de Atividades 2014, que será lançado nesta quarta-feira (22/07), às 16h, na sede da Fundação, com uma exposição de reproduções de obras da artista plástica Maria Bonomi que ilustram a publicação.
O relatório mostra que 82% dos recursos que compõem a Receita da Fundação, o equivalente a R$ 998,67 milhões, foram transferidos pelo Tesouro Estadual. Esse repasse do Tesouro é determinado pela Constituição e equivale a 1% da receita tributária do Estado de São Paulo.
O restante da receita é composto por recursos próprios: R$ 74,70 milhões referentes a receitas patrimoniais e R$ 149,07 milhões referentes a outras fontes de recursos, como é o caso dos convênios para financiamento conjunto de pesquisas em que alguns parceiros escolhem repassar os recursos para a FAPESP administrar o desembolso.
“Apesar da desaceleração da atividade econômica no país registrada em 2014, que a afeta, a FAPESP foi capaz de manter seus compromissos e de cumprir com sua missão de apoiar, para o bem da sociedade, o desenvolvimento da pesquisa em nosso Estado”, diz o presidente da Fundação, Celso Lafer.
Em 2014, a FAPESP recebeu 18.286 pedidos de apoio a projetos de pesquisa. Foram assinados 11.609 novos contratos de apoio, solicitados no ano e em anos anteriores, e estavam em andamento 11.197 bolsas.
Direcionamento dos recursos
Pouco mais do que a metade (52%) do investimento foi direcionado a pesquisas com claro potencial de aplicação por meio de 15 programas, entre eles os que estimulam a pesquisa inovativa em pequenas empresas, os que promovem a parceria entre empresas e universidades e os que apoiam estudos para subsidiar a formulação de políticas públicas em áreas como Saúde, Educação e Meio Ambiente.
Outra parcela significativa (41%) dos recursos foi repassada a 12 modalidades de fomento que visam ao avanço do conhecimento. São programas que apoiam a formação de recursos humanos e estimulam a pesquisa acadêmica. E 7% foram investidos em programas voltados para a infraestrutura de pesquisa, para assegurar a continuidade das pesquisas no Estado de São Paulo com excelência.
Em 2014 aproximadamente um terço dos recursos (R$ 329,32 milhões) foram aplicados em pesquisas na área de Saúde. “Historicamente essa é a área que mais tem recebido recursos em virtude do grande número de pesquisadores que a ela se dedicam em São Paulo e a consequente maior demanda de projetos nesse campo”, diz Lafer.
As demais áreas de conhecimento que mais receberam recursos são Biologia, com 16% (R$ 182,94 milhões); Ciências humanas e sociais, com 10,44% (R$ 120,36 milhões); Engenharia, com 10,27% (R$ 118,43 milhões); e Agronomia e veterinária, com 8,21% (R$ 94,71 milhões).
Astronomia, porém, foi a que obteve o crescimento mais expressivo de recursos – 290% a mais que em 2013, devido principalmente à integração da FAPESP no consórcio internacional do Giant Magellan Telescope (GMT), que construirá o observatório e a estrutura mecânica do megatelescópio que será instalado nos Andes chilenos.
“A FAPESP investirá, nos próximos 10 anos, US$ 40 milhões no projeto, o que equivale a cerca de 4% do custo total estimado. O investimento garantirá 4% do tempo de operação do GMT para trabalhos realizados por pesquisadores de São Paulo, além de assento no conselho do consórcio. Oportunidades para a indústria em São Paulo já estão sendo geradas, O telescópio deverá iniciar as operações científicas em 2021 e ampliará em cerca de 30 vezes o volume de informações acessíveis aos telescópios atualmente em operação”, diz Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP.
As três universidades estaduais ficaram com 75% do desembolso da FAPESP no ano: R$ 548,30 milhões para a Universidade de São Paulo (USP), R$ 154,59 milhões para a Universidade Estadual Paulista (Unesp) e R$ 164,81 milhões para a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Pesquisadores dos institutos estaduais de pesquisa receberam R$ 62,62 milhões (5% do total). Os principais atendidos foram o Instituto Butantan, o Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto, o Instituto Agronômico (IAC) e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen).
Os projetos de instituições federais de ensino superior e pesquisa, sediadas em São Paulo, ficaram com 12% do total – R$ 139,96 milhões –, com destaque para a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que recebeu R$ 58,38 milhões, a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com R$ 43,82 milhões, e os institutos ligados ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), que receberam R$ 19,20 milhões.
Pesquisa colaborativa
Para aumentar o impacto acadêmico da ciência produzida em São Paulo, a FAPESP utiliza mecanismos para o desenvolvimento conjunto de pesquisas entre pesquisadores brasileiros e estrangeiros, especialmente aqueles que se encontram na ponta do conhecimento científico.
Modalidades de fomento à pesquisa, como os programas Jovens Pesquisadores e São Paulo Excellence Chairs (SPEC), proporcionam a vinda de pesquisadores de primeira linha, do exterior, para criar núcleos de pesquisa em universidades paulistas.
Reuniões científicas também são oportunidade para trazer ao país cientistas renomados. Em 2014 foram selecionadas quatro propostas para a Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA), modalidade que cria a oportunidade para cientistas de São Paulo organizarem eventos que tragam ao Estado pesquisadores de alta visibilidade mundial e que deem visibilidade aos programas de doutorado e oportunidades de estágio de pós-doutorado em São Paulo, especialmente para candidatos de outros países e regiões.
No ano foram realizadas quatro das seis propostas selecionadas em 2013, entre elas a ESPCA organizada pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), que trouxe ao país quatro laureados com o prêmio Nobel: o matemático John Nash, da Princeton University (Nobel de Economia 1994), morto em maio deste ano, e os três prêmios Nobel em Ciências Econômicas – o matemático Robert Aumann, da Hebrew University of Jerusalem, em Israel (Nobel em Ciências Econômicas 2005), e os economistas Eric Maskin (2007), da Harvard University, e Alvin Roth (2012), da Stanford University.
Bolsas e auxílios específicos favorecem o intercâmbio acadêmico. No ano foram contratadas 2.557 novas propostas de intercâmbio, sendo 2.441 contratadas nas modalidades regulares e 116 no âmbito de acordos de cooperação. De forma geral, os principais destinos escolhidos são, por ordem de preferência: Estados Unidos, França, Reino Unido, Espanha, Alemanha, Canadá, países da América Latina e Caribe e Itália. A Bolsa de Estágio de Pesquisa no Exterior (BEPE) foi a que registrou o maior número de projetos contratados, 984.
Internacionalização
“A pesquisa no mundo globalizado, mais do que nunca, não é territorializada. Tem como uma das suas dimensões a operação em rede. Daí a intensificação da diplomacia da ciência voltada para acordos de cooperação internacional, inclusive porque a geração do conhecimento não está circunscrita a poucos centros, pois a ciência opera num mundo mais nivelado, que exige mais interconexão entre pesquisadores de todas as regiões e procedências. Por isso, o empenho na internacionalização da FAPESP a que venho me dedicando como seu presidente”, diz Lafer.
Ao longo de 2014, estavam em vigor 160 parcerias firmadas com agências de fomento, universidades, institutos de pesquisa, empresas, entre outras instituições nacionais e internacionais. Desses, a maioria são acordos internacionais. Somente em 2014 foram assinadas 38 novas parcerias com organizações de 23 países da Europa, América do Sul, América do Norte e Ásia. Somando esses aos 10 acordos firmados até maio de 2015 e àqueles assinados em anos anteriores chega-se a um total de 134 acordos internacionais vigentes, sendo que 96% deles foram assinados durante os dois mandatos de Celso Lafer na presidência da FAPESP.
“Nosso objetivo é ampliar a capacitação dos pesquisadores de São Paulo em todos os campos, consolidando a vantagem comparativa do valor agregado do conhecimento que singulariza o nosso Estado no país. Assim, pelo seu efeito irradiador na vida nacional, contribuímos para ampliar a capacidade do Brasil de lidar com os seus desafios”, completa Lafer.
Resultados de algumas das pesquisas que estão em andamento no âmbito desses acordos de cooperação ganharam visibilidade acadêmica e na mídia durante as edições da FAPESP Week 2014 realizadas na China (Pequim), Alemanha (Munique) e nos Estados Unidos (Califórnia). Os três eventos reuniram 418 pesquisadores e inspiraram 238 notícias em veículos de comunicação nacionais e internacionais.
O objetivo desse formato de seminário que a FAPESP realiza desde 2011 no exterior em parceria com instituições de países conhecidos pela alta qualidade de suas pesquisas é apresentar a uma plateia qualificada os principais achados dos estudos colaborativos entre pesquisadores brasileiros e estrangeiros, assim como aproximar cientistas com interesses comuns ou complementares que possam resultar em novas colaborações científicas.
Em cinco anos a FAPESP Week já foi realizada em cidades como Washington DC, Morgantown, Cambridge, Charlotte, Raleigh e Chapel Hill (EUA), Toronto (Canadá), Salamanca e Madri (Espanha), Tóquio (Japão) Pequim (China), Londres (Reino Unido) e Munique (Alemanha). Em 2015 ocorreu em Buenos Aires (Argentina) e em Barcelona (Espanha).
Em Londres e em Boston (EUA), a FAPESP apresentou oportunidades de pesquisa e pós-doutorado em São Paulo para jovens cientistas estrangeiros durante a Naturejobs Career Expo 2014, uma das principais feiras de oportunidades de trabalho na área científica, realizada pela revista Nature.
Um dos resultados desse esforço de internacionalização é o aumento da atração de pós-doutores estrangeiros que correspondem a 17% das concessões de bolsas da FAPESP de pós-doutorado no Brasil.
Outro efeito pode ser avaliado pelo crescente número de visitas de delegações internacionais à FAPESP, interessadas no modelo de fomento da Fundação e nas possibilidades de parcerias. Visitaram a FAPESP em 2014 delegações da África do Sul, Alemanha, Canadá, Etiópia, Estados Unidos, França, Holanda, Irã, Japão, Peru, Portugal, Reino Unido e Tailândia.
Inovação
Na pequena empresa, a inovação é estimulada por meio do programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), que recebeu desembolso 51,77% maior que em 2013, num total de R$ 23,48 milhões. O interesse das empresas por essa modalidade de fomento e a qualidade das propostas apresentadas podem ser confirmados com o crescimento de 8,98% do número de projetos contratados e com o número de participantes dos eventos Diálogo sobre Apoio à Pesquisa para Inovação na Pequena Empresa. Mais de 500 microempresários e pesquisadores com ideias inovadoras participaram dos eventos, realizados na FAPESP para esclarecer dúvidas sobre como submeter uma proposta de pesquisa.
Por meio do programa Pesquisa em Parceria para Inovação Tecnológica (PITE) são apoiados os projetos derivados de parceria entre pesquisadores de instituições de pesquisa sediadas no Estado de São Paulo e de empresas. É por meio desse programa que são firmados os acordos de cooperação com empresas. No ano de 2014 estavam vigentes 16 acordos, sendo 14 com companhias nacionais – incluindo a Biozeus Desenvolvimento de Produtos Biofarmacêuticos S.A., assinado em 2014 – e duas norte-americanas.
O relatório destaca o lançamento, em novembro de 2014, do Centro de Pesquisa em Engenharia Professor Urbano Ernesto Stumpf, que deriva de um acordo de cooperação da FAPESP e da Peugeot Citroën do Brasil (PCBA) com a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e o Instituto Mauá de Tecnologia (IMT).
O centro de pesquisa será voltado ao desenvolvimento de motores de combustão interna, adaptados ou desenvolvidos especificamente para biocombustíveis, e a estudos sobre a sustentabilidade dos biocombustíveis.
O relatório também mostra que os programas permanentes da FAPESP de pesquisa em bioenergia, biodiversidade e mudanças climáticas globais vêm se consagrando como referência nacional e internacional no que diz respeito ao conhecimento sobre expansão sustentável de biocombustíveis, variabilidade climática no Brasil e no mundo, compreensão dos biomas brasileiros e sobre o passado da Amazônia, entre outros temas.
Lançamento oficial e exposição
O lançamento do Relatório de Atividades 2014 da FAPESP ocorrerá hoje, na sede da FAPESP, simultaneamente à abertura da exposição de 18 reproduções de obras da artista plástica Maria Bonomi, que ilustram a publicação. A exposição permanecerá aberta ao público, gratuitamente, de 23 de julho a 27 de agosto, das 9h às 17h.
Maria Bonomi é reconhecida como um dos grandes nomes da história da gravura brasileira. Nascida na Itália, em 1935, Bonomi chegou a São Paulo em 1946. Iniciou seus estudos artísticos em 1952 no ateliê de Yolanda Mohalyi, por sugestão de Lasar Segall. Em 1955 teve seu primeiro contato com a gravura ao se tornar aluna de Lívio Abramo e desse encontro nasceu sua intensa relação coma matriz. Estudou também na Europa e nos Estados Unidos.
A artista também realiza, desde 1960, cenários e figurinos para importantes peças teatrais. Concluiu seu doutorado na ECA/USP em 1999 em Poéticas Visuais. Em sua tese mostra que a arte precisa ser socializada. O que importa para ela é alcançar grandes plateias. Exemplo disso é o painel Epopeia Paulista, com 73 metros de extensão, instalado em 2005 na Estação da Luz (de trem e metrô). Recebeu diversos prêmios ao longo da carreira. Sua postura política está representada em suas obras e repercutiu em sua vida. Recentemente, trabalhou em obras inéditas, expostas na Bienal de Artes Gráficas de Guanlan, na China.
“Maria Bonomi é uma notável artista que explorou as fronteiras das artes plásticas e que deu à gravura a dimensão de escala compatível com a sua visão, sua ética e suas aspirações. Sempre teve uma preocupação com a arte pública, por isso também faz enorme sentido tê-la em um relatório público”, diz Lafer.
Em edições anteriores, a publicação já homenageou Francisco Rebolo, Aldo Bonadei, Lasar Segall, Tarsila do Amaral, Candido Portinari, Anita Malfatti, Arcangelo Ianelli, Tomie Ohtake e Renina Katz.