Exportação do campo deve voltar a crescer
Valor Econômico
Investe SPMais competitivo no exterior com o atual câmbio, o agronegócio brasileiro deve exportar mais em 2016. Consultorias projetam aumentos entre 5% e 6% na receita com as vendas externas neste ano, no entanto, ainda insuficiente para anular a amarga queda de 8% a 10% estimada para 2015.
De forma geral, os preços em dólar das commodities agrícolas seguirão pressionados e o diferencial virá dos maiores volumes embarcados, em especial de soja e açúcar. Entre as carnes, o destaque deve ser a bovina. Após cair 10% no ano que passou, a exportação desse produto deve galgar um avanço de dois dígitos. A abertura de mercados importantes, como o chinês, é o fator-chave para essa projeção.
Puxada por soja, carnes e açúcar, as exportações do agronegócio devem alcançar US$ 80,6 bilhões neste ano, estima a consultoria GO Associados, um aumento de 6% sobre 2015 (US$ 76,1 bilhões). A estimativa (que não considera produtos como papel e celulose) prevê importação menor (de US$ 8,8 bilhões, ante US$ 9,1 bilhões de 2015), e um superávit maior, de US$ 71,8 bilhões - US$ 4,8 bilhões acima de 2015. As projeções consideram um câmbio médio para o ano de R$ 4,04 e que a China, principal cliente do agronegócio do Brasil, terá um PIB de 6%.
Para o complexo soja (grão, óleo e farelo), carro-chefe do agronegócio brasileiro, a GO Associados projeta receita externa de US$ 30,2 bilhões, abaixo dos US$ 28,6 bilhões de 2015. Quando se isola o grão dessa análise, a estimativa é de um aumento este ano de US$ 1 bilhão, para US$ 22,5 bilhões, efeito dos maiores volumes embarcados, segundo o diretor de pesquisa econômica da GO Associados, Fábio Silveira.
Apesar de divergirem sobre esse volume, é consenso entre fontes do mercado que os embarques da oleaginosa vão crescer neste ano. Nos cálculos da associação que representa os exportadores, a Anec, serão 57 milhões de toneladas, ante 53 milhões de 2015. Mais conservadora, a consultoria
FCStone prevê 54,5 milhões. A Abiove, que representa a indústria de óleos vegetais do país, projeta 55 milhões de toneladas.
Mas como os preços vêm ladeira abaixo no mercado internacional, devido ao excesso de oferta, a expectativa da Abiove vai de encontro ao da GO Associados, ao prever que os embarques do "complexo soja" (grão, farelo e óleo) vão cair (e não subir). O número da Abiove é US$ 25,2 bilhões, aquém dos US$ 27,381 bilhões previstos para 2015.
O dólar valorizado ante o real, que diminui a competitividade da soja americana, deve seguir contribuindo para o aumento das vendas externas da commodity brasileira, avalia Natália Orlovicin, analista da FCStone. Nem mesmo os temores com a concorrência da Argentina (que reduziu sua tarifa de exportação do grão de 35% para 30%) e com a China devem abalar os embarques do país. "A desaceleração chinesa tem reflexos no curtíssimo prazo, mas no longo, o efeito é gradual".
Em termos percentuais, a Tendências Consultoria projeta movimento semelhante ao da GO Associados para as exportações do agronegócio neste ano: alta de 5,1% em relação a 2015 - em termos absolutos há divergências, devido a diferenças de metodologia. A Tendências calcula para 2016 exportações de US$ 93,4 bilhões, ante os US$ 88,8 bilhões estimados para 2015 - os números do Ministério da Agricultura devem sair semana que vem.
"Há crescimento, mas não uma recuperação efetiva das quedas ocorridas nos anos anteriores", observa a analista da Tendências, Marcela Mello. Ela ressalta que, se as vendas externas se confirmarem em US$ 93,4 bilhões este ano, ainda assim, só serão superiores às de 2010, quando somaram US$ 74,9 bilhões.
Com os preços deprimidos das commodities agrícolas, o cerne das projeções está nos volumes. Entre os destaques está o açúcar. O Brasil é líder nas exportações globais, com metade do volume transacionado no mundo. A combinação de câmbio favorável e cotações internacionais mais sustentadas - diante da perspectiva do 1º déficit global em cinco ciclos - devem fazer os embarques de açúcar crescerem 8,3%, ou 2 milhões de toneladas, para 26 milhões no ano-civil 2016. Em receita, a alta será de 9,3%, para US$ 8,3 bilhões, estima a consultoria Datagro.
No setor de carnes, há expectativa de recuperação dos volumes exportados de carne bovina, depois da queda de 10% em 2015 - reflexo da crise que atingiu importantes clientes, como Rússia e Venezuela.
A China, que reabriu seu mercado à carne bovina brasileira ano passado, tende a puxar os embarques. A associação que representa os frigoríficos, a Abiec, estima que apenas as exportações aos chineses devem render US$ 1,3 bilhão, com um ritmo mensal de embarques de 20 mil a 25 mil toneladas.
Como um todo, a Abiec projeta recorde em volume - avanço de 21%, para 1,7 milhão de toneladas. A receita deve crescer 23%, para US$ 7,5 bilhões. O setor alimenta ainda expectativas com os EUA, cuja abertura para carne bovina in natura é esperada para o segundo semestre. A reabertura da Arábia Saudita também terá seu peso.
Para a carne de frango, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) projeta um aumento de 3% a 5% nos volumes exportados em 2016 frente aos 4,1 milhões de toneladas de 2015, também puxado pelo mercado chinês. Se confirmado, o volume será um novo recorde. Mas há preocupações com os preços, lembra o analista César Castro Alves, da MB Agro. Segundo ele, se ficar confirmado que a gripe aviária nos EUA arrefeceu, o país poderá reverter alguns embargos que sofreu, aumentando a oferta global e pressionando as cotações.
Para as exportações de carne suína, a ABPA calcula crescimento de 2% a 3% em volume, mas não divulga previsão de receita. O avanço, no entanto, depende muito do comportamento da Rússia, que absorve 45% das vendas do Brasil.
No caso do café, a expectativa é de que as exportações continuem a crescer em ritmo semelhante ao do mercado consumidor global, que registra uma taxa de 2% a 2,5% ao ano. Nelson Carvalhaes, presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), pondera, no entanto, que ainda é cedo para falar em percentuais.
Pelas estimativas do Cecafé, em 2015, houve pequeno avanço nos volumes e queda na receita na comparação com o ano anterior, quando o setor exportou 36,4 milhões de sacas, com uma receita de US$ 6,6 bilhões. "O Brasil tem 38% a 40% de market share do consumo global de 150 milhões de sacas de café. Devemos manter essa fatia", avalia.