23/03/11 11h26

Eztec tem desafio de manter alta rentabilidade

Valor Econômico

O empresário Ernesto Zarzur, de 77 anos, assume para si a tarefa de conduzir a entrevista. É assim que ele faz na Eztec. Os filhos, todos na direção da companhia, pedem licença para interromper o pai - que recheia a conversa com saborosas histórias vividas em mais de 60 anos de atuação no mercado imobiliário. A Eztec é a construtora de capital aberto mais familiar de todas. O grupo controlador tem 70,9% (grande parte é da família) e 27,5% estão no mercado. Enquanto a maioria foge desse tipo de gestão, Ernesto faz questão de reforçar a presença da família - filhos e netos estão nos negócios. A empresa - ao lado de Helbor e PDG - está no seleto grupo de companhias cujo preço hoje está mais alto do que no IPO.

O desafio agora é: no melhor estilo patriarcal, a Eztec consegue se manter como a empresa mais rentável do setor? Como seguir com os inacreditáveis 40% de margem líquida, enquanto a média do setor gira em torno de 15%? Ernesto gosta de caprichar nos preços. Até quando os filhos acham que chegaram ao limite, ele força pelo reajuste. Lançaram um projeto comercial na Vergueiro, depois da Paulista, por R$ 13 mil (US$ 7,65 mil) o metro quadrado. Venderam 85% do empreendimento. Agora, sem pressa de vender, estão cobrando R$ 14 mil (US$ 8,24 mil). A questão é saber se ainda há espaço no mercado imobiliário para novas altas.

A empresa precisa manter essa margem para continuar atuando em São Paulo, onde os preços dos terrenos estão cada vez mais altos. Sempre forte na zona sul da capital, a incorporadora está aumentando sua atuação em outras áreas, como a zona norte. Este ano, por exemplo, a empresa procurou se diferenciar lançando mais no primeiro trimestre - quando a maioria das abertas concentra os lançamentos no segundo semestre. No primeiro trimestre, já lançou cinco empreendimentos, que totalizam R$ 445,7 milhões (US$ 262,2 milhões) em VGV próprio, o que corresponde a 40,5% do ponto médio da projeção para o ano - entre R$ 1 bilhão (US$ 588,2 milhões) e R$ 1,2 bilhão (US$ 705,9 milhões).

A companhia, que sempre atuou no residencial, na média e alta renda, há cerca de três anos começou a vender salas comerciais de pequeno porte. A Eztec defende que o mercado não está saturado, apesar do aumento da quantidade de lançamentos e do preço do aluguel versus o valor cobrado pelo imóvel. Para este ano, a companhia deve lançar 40% de comerciais. No forno, a Eztec tem um empreendimento de seis casas de altíssimo padrão no Ibirapuera, em um terreno que pertencia à família. À espera do "Habite-se" (aval da prefeitura), as casas devem ser vendidas por R$ 12 milhões (US$ 7,1 milhões) cada.

O conservadorismo do grupo reflete-se, ainda, no crescimento moderado. "Não é uma empresa que quer brigar com as grandes", diz uma fonte do setor. Ernesto critica a expansão desenfreada de algumas companhias. "Empresa que dobra de tamanho, perde o controle", diz. A companhia cresce a um ritmo de 20% a 30% ao ano. No ano, o lucro líquido fechou em R$ 243,7 milhões (US$ 143,4 milhões), alta de 49,6%. A receita líquida totalizou R$ 636,4 milhões (US$ 374,4 milhões), aumento de 25,8%. O endividamento reflete o conservadorismo da família Zarzur, que nunca emitiu uma debênture e não toma empréstimo. No fim do ano, a divida era de R$ 57,4 milhões (US% 33,8 milhões) (exclusivos de financiamento à produção).