29/03/10 11h43

Euforia cria corrida por aquisições no País

O Estado de S. Paulo

A Teuto não desperta só o interesse da Pfizer. Pelo menos outros dois laboratórios participam da mesa de negociações. A britânica GlaxoSmithKline é um deles. A empresa tem se esforçado para entrar na área de genéricos no País, um segmento que cresce 23%, contra 14% do mercado de medicamentos em geral. No ano passado, a multinacional sondou, sem sucesso, a brasileira Aché com a intenção de uma aquisição. Por meio de sua assessoria de imprensa, a Glaxo afirmou que "está sempre aberta a oportunidades de negócios" e que "tem conversado, sim, com várias empresas".

A Aché também está na disputa. Nesse caso, os atrativos da Teuto são um grupo de cerca de 100 registros de moléculas na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) - nesse grupo, algumas devem vingar e se tornar medicamentos nos próximos anos - e o modelo de distribuição pulverizado entre pequenas farmácias de bairro. Procurado, o Aché informou que "está sempre atenta a oportunidades de mercado".

A disputa pela Teuto é um símbolo do atual momento de euforia do setor farmacêutico, em que as estrangeiras querem aumentar sua presença no País e as nacionais, fortalecidas na última década com o crescimento dos genéricos, defendem-se desse avanço. "Com a crise financeira, os maiores mercados de medicamentos do mundo estão estagnados", afirma o presidente do Sindusfarma (Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos do Estado de São Paulo), Omilton Visconde Jr. "O aumento do consumo fez com que as oportunidades de crescimento se concentrassem no BRIC. E o Brasil, por ter uma regulação sanitária e uma lei de patentes mais sofisticadas, é o mais atrativo."

Segundo a consultoria IMS Health, no ano que vem, o mercado farmacêutico brasileiro vai ultrapassar o da Inglaterra, enquanto os chineses comprarão mais remédios que franceses e alemães. Trata-se de uma inversão na lógica dessa indústria, em que os países em desenvolvimento sempre ocuparam uma posição marginal. Hoje, o grupo de 15 maiores farmacêuticas do mundo - incluindo Pfizer, Merck e Eli Lilly - tem menos de 10% de suas vendas originadas em países emergentes. Se quiserem crescer, porém, as empresas terão que revisar sua estratégia. Em 2013, o grupo de 17 países emergentes deve trazer vendas adicionais de US$ 90 bilhões - ou metade do crescimento do setor.

A compra da Medley pela francesa Sanofi-Aventis, há um ano, foi emblemática. O laboratório de Campinas foi alvo de interesse de fundos de investimento, como o Advent, laboratórios locais como o Aché, e multinacionais como a Teva. A Sanofi saiu vencedora depois de pagar R$ 1,5 bilhão (US$ 761,4 milhões). "Para a Sanofi, o Brasil é estratégico. Emergente é pouco", afirma o presidente da filial brasileira do grupo, Heraldo Marchezini. O mercado brasileiro é o sétimo maior do mundo para a Sanofi-Aventis e deve subir mais duas posições até 2011. O País abriga o segundo maior parque fabril da empresa fora da sede, na França.