Exportadores de carne bovina do Brasil esperam 2017 melhor com ajuda dos EUA
ReutersAs exportações de carne bovina do Brasil deverão crescer cerca de 7 por cento em 2017 para 1,5 milhão de toneladas, após ficarem estagnadas em 1,4 milhão de toneladas em 2016, com expectativa de uma recuperação em diversos mercados e crescimento de embarques para os Estados Unidos, previu nesta segunda-feira a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec).
O Brasil e os Estados Unidos fecharam neste ano um acordo que libera o comércio de carne bovina in natura entre os dois países. Os primeiros envios do país foram efetivados em setembro, com volumes simbólicos de 127 toneladas, acelerando para 202 toneladas em novembro.
Mas em 2017 o Brasil, maior exportador global de carne bovina, poderá disputar vendas dentro de uma cota de 64,8 mil toneladas anuais com tarifa mais baixa, que é compartilhada com países como Nicarágua, Costa Rica, Honduras, Irlanda e Chile.
"Em 2017, os embarques para os EUA são melhores", disse o presidente da Abiec, Antônio Camardelli, em encontro com jornalistas, destacando que o patamar de exportações para o mercado norte-americano deve melhorar especialmente a partir do segundo semestre.
O Brasil já vende carne industrializada para os EUA, mas as indústrias miram sempre o mercado de carne in natura, que é volumoso e bastante lucrativo.
A associação também espera colher efeitos indiretos da recente abertura do mercado dos EUA, que inclui a entrada em países que se guiam pelos padrões norte-americanos.
2016 aquém do esperado
O patamar de 1,5 milhão de toneladas previsto para 2017 já foi alcançado em 2013 e 2014, enquanto o volume de 2016 deve repetir o de 2015, de 1,4 milhão de toneladas, ficando bem abaixo da projeção inicial para este ano.
Um ano atrás, a Abiec havia estimado que os embarques de 2016 deveriam crescer 25 por cento, mas os volumes ficaram estáveis devido a dificuldades nas vendas para Egito, Rússia, Irã e Venezuela, países que vivem diferentes crises políticas e econômicas.
Em faturamento, a previsão para 2017 é de 6 bilhões de dólares, ante 5,5 bilhões em 2016 e 5,9 bilhões em 2015.
Para o ano que vem, o dirigente da Abiec assinalou que há indicativos de melhora nos embarques para Rússia e para o Irã, por exemplo.
No caso do Irã, deverá ser uma repercussão ainda relacionada ao fim das sanções ocidentais impostas anteriormente devido ao seu programa nuclear.
A entidade espera que o número de países comprando carne bovina do Brasil cresça em 2017, ante 133 em 2016, devido à perspectiva de abertura de novos mercados.
Coreia do Sul, Taiwan, Indonésia, Canadá, México e Japão são os principais alvos de negociações, porque figuram entre os 20 maiores compradores globais de carne bovina do mundo.
A Abiec estimou que, se todos esses seis mercados prioritários estivessem abertos à carne bovina do Brasil, isso representaria 180 mil toneladas (equivalente carcaça) e 1 bilhão de dólares adicionais por ano em negócios para os frigoríficos brasileiros.
Em alguns casos, como Canadá e México --vizinhos dos Estados Unidos--, o otimismo é maior e uma abertura já poderia ser acertada ainda em 2017.
"México tem um acordo separado (sendo negociado). Para o Canadá, o Brasil está preenchendo um questionário e tem expectativa de visita técnica ainda no primeiro semestre", disse Camardelli. "É a credencial que o norte-mercado americano dá pra gente."
Japão
O Japão, segundo maior importador mundial de carne bovina, tem as negociações mais complexas para abertura de seu mercado, admitiu a Abiec, que não descarta pedir a abertura de um painel na Organização Mundial do Comércio caso as barreiras não sejam levantadas num futuro próximo.
O embarques para o Japão haviam sido suspensos em 2012 após a detecção de um caso atípico de encefalopatia espongiforme bovina, conhecida como "doença da vaca louca" no Brasil.
Há cerca de dez dias o Ministério da Agricultura do Brasil chegou a anunciar que o Japão havia aberto seu mercado para carne bovina processada e in natura do Brasil, mas acabou retratando-se, dizendo que a liberação que está encaminhada é apenas para alguns tipos de carne processada.
Cuidadoso nas palavras e evitando criticar a comunicação do Ministério da Agricultura, Camardelli disse apenas que a liberação da carne processada já era esperada, uma vez que retoma, em linhas gerais, o status anterior a 2012.
"Se sabia que haveria um retorno do que estava antes do achado priônico", disse o presidente da Abiec, referindo-se à descoberta do agente infeccioso quatro anos atrás.
Camardelli disse que as indústrias vão aguardar as negociações em andamento entre autoridades dos dois países, que ganharam fôlego nos últimos meses.
Contudo, o ritmo das tratativas será analisado nos próximos meses. Um pedido de abertura painel de arbitragem na OMC pode ser avaliado, já que o entendimento da associação é de que não há argumentos técnicos para o Brasil não exportar carne in natura ao Japão.
"Não dá pra ficar esperando, se você não tem culpa nenhuma", disse o executivo.