Fábricante de drone quer duplicar o faturamento
Valor EconômicoFabricantes brasileiros de drones ou veículos aéreos não tripulados (vants) estão conquistando clientes nas áreas de segurança, agricultura e energia. Com as novas encomendas, empresas baseadas em São Carlos (SP) e Porto Alegre (RS) planejam mais do que duplicar de faturamento em 2014. Os robôs voadores podem custar de R$ 40 mil a R$ 400 mil. Para atender à demanda e lançar novos modelos, os empresários planejam ampliações fabris, contratação de funcionários e parcerias para aporte de capital.
Em 2013, o mercado de aeronaves não tripuladas movimentou US$ 5,2 bilhões em todo o mundo, segundo a consultoria americana Teal Group, especializada em indústria aeroespacial. Em dez anos, o setor deve mais do que dobrar, chegando a US$ 11,2 bilhões. No Brasil, os fornecedores pressionam a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para que o setor seja regulamentado.
Em São Carlos, A XMobots encerrou 2013 com 13 aeronaves vendidas. A expectativa para este ano é entregar, pelo menos, 24 unidades. "Estamos conseguindo manter a meta de dois drones vendidos, ao mês", diz Giovani Amianti, diretor presidente. "Já entregamos sete modelos, entre janeiro e março."
Criada em 2007, a XMobots iniciou atividades como uma empresa incubada no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia da Universidade de São Paulo (Cietec-USP). "Graduou-se" em 2011 e transferiu a sede para o interior paulista, atraída pela oferta de mão de obra qualificada, proveniente de universidades como a USP e a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Tem 20 funcionários e conta com mais de 50 colaboradores bolsistas em instituições de pesquisa.
"A primeira vez que ouvi falar em drones foi em 2004, quando finalizava a faculdade de engenharia mecatrônica", lembra Amianti. "Fiquei tão obcecado pelo assunto que passei dois meses, trancado em um quarto, para ler tudo sobre o tema."
Nesse período, ele estruturou um plano de negócios para produzir as aeronaves. Depois, entrou em um curso para aprender mais sobre a tecnologia. Junto com dois sócios, desenvolveu o modelo Apoena, resultado de um projeto de mestrado.
A XMobots faturou R$ 1,5 milhão em 2013 e planeja faturar entre R$ 3 milhões e R$ 4 milhões, este ano. Para dinamizar as entregas, conseguiu da Anac, no ano passado, um certificado de autorização de voo experimental (Cave) para as unidades circularem no território nacional.
A linha de produção entrega dois modelos. A versão de sete quilos pode realizar levantamentos em áreas de até três mil hectares, com autonomia de até 70 minutos e teto de voo de três mil metros. Custa a partir de R$ 140 mil. Já a aeronave de 15 quilos, a partir de R$ 220 mil, é indicada para trajetos em áreas acima de dez mil hectares. Tem autonomia de 5,5 horas. As máquinas levam 60 dias para serem finalizadas.
Os principais clientes da fabricante são universidades, instituições de pesquisa e de preservação ambiental, usinas de cana de açúcar e empresas de topografia e agricultura. Segundo o empresário, os modelos podem atuar em operações de detecção de incêndios, atividades ilegais de extrativismo, além de agricultura de precisão, com a identificação de falhas de plantio e detecção de pragas.
Para atender a demanda, Amianti abre, mensalmente, novas vagas na empresa. "Até o final de 2014, vamos transferir a sede para um espaço maior porque a linha de produção já opera no limite", diz. Também está na agenda lançar uma terceira versão dos equipamentos e embarcar novas tecnologias nas unidades, ainda em sigilo.
A gaúcha SkyDrones produz e vende drones, somente sob encomenda, de até 25 quilos. Segundo o CEO Ulf Bogdawa, a procura aumentou 200% no último ano. A maior parte dos contratos é dividida entre universidades, empresas de segurança, mineradoras e, principalmente, agronegócios. "No mercado de energia, temos um projeto para a inspeção de linhas de transmissão."
O portfólio da empresa oferece quatro modelos, para mapeamentos em 3D e fotografias industriais, e em aplicações específicas, como o cálculo de volumes de extração de mineradoras e operações com câmeras noturnas. "Um equipamento para áreas urbanas, de até 500 gramas, pode ser usado para monitorar manifestações de rua e transmitir imagens, em tempo real, para as centrais de comando", explica. Dependendo do tamanho e aplicação, custam de R$ 40 mil a R$ 400 mil.
Bogdawa fundou a empresa há quatro anos e tem três funcionários, além de designers e engenheiros terceirizados. Ele e os dois sócios já trabalhavam no setor de automação. O negócio faturou menos de R$ 1 milhão em 2013 e a meta é triplicar esse montante em 2014. Para atingir a cifra, o plano é buscar novos parceiros e um aporte de capital que possa capacitar e estruturar a companhia. "Dois novos modelos estão em testes e têm lançamento programado para este ano."
Para o empresário, o setor crescerá ainda mais quando a legislação que controla o setor for finalizada. "Tudo depende da lei. Quanto mais tempo demorar, mais empresas deixarão de existir", afirma ele. A regulamentação pretende definir o espectro de frequências de operação das máquinas e as regras de ocupação do espaço aéreo. Ainda não há data de publicação.
Segundo pesquisas globais, o mercado de drones tem 80% das vendas dirigidas para a agricultura. Mas há novas aplicações em curso. Nos Estados Unidos, a varejista on-line Amazon e a empresa de entregas DHL anunciaram interesse de usar as máquinas para despachar mercadorias de até dois quilos. O mercado imobiliário também tem usado a facilidade para filmar propriedades à venda. Este mês, o Google anunciou a compra da startup americana Titan Aerospace para executar projetos que levam a internet à regiões remotas. Os modelos da fabricante são alimentados por energia solar e podem voar por até cinco anos, sem a necessidade de aterrissar.
No Brasil, grandes empresas como a fabricante de celulose Eldorado, no Mato Grosso do Sul, e a companhia de geração de energia AES Tietê, de São Paulo, já usam unidades não tripuladas para monitorar plantações e áreas de preservação, respectivamente.