Fábrica de cérebros: círculo virtuoso fez São José atrair mentes brilhantes
Semente plantada na década de 1940 explica a ‘bola de neve positiva’ que rola na cidade
O ValeHoje São José dos Campos voa alto e se consolida como uma ‘fábrica de cérebros’, mas tudo isso começou com voos mais baixos e com a aposta em um círculo virtuoso.
Em seu livro 'O que eu vi, o que nós veremos', publicado em 1918, o inventor do avião, Alberto Santos Dumont, diz que é preciso criar uma escola de aviação no país e afirma que, aqui pela região, viu em sobrevoos "áreas planas e extensas, favorecidas por ótimas condições atmosféricas".
Na década de 1940, após visitar o famoso MIT (sigla em inglês para Instituto de Tecnologia de Massachusetts), o então tenente-coronel Casimiro Montenegro Filho decolou em seu avião do Rio de Janeiro, rumo a São Paulo, em busca de uma área em que pudesse ser implantado um projeto semelhante no Brasil. Parou em São José e seus campos.
Da visão de Montenegro Filho nasceram o que são hoje o DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial) e o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), que marcaram o ponto de origem de um círculo virtuoso. Com instituições de excelência e investimentos, mentes brilhantes são atraídas. Isso gera mais investimentos, traz mais profissionais qualificados, em uma bola de neve positiva, que rola sem parar.
“O ITA foi concebido para ter os melhores professores, atrair as melhores cabeças, sem nenhum tipo de limitação, de renda ou geográfica. Você tem vestibular em todo o país. Assim, fica fácil trabalhar”, disse Rafael Rosa, presidente da AEITA (Associação dos Engenheiros do ITA).
Acioli Antonio de Olivo é um dos milhares de exemplos disso. Veio de Santa Catarina em 1975 para fazer pós-graduação no ITA. Depois, atuou durante quatro décadas como pesquisador no Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). “Eu e muitos outros fomos atraídos por essa vocação de São José, graças ao investimento e à visão de muitas pessoas”.
Hoje o ITA segue sendo o principal chamariz, mas não é o único. Só no Parque Tecnológico existem 12 instituições de ensino e pesquisa. “Você já tem um ambiente pronto para a empresa deslanchar. É uma bola de neve positiva, um vai puxando o outro”, afirmou Luiz Leduíno, que coordena o programa de pós-graduação em Pesquisa Operacional da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e do ITA.