23/01/19 14h06

Experiência e tecnologia de SP ajudam outras regiões a produzir a laranja

A Cidade ON

A laranja é a fruta mais produzida no Brasil. O país é o maior produtor e o maior exportador da laranja no mundo. Ela está presente em todos os estados da federação e também no Distrito Federal, mas sua principal produção está em um cinturão que vai do Paraná a Sergipe, passando por São Paulo, Minas Gerais e Bahia.

O estado de São Paulo é de longe o maior produtor da fruta, responsável por 78,7% de toda produção nacional de 2017, de acordo com o Censo Agropecuário do IBGE. Ao todo, o país colhe mais de 13,5 milhões de toneladas por ano e está presente em quase três mil cidades do país.

Pensando nisso, uma série de reportagens especais produzida pela EPTV Central mostra como a experiência do estado e também da região como maiores produtores da fruta tem ajudado outras cidades brasileiras que não tem tradição no plantio.

Na região de cobertura da EPTV Central, apenas 15 cidades não produzem a fruta em escala comercial. Enquanto isso, municípios como Casa Branca e Boa Esperança do Sul estão entre as dez cidades que mais produziram laranja na última safra: Casa Branca com mais de 287 mil toneladas e Boa Esperança com mais de 240 mil toneladas. 

A experiência e a tecnologia do estado têm sido importantes para ajudar regiões como o Nordeste, que está começando a investir na fruta. A Bahia foi o estado onde os primeiros pés de laranja apareceram no país trazidas da Espanha pelos portugueses.

Atualmente, a fruta ganhou a mesa do brasileiro por conta do suco e do sabor, mas, na época, a fruta tinha uma missão muito mais nobre: a de salvar vidas de pessoas doentes. "Trazia a expectativa de dar conta de uma doença muito grave, na época, para os portugueses que aqui chegavam, que era o escorbuto, que promovia um inchaço de toda a região da boca e da narina e levava à morte. O melhor combate a isso eram as pessoas que consumiam muita vitamina C", explicou Luiz Fernando Paulillo.

Até hoje, a região que vai do norte da Bahia até o Sul do Sergipe é a que mais tem produtores de laranja no país, com 23.224 mil segundo o IBGE. O número representa quase cinco vezes mais do que o Estado de São Paulo, que tem 4.929 mil produtores.

A região de Rio Real, na Bahia, é uma das que mais concentra produtores de laranja no Brasil. Lá, metade da população vive do cultivo da fruta. "Quem gera o emprego e renda aqui no nosso município? É a laranja. O grande, pequeno e médio. O caminhoneiro, o tratorista, o posto, a casa de adubo, o mercado, o figurista, a farmácia", afirmou o produtor rural Domingo Avila.

Também é comum encontrar pequenos produtores com um estilo de vida simples, lutando para manter vivo o que está plantado há gerações. "Ela passa de pai para filho, de filho para neto. É uma rotina que é dessa forma: todo mundo sobrevive com ela", disse o produtor José Nascimento Oliveira.

"Não tem água o suficiente para regar a laranja e aí é assim desse jeito que a gente vive", comentou a agricultora Rosália Guedes.

"Tem muito sítio grande, com 50 hectares para mais dá para sobreviver tranquilamente. Agora, menos de 10 hectares não dá para sobreviver bem", completou o produtor Eduardo Guedes. 

 

SECA

"O Nordeste está sofrendo com isso: a seca. A chuva esse ano foi de mal a pior", reclamou Roberto Oliveira.

Foram quatro meses de seca, de junho a outubro. Quando a chuva chegou, foi apenas dez milímetros, o que é muito pouco. Esse fator acabou impactando no tamanho das frutas. "Pequena, não cresce. A chuva é pouca, não tem como, não desenvolve. Só Deus na causa", falou Roberto Oliveira.

A safra também sentiu os efeitos: Em Rio Real, a produção caiu de 400 mil toneladas para 270 mil, uma queda de 67,5%. "A pior que a gente tirava antigamente era assim. Hoje, é uma das principais que se tivesse uma carga boa assim a gente estava feliz. Só que a gente não tem. É algumas que a gente encontra aqui e acolá. Hoje em dia vemos uma situação dessa. Aqui ainda está bom, se formos mais para lá é pior", alegou o produtor rural José Nascimento Oliveira. 

 

SÃO PAULO

A falta de chuvas também trouxe prejuízos em São Paulo e em Minas Gerais. A queda foi de 30% em relação à safra passada. É o que aponta a segunda reestimativa divulgada em dezembro pelo fundo de defesa da citricultura. O motivo é a seca do começo da safra. De maio a julho, choveu 36 milímetros, um terço do que devia chover no período. A quebra só não foi maior porque em outubro e novembro o volume foi o dobro da média histórica: 200 milímetros. Com isso, as laranjas voltaram a crescer.

A fruta chegou a São Paulo no meio do século 19 e na década de 1980 já fez do estado o maior produtor mundial. Nessa região, encontrou tudo o que precisava para se desenvolver: acesso à tecnologia, clima e a proximidade com grandes indústrias. Não é à toa que a produtividade por aqui é bem maior.

Enquanto o Nordeste produz quase 685 mil toneladas, São Paulo produz mais de 10,7 milhões de toneladas. Com o acesso à informação e um ótimo mercado de consumo, plantar laranja virou um grande negócio.

Para a família Simonetti, de Aguaí, já são 50 anos se dedicando e colhendo os frutos dessa produção. "Começando com meu bisavô, meu avô e meu pai e agora está na minha geração, a 4ª. Então vamos dizer assim, na minha veia corre suco de laranja", explicou o produtor rural Antonio Carlos Simonetti.

Mas nem todos os produtores conseguiram viver só da laranja. Em 10 anos, houve uma redução de oito mil propriedades paulistas e aos poucos a cana de açúcar passou a ocupar o espaço que antes era de pomares.

Até mesmo em Bebedouro, cidade que ficou conhecida por causa da laranja e enriqueceu em épocas de safras gordas, está difícil encontrar a fruta que virou símbolo da cidade. "Nós fomos obrigados a migrar para outras culturas também para diversificar e tirar a dependência tão grandes que nós estávamos da laranja. Então foi uma forma de seguir em frente", afirmou o empresário Luiz Henrique Gallao.

A família seguiu em frente, mas sem abandonar a laranja. Só mudou de lado: passou de fornecedor para comprador e começou a produzir o suco integral para vender no mercado brasileiro.

"Hoje a citricultura paulista, principalmente, e a do Brasil como um todo é a maior do mundo em extensão e também é a melhor em termos de tecnologia. Isso não só pelas tecnologias de operação, mas tecnologias de combate a doenças, enfermidades e tudo mais", esclareceu o presidente da Fundecitrus, Lourival Carmo Mônaco. 

Depois da região conquistar tantos avanços, chegou a hora de dividir o conhecimento. Muitos produtores do Nordeste têm procurado ajuda de consultores paulistas para aumentar a eficiência do pomar. "Os mesmos resultados que a gente tem em São Paulo a gente está obtendo aqui no Nordeste. Essa é a grande meta nossa aqui. Eles viram produtividades acima de 80 toneladas e é isso que a gente vai buscar. Principalmente nessas áreas novas que estão sendo implementadas agora", falou o engenheiro agrônomo José Hugo Campos de Lima.

"Nós tratamos as flores, temos um cuidado muito grande com a qualidade das frutas e São Paulo tem nos ensinado muito. São Pedro manda chuva e São Paulo manda a tecnologia", completou Gustavo Medina.

São sementes do conhecimento paulista criando raízes também em outros cantos do país. Foi essa a ideia do Cesar, empresário de Conchal, quando decidiu expandir os negócios para o Nordeste há oito anos. Ele foi um dos responsáveis por implementar aqui um sistema de mudas criadas em cativeiro. O processo é todo feito de estufas e consegue assim garantir vários benefícios para o crescimento da planta.

Foi também com a ajuda de um paulista que Gustavo conseguiu resolver o problema das mudas que morriam assim que eram plantadas. "Não há necessidade de replantio. Segundo, o vigor dessas plantar. Elas crescem muito rápido. Terceiro, índice baixíssimo de pragas e doenças. Quarto elas com dois anos já estão produzindo frutos de alta qualidade", contou o engenheiro agrônomo César Graf, que auxiliou Gustavo nessa missão.

E é dessa forma, plantando inovação e cuidando com comprometimento que se colhe a esperança de um futuro ainda mais produtivo. "É um cenário muito otimista. Nós somos ainda uma estrutura virgem, com poucas pragas e doenças. O que me faz acreditar que estou no caminho certo", falou Gustavo.

"Eu quero que meu filho venha, no futuro, a produzir mais coisa do que eu estou produzindo. Eles têm um futuro pela frente", ressaltou José Nascimento Oliveira.

"Se tem alguém fazendo e está dando certo, qualquer um pode fazer. O importante é você fazer, não importa a quantidade. Tudo o que eu faço nessa vida eu acredito. E com muito desafio", finalizou Domingo Avila. 

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